quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Robin Trower: um dos principais guitarristas do Rock e seu Blues psicodélico (parte 1)

Ao longo de sua longa e sinuosa carreira solo, o guitarrista Robin Trower teve que suportar incontáveis comparações com Jimi Hendrix devido à sua habilidade de canalizar a psicodelia e o Blues de Hendrix via Fender Stratocaster. Nascido em 9/mar/1945, em Catford, Inglaterra, Trower passou o início dos anos 60 tocando em várias bandas londrinas, a mais bem sucedida sendo o grupo de R&B chamado "The Paramounts", especializado em covers (nós já contamos aqui esta história na série de postagens contendo retrospectiva sobre o Procol Harum). Mas foi em 1967, quando entrou para tocar no Procol Harum que Trower conseguiu dar o salto. A banda já tinha conseguido um gigantesco e mundial sucesso com "A Whiter Shade Of Pale", porém com seu líder, o cantor/pianista Gary Brooker, não possuindo um banda de verdade por trás. Brooker havia sido companheiro de Trower nos Paramounts e ofereceu a vaga de guitarrista para seu velho chapa. O resultado foi que Trower participou dos álbuns clássicos do Procol Harum ("Procol Harum", de 67; "Shine On Brightly", de 68; "A Salty Dog", de 69; "Home", de 70 - que trouxe a popular canção de Trower, "Whiskey Train" - e "Broken Barricades", de 71). Mesmo com o Procol Harum tendo sido a plataforma de lançamento de sua carreira, Trower percebeu que era um espaço limitado para sua guitarra e eventualmente decidiu por seguir solo.
Convocando o cantor/baixista James Dewar e o baterista Reg Isidore (que logo seria substituído por Bill Lordan), Trower montou seu trio e gravou um álbum de estreia, "Twice Removed From Yesterday", lançado em mar/73. Não deu outra: foi a primeira evidência de que o som da Fender Stratocaster de Jimi Hendrix podia ser efetivamente replicado e até mesmo refabricado. Como Hendrix, Trower havia enfrentado bons anos nas estradas participando com músico num monte de bandas e o Procol Harum, a banda que lhe deu visibilidade, tinha ênfase muito no som majestático do órgão e piano, deixando as guitarras num segundo plano. Após deixar o Procol Harum, Trower experimentou tocar com diferentes músicos e testou ideias por dois anos, o que embocou no lançamento de "Twice Removed From Yesterday", um disco que mostrava as características que fariam de Trower um guitar hero e uma atração musical do primeiro time dos anos 70. Ele desenfatizou o fuzz, o feedback e a distorção de Hendrix e colocou o reverb de sua Stratocaster na posição central e dominante. Trower não era tão extravante quanto Hendrix, nem tão raiz quanto Eric Clapton, nem tão imprevisível quanto Jeff Beck, mas podia tocar limpo, enfatizando notas singulares e efetivas, colocando melodia e criatividade no Blues elétrico. A coisa funcionava bem demais nas faixas mais lentas e sombrias como em "Daydream" e "I Can't Wait Much Longer", nas quais seus solos se destacavam por cuidadosa estrutura e melodia. A intrigante canção título, uma verdadeira pérola do Rock psicodélico dos anos 70, demostrava que Trower era ainda um ótimo compositor. No entanto, as melhores características de "Twice Removed..." se desabrochariam totalmente mesmo no álbum seguinte, "Bridge Of Sighs", deixando para esta estreia provar a efetiva capacidade de Trower de interpretar o som de Hendrix, diferentemente de uma legião de meros imitadores. "Twice Removed..." nem deu sinal nas paradas dos EUA, mas isto logo mudaria. "Bridge Of Sighs", de abr/74, soou estranhamente similar com as últimas gravações de Hendrix (especialmente, seu "Electric Ladyland", de 68) e capturou os fãs de Rock que ainda se recuperavam da morte do seu ídolo. O resultado foi um sucesso avassalador com o álbum entrado no nº. 7 das paradas norte-americanas. Até hoje, é considerado seu álbum mais impressionante, representativo e consistente. Misturando óbvias influências hendrixianas com Blues e psicodelia, adicionando os vocais imensamente cheios de Soul de James Dewar, Trower empurrou os limites do conceito de "power trio" para refrescantes novas águas. O conceito funcionava bem demais na primeira faixa, "Day Of The Eagle", onde o riff de abertura se metamorfoseava em acordes viajantes que exatamente caracterizavam a espetacular faixa-título. Os sons folheados, fluídos e soltos, e até nostálgicos, com sutil uso do "wah-wah" combinavam com os vocais encharcados de Soul e Whisky de Dewar levando baladas como "In This Place" para as órbitas. "Too Rolling Stoned", outro destaque (e faixa muito coverizada) acrescentava um balanceado latejante e sutil ao conjunto, mudando ritmos, base contundente sobre a qual Trower despejava sua guitarra mercurial. Um dos poucos álbuns de Trower sem qualquer faixa fraca, "Bridge Of Sighs" se mantém até hoje como uma obra-prima, a coroa das joias da comprida e inconsistente discografia do guitarrista. 
(continua)

Um comentário:

  1. Bacana, uma série desse grande guitarrista. A fase inicial dele em carreira solo é sensacional. Eu achava que começava com Bridge of Sights, nem sabia da existência de Twice Removed From Yesterday (???)...lá vai barão!!!

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