terça-feira, 25 de julho de 2017

Ten Years After: Blues Rock inglês liderado pelo virtuoso Alvin Lee e mais conhecido por sua lendária apresentação no Woodstock (parte 3 e final)

Com o Ten Years After separado, Alvin Lee (que sentia-se limitado pelo estilo da banda e não aprovava a linha mais Pop que a Columbia Records vinha lhes impondo - sua preferência era manterem-se no Blues-Rock) passou a dedicar-se a sua carreira solo. Ele já havia, então, gravado "On The Road To Freedom" (de 1973, junto com Mylon LeFevre mais convidados - George Harrison, Steve Winwood, Ron Wood e Mick Fleetwood - mais na praia do Country Rock) e "In Flight" (um LP duplo de 74, creditado a Alvin Lee & Co, gravado ao vivo no Rainbow Theatre junto com um grupo de amigos - algumas canções novas, muitos covers e Lee procurando demonstrar outras habilidades como seu canto e capacidade de compor). Após a separação do TYA, soltou "Pump Iron!" (de 1975), um bom disco, mas bem diferente do Blues-Rock que lhe trouxera fama. A ênfase curiosamente não estava nos solos e sua guitarra assumia um jeitão suave, limpo e maduro (Alvin Lee também participou do álbum "The Session... Recorded In London With Great Artists", de Jerry Lee Lewis, lançado em 73, que contou com outros convidados como Albert Lee, Peter Frampton e Rory Gallagher - ele também tocou guitarra em duas canções do álbum "The 20th Anniversary Of Rock'n'Roll", de Bo Diddley). "Let It Rock" (de 78) foi outro trabalho suave, tranquilo, cheio de baladas e Blues. Aparentemente, Lee mostrava-se cansado do papel de "Deus da guitarra" e procurava variedade e novos caminhos. Apesar do título, a linha escolhida era bem outra, fugindo totalmente de qualquer coisa minimamente parecida com "I'm Going Home".
Ele fechou os anos 70 com um grupo chamado "Ten Years Later" composto por Tom Compton na bateria e Mick Hawksworth no baixo. Juntos eles lançaram dois álbuns: "Rocket Fuel" (de 78) e "Ride On" (de 79). O primeiro contou com 2 tecladistas (Bernie Clarke e Mick Weaver) e um som quase Hard Rock. Mas onde o TYA era uma banda encorpada e que funcionava como um todo, esse TYL era mera banda de apoio de Lee. Pior: boa parte do repertório era oco e broxante. O lado B era melhor com dois Blues-Rocks dos bons ("Ain't Nothin' Shakin'" e "Baby Don't You Cry"), além de um experimento Art-Rock de 10 minutos. O segundo álbum veio com o lado A ao vivo e o lado B em estúdio. Não são discos considerados como excelentes, nem essenciais, longe disto. Mas eram bem energéticos e genéricos (há algo de Lynyrd Skynyrd neles). Com esta banda, ele excursionou pelos EUA e Europa.
Em 1980, surgiu "Freefall", da então Alvin Lee Band (Lee, Steve Gould em vocais/guitarras, Mickey Feat no baixo e Tom Compton na bateria). O problema era que o disco trazia bons Rocks de meio tempo, até contagiantes, mas no geral era um som tipo Foreigner, sem personalidade, e tudo tinha mais a ver com o vocalista Steve Gould (ex-Rare Bird). Sim, em alguns momentos, Lee parecia acordar e nos brindava com ótimas guitarras e vocais energéticos. Noutros, havia floreios de metais e um ótimo órgão à cargo de Al Kooper. O potencial da banda era evidente, mas era deprimente ver Lee tão domesticado em meio a tantas baladas AOR. Não era ruim, mas faltava coesão e unidade. "RX5", de 81 e com o mesmo pessoal (e uma capa feita por Derek Riggs, famoso por seu trabalho com o Iron Maiden), seguiu essa carreira solo tão irregular. Às vezes, a coisa beirava o constrangedor (como na faixa de abertura, "Hang On" e no cover "Nutbush City Limits"), mas em outros momentos surgiam ótimos solos (como em "Fool No More", "Rock'n'Roll Guitar Picker" e "Dangerous World"). "Detroit Diesel" (de 86) seguiu nessa mesma linha, mais variada e não tão marcante. Havia bons momentos novamente, mas velhos fãs se ressentiram da velha e impressionante demonstração de técnica na velocidade da luz de outrora. O Ten Years After original se reuniu em 1988 para alguns concertos pela Europa e para gravarem seu primeiro álbum em 15 anos (na realidade, houve uma reunião anterior, em 83, no Reading Festival - estava performance depois foi lançada em CD como "The Friday Rock Show Sessions - Live At Reading 83").
"About Time", lançado em ago/89, seria o último disco de estúdio gravado com Alvin Lee. Sem uma razão realmente forte para não voltarem, essa reunião era até meio previsível. Eles apenas haviam se cansado e sentido-se desgastados. Como a carreira solo de Alvin Lee nunca realmente decolara, animaram-se. A ênfase, claro, foi no bom e velho R'n'R. Nada experimental, nada de New Wave, nada de Synth Pop, mas não anime-se tanto. A maioria das canções era até decente, mas esperava-se mais. E a produção à cargo de Terry Manning era totalmente oitentista (aquela coisa robotizada e cheia de efeitos de teclados). Então, era realmente uma pena perceber que podia ter sido diferente. Eles não estavam gravando aquilo para cumprir contrato com gravadora, mas apenas por que eram amigos de juventude e se curtiam. Alguns bons riffs, poucos solos decentes, alguns vocais e energia, mas a única faixa que soava como o velho TYA era "I Get All Shook Up". Todo o resto era contaminado pelas influências dos anos 80 (algo como o que aconteceu com o ZZ Top). Eles se separaram de novo. Ric Lee formou uma produtora para cuidar de gravações, empresariamento e direitos musicais de artistas. Leo Lyons tornou-se gerente de estúdio para a Chrysalis Records (e gravou com o UFO, entre outros), antes de montar seu próprio estúdio comercial. Chick Churchill gravou um álbum solo em 74 ("You And Me") e tornou-se empresário da Chrysalis, antes de fundar sua própria produtora.
Em 2001, enquanto Ric Lee preparava a discografia do TYA para relançamento remasterizado, ele descobriu as fitas de um show no Fillmore East, em 1970. O lançamento dessas gravações espetaculares da banda em seu auge levou a uma reaproximação, mas Alvin Lee declinou do convite para shows. O resto do grupo topou e resolveu excursionar com o guitarrista/cantor Joe Gooch. Esta nova encarnação então gravou os álbuns "Now", em 2004, e "Roadworks", um CD duplo ao vivo, em 2005. "Now", uma blasfêmia aos olhos dos velhos fãs (afinal, não haveria TYA sem Alvin Lee), até era um disco regular. Gooch se encaixava bem com sua boa voz e conseguia entregar ótimos riffs, conseguindo inclusive uma renovada na banda. Com um repertório focado e coeso na maior parte, o som clássico mantinha-se, embora um pouco mais refinado e maduro que no passado selvagem. Guardava mais semelhança com os álbuns deles dos anos 70 (com influências de Bad Company, Lynyrd Skynyrd, Thin Lizzy). "Roadworks" trouxe a química entre Gooch e seus três parceiros veteranos sobre os palcos. Aliás, foi o primeiro ao vivo do TYA a trazer uma versão para o hit "I's Love To Change The World". Confortável na posição, Gooch era ainda assim bem diferente do Alvin Lee. Onde Lee tinha o Blues como referência primeira, Gooch trazia o Classic Rock. Puristas, claro, horrorizaram, mas não dava para negar a energia e determinação. Essa formação ainda lançaria "Evolution", em 2008, um álbum de estúdio basicamente com mais do mesmo em relação à "Now". Infelizmente, Alvin Lee morreria em mar/2013 aos 68 anos por complicações advindas de uma cirurgia, num caso mal contado. 

4 comentários:

  1. Triste, lamentável e inexplicável a morte de Lee, que parecia acomodado, havia engordado horrores, mas sempre existia aquele fio de esperança de vê-lo de volta com seus parceiros de TYA, tocando os clássicos dos velhos tempos. Era um dos guitar heroes que eu alimentava desejo de ver ao vivo.
    Por gostar muito deles, há alguns anos resolvi pesquisar e investir em alguns álbuns que no passado havia desprezado. E até me surpreendi positivamente.
    O Rocket Fuel eu comprei nos EUA durante meu intercâmbio, meio que por acaso. Como já era fissurado na banda e no guitarrista, não pensei duas vezes quando vi o disco na prateleira de um supermercado. Não tinha muitas informações a respeito da banda na época, nem sabia que existiam outros álbuns solo dele ou de bandas que ele formou sem os membros do TYA. Aliás, nem sabia que o TYA havia se separado. Acho-o muito bom (o Rocket Fuel). E foi pensando nele que resolvi ir atrás dos outros. Consegui On the Road to Freedom, In Flight e Pump Iron, pra mim apenas razoáveis e inferiores ao álbum de 78, o que me desanimou correr atrás dos outros.
    Já fase com o guitarrista Joe Gooch achei interessante, tenho um dos álbuns, não me recordo agora qual deles. Tá, é sem Lee, mas é um ótimo disco de rock. Ele canta bem e toca muito, teve a benção de Lee para substituí-lo. Mas podemos dizer que é um outra banda, e não o TYA, apesar de Lyons, Churchill, Rick fazerem parte. Guardadas as devidas proporções e diferenças sonoras, é uma espécie de Sabbath sem Ozzy.

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  2. Já que os álbuns de estúdio do TYA nunca foram considerados "clássicos" (por causa da irregularidade do repertório) e devido ao fato deles nunca terem conseguido transpor a energia dos shows para as gravações de estúdio, é de se estranhar a existência de tão poucos discos ao vivo. Apenas "Undead" (de 68, antes do sucesso), "Recorded Live" (de 73, mas na verdade uma compilação ao vivo), "Live at the Fillmore East 1970" (disparado o melhor deles), "Live 1990" (um show da turnê "About Time") e "Roadworks" (de 2005, comentado acima). Mais um aspecto estranho.

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  3. Meu favorito em estúdio deles é o "Ssssh". Qual é o seu Marcão?

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  4. O mesmo. Mas gosto também muito do primeiro. Mas Ssssh é disparado o melhor.
    Engraçado. Eu achava que eles tinham muitos discos ao vivo, e imaginava ser por causa da fama de sempre serem melhores ao vivo.
    Tenho o Undead, que é muito bom e o Recorded Live, também excelente, só não sabia que era uma compilação ao vivo, achava que era álbum de turnê ou coisa parecida. O Fillmore 1970 e o 1990 eu nem sabia da existência.

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