O Enslaved (trad.: escravizado) foi formado em jul/91 por Ivar Bjørnson e Grutle Kjellson, quando ambos tinham apenas 13 e 17 anos, respectivamente. O nome da banda teve inspiração numa demo do Immortal, "Enslaved In Rot" (nós já destacamos-a - leia aqui). Aliás, antes de formarem o Enslaved, a dupla já vinha tocando numa banda de Death Metal chamada "Phobia", mas eles também estavam procurando novas fontes de inspiração e expressão, como muitos no crescente movimento do Metal extremo. Embora o Enslaved tenha começado como uma típica banda de Black Metal norueguês em 1991, logo eles passaram a incorporar estruturas de canções não usuais para o gênero. Então, no início na cidade de Haugesund, Noruega, a banda era um trio: Ivar Bjørnson (guitarras e teclados), Grutle Kjellson (baixo e vocais) e Trym Torson (Kai Johnny Mosaker, na bateria).
A primeira demo tape (limitada a meras 50 cópias) chamou-se "Nema" ("amen", de trás para frente) surgiu quando eles tinham cerca de seis meses tocando juntos (em dez/91). Eles entraram um pequeno estúdio de oito canais e a gravaram (planejada para ser um produto promocional continha 2 faixas misturando Black e Death Metal, mais um monte de estranhos experimentos em sintetizadores). Capa em xérox, som péssimo, sem mixagem. Em jun/92, eles gravaram uma segunda demo tape, "Yggdrasill". Como diversas bandas da cena norueguesa, o Enslaved deixava claro o início no Death Metal, mas foram progredindo. Nesta demo, a velocidade era maior e eles explicitavam influência do Mayhem e do Burzum. Ótimos riffs, muitos synths (algo às vezes excessivo), canções longas, vocais já mais Black, primitivismo, mas era uma fase de formação de um som e um estilo próprio.
Em mai/93, eles soltaram um histórico EP (12") pelo selo Candlelight Records chamado "Hordanes Land". Claro, comparado com o que ainda viria pode até soar arcaico, mas está ali um pedaço da história do Metal norueguês. Já amplamente Black Metal, atmosfera incrivelmente fria, escura e épica, demonstrando evolução de produção em relação ao som insanamente cru de "Yggdrasill", melhores performances e composições, som áspero, agressivo, poderoso e monumental. Os teclados sempre com destaque, acrescentando escuridão. Violões, vocais cantados em norueguês, um balanço entre partes rápidas e lentas, algumas canções bem longas ("Slaget i skogen bortenfor" com 13 minutos!), mudanças de ritmo, arranjos interessantes... um clássico do Black Metal. Em jun/93, eles participaram de um Split (álbum dividido entre 2 bandas) com o Emperor. No lado do Enslaved, tínhamos o "Hordanes Land". Ambas bandas eram jovens e iniciantes então e estavam no processo de encontrar sua própria identidade.
Então, em fev/94, surgiu o álbum de estreia, "Vikingligr Veldi" (que significa "Glorious Viking Square") pelo selo Deathlike Silence Productions (tocado por Euronymous, que foi assassinado antes do lançamento do álbum - o disco é dedicado a ele - já contamos esse história - leia aqui). Apesar de serem noruegueses, as letras tratavam muito de temas da Islândia (por causa da antiga origem nórdica). Na capa, o capacete de Sutton Hoo (localidade perto de Suffolk, Inglaterra, onde em 1939 foram descobertas duas necrópoles dos séculos 6 e 7, DC, com vários artefatos da arte anglo saxônica) pertencente ao rei Raedwald, da antiga "East Anglia". Ivar Bjørnson só tinha 15 anos quando da gravação desse disco. Eram apenas cinco faixas que demonstravam que o Enslaved estava já pronto para levar o Black Metal à frente, mesmo com a chocante morte de Euronymous. E mais: a banda dedicava-se a criar um Viking Metal voltado a recontar as lendas norueguesas e velhas tradições/folclores (deixando de apenas atacar o Cristianismo). Todas as letras eram escritas em formas antigas de norueguês ou islandês e muitas melodias vinham da música Folk escandinava. Ou seja, um Black Metal viciante, acelerado e Viking. Épico ao extremo (quatro de suas cinco canções tinham mais de 10 minutos cada), melodias circulantes em loops infinitos, repetindo riffs e synths, construindo lentamente grandiosas canções cheias de inesperadas inserções e quebras. Nem era tão violento, era mais algo atmosférico e contemplativo, mas que teve crucial importância no gênero Black Metal. Talvez, até por tudo isso, a banda tenha rejeitado o rótulo "Black Metal" e preferido o termo "Metal Extremo".
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| Trym Torson, Grutle Kjellson, Ivar Bjørnson |
Lançado poucos meses depois, em ago/94, "Frost", o segundo disco, representou outro passo criativo enorme à frente. Tematicamente, eles evocavam deuses nórdicos e batalhas apocalípticas. Musicalmente, teclados espaciais faziam introduções sinistras para um Black Metal feroz e furioso, radical e quase indecifrável. Havia um contraste entre "Frost" e "Vikingligr Veldi": enquanto a estreia era mais pompa Viking e até meio Prog, neste novo trabalho os caras desciam a borduna no mais puro Black Metal. Sob esta ótica, era uma devolução, algo mais tradicional, até mais agressivo, sem orquestrações gigantescas (apenas synths fazendo drones), mais direto, cru, misturando ritmos intrincados com os temas nórdicos. O baterista Trym Torson merece um destaque. Sim, havia algumas excentricidades e esquisitices: subtons acústicos, vocais tipo coro de guerreiros, interlúdios e uma relativa claridade de atmosferas. "Frost" é considerado o melhor disco dessa primeira fase do Enslaved, sem dar ideia do que eles fariam após a virada do milênio (tema de uma futura coluna).







Isshhhh, esse movimento extremo do metal nórdico é barra pesada. Seguidores (público e até membros de banda) costumam ser fanáticos e agressivos a ponto de incendiarem igrejas ou até matarem quem não for adepto de suas ideologias e crenças. Não sei se essa banda integra essa linha, mas trata-se de um movimento feroz existente no extremo norte da Europa, que já contabiliza dezenas de tempos queimados e muitas histórias de assassinatos e sacrifícios.
ResponderExcluirRé-ré-ré... O lance de queimarem igrejas foi mais com o pessoal do Burzum (Varg Vikernes queimou 4), Emperor (cujo guitarrista Samoth foi sentenciado por 6 meses), Hades (cujo guitarrista Jørn Inge Tunsberg também passou 2 anos na cadeia), Faust, baterista do Emperor, foi outro que junto com Euronymous do Mayhem e Varg Vikernes do Burzum tentaram detonar uma bomba numa igreja (quando o artefato falhou, eles tacaram gasolina em tudo e incendiaram-na). Gaahl do Gorgoroth escandalizou e ficou famoso ao declarar no doc "Metal: A Headbanger's Journey" que apoiava 100% a queima de igrejas e que deveriam ter queimado mais e que eles continuarão no futuro, até que consigam remover todo traço de Cristandade e Semitismo no mundo.
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