sábado, 8 de julho de 2017

O lixo musical que assola o Brasil

Pelo jornalista Luiz Antônio Mello (Flu-FM).
Nunca antes na história deste país a música popular foi tão pífia, escroque e vagabunda. Reflete o cenário nacional de uma maneira geral e o cultural em particular. Com o fim do mercado do disco formal também desapareceram os críticos musicais que, direta ou indiretamente, eram um ponto de referência.

Os críticos musicais (eu me incluo) foram banidos junto com a radical dieta calórica/encefálica imposta pelos empresários da mídia aos suplementos culturais, hoje reduzidos a pequenos bidês frequentados por neófitos (saem bem mais baratos) que descarregam o seu asneirol vago.

Há pouco tempo tínhamos uma indústria polêmica mas que fazia a seleção dos artistas que iam gravar. Produziam seus discos que chegavam aos críticos, rádios, TVs. Os críticos opinavam sobre o que prestava e o que não prestava. As rádios sérias tocavam o que achavam que tinham a ver com o seu perfil, enquanto que muitas tratavam do assunto via jabá, cobravam grana viva-ou viagens-ou carros- ou etc para tocar as músicas de interesse das gravadoras.

É lógico que muita gente ignorava os críticos e suas opiniões, mas pelo menos os tinha disponíveis. As rádios, nas coxas ou não, apresentavam a seus ouvintes as novidades. Enfim, a cadeia industrial da música beneficiava, sim, o consumidor final. Você que lê esta coluna e pegou essa época, quantos artistas conheceu pela crítica e pelo rádio?

Hoje não há mais referência alguma. A crítica foi substituída por placebos que não conhecem música, nem jornalismo e, ainda por cima, escrevem mal. Vomitam ignorância, futilidade e asneiras em canais do You Tube, blogs e similares. As rádios em FM estão no fim e, em vez de investir no novo preferem atacar de flashbacks por uma razão muito simples: a função de produtor e programador, um exímio conhecedor de música que selecionava o que as rádios iam tocar, também foi pulverizada.

A internet virou a grande mídia. E não adianta cacarejar sem sentir dor porque a internet será a ordem do dia por pelo menos mais um milênio. A quem discorda, sugiro um pijama listrado e um canário na gaiola e papo na pracinha passando a mãe na bunda das babás. A WWW é maravilhosa, minha amante 24 horas por dia. Surgiu com a proposta de liberdade absoluta, total. Mas, como um disco de vinil, tem seu lado B. A internet inventou a música por streaming e degolou a indústria do disco. A internet substitui rádios por tocadores de música que não apresentam conteúdo falado. Você ouve mas não sabe o que está ouvindo porque, na maioria dos casos, não há quem explique.

O cotidiano me põe em contato direto com as novas gerações e seus iPads, smartphones e players como o Spotify, onde estão 40 milhões de musicas. Se no passado o Brasil exportou Bossa Nova, Tropicália, Carmem Miranda, hoje defeca Anitta, Ludmilla, Wesley Safadão. Em festas que as novas gerações frequentam, só dá funk, um cupim auditivo chamado sertanejo universitário e pagodagem gourmetizada. Nas ruas idem. Na TV, idem. Ora, para as novas gerações, essa é a única nova música disponível no planeta, massacrada pela grande mídia via programas como Esquenta, Altas Horas e outros moedores culturais.

Merdalhal. 

Retirado do site http://colunadolam.blogspot.com.br/2017/07/o-lixo-musical-que-assola-o-brasil.html

6 comentários:

  1. Amigo concordo com você em parte. No meu entendimento, a mídia musical deveria dar espaço para todos os estilos de músicas, o problema está na imensa predominância que é dada a estilos de músicas de baixo conteúdo.

    ResponderExcluir
  2. Na minha opinião o problema não é existir músicas ruins (até porque a gente precisa dar risada). O problema é que cada vez mais as músicas e "artistas" são incapazes de fazer músicas com profundidade, crítica social, pois nós tempos atuais a superficialidade, o marketing (geralmente vestido de engajamento) e a banalização das mídias fizeram tudo perder o filtro e ao mesmo tempo a naturalidade. Ainda temos que levar em conta que o politicamente correto e toda a neurose e monitoramento (cancelamento) que ele traz aniquilou a liberdade de criar e se expressar. A grande maioria dos "artistas" atuais são padronizados e fabricados.

    ResponderExcluir
  3. Matéria corajosa e diferenciada. Parabéns.
    O repertório vazio, superficial e meramente comercial deixa a arte em último plano (sem falar na falta de originalidade, duplas fabricadas em série, etc). Pior ainda quando vemos músicas e clipes reduzidas a pornô (não sou moralista, mas acho que pornô tem site e local específico pra isso, não o mainstrain). Vemos principalmente no hip hop americano uma quase bestialização com letras tão porcas, degradantes vendidas como algo positivo, mas que só reforça estereótipos ruins.
    O que a grande massa consome é baixaria gratuita, enaltecimento da burrice, e ostentação, e isso é o que vende bem (e uma juventude alienada que aplaude e chama isso de "liberdade").
    Artistas que fazem arte de verdade (famosos ou não) não encontram espaço nesse nicho podre.

    ResponderExcluir
  4. Além disso são essas fezes que perturbam os dias e as noites das pessoas de bem que não conseguem trabalhar no home office. São essas fezes que vulgarizam as mulheres e poluem as mentes dos jovens, dos jovens e mesmo de bebês. Trabalho em creche e vejo crianças sendo ensinadas a "dançar" na boquinha da garrafa. A música que era poesia, cultura hoje se tornou estrume. Estrume esse apoiado pelo poder público que também é exclachado como direito a "liberdade e expressão". Infelizmente me sinto envergonhado por ter que "engolir" esse lixo todo.

    ResponderExcluir
  5. Pois é...
    Gravadoras, emissoras sabem capitalizar o mau gosto e a idiotização das massas, e "artistas" que não fazem arte nenhuma são enaltecidos pelo que faturam em cima disso e não pelo talento ou valor.
    Matéria incrível.

    ResponderExcluir

Comentários são bem vindos, desde que respeitosos da opinião alheia e sejam construtivos para o debate de ideias.