terça-feira, 5 de setembro de 2017

Robin Trower: um dos principais guitarristas do Rock e seu Blues psicodélico (parte 3 e final)

Uma curta união com o baixista/vocalista Jack Bruce (ex-Cream) levou ao lançamento de dois álbums, "B.L.T." (de 1981) e "Truce" (de 1982). Embora seja um lançamento oficial de Robin Trower, "B.L.T." uniu Bruce, o baterista Bill Lordan e Trower em pé de igualdade. Na capa, sanduíche de bacon, alface e tomate (mas se você olhar bem de perto, o bacon era cru). Mais correto seria chamá-lo de projeto "Jack Bruce/Robin Trower" com Bill Lordan. Todos os vocais eram de Bruce, enquanto a produção era de Trower. Com letras de Keith Reid (o letrista e amigo do Procol Harum) e momentos como "Won't Let You Down" (uma das melhores canções em toda a carreira de Bruce e também na de Trower, uma maravilha sutil, linda e perfeita). "Into Money", "What It Is" e "No Island Lost" eram interessantes porque pegavam o conceito da banda West, Bruce & Laing e o levava mais ainda para dentro do território do Prog-Rock, local onde todos ali se sentiam bem confortáveis. Fãs de Trower sedentos de vê-lo encarnando Hendrix, sentiram-se refestelados com "No Island Lost", uma combinação de riffs inspirados em "Voodoo Chile" com os vocais celestiais de Bruce, mais o guitarrista abrindo sua caixa de ferramentas e destroçando as seis cordas. Exceto por "End Game" e "Won't Let You Down", todas as faixas ficavam dentro dos 3 minutos. As letras de Reid funcionavam perfeitamente enquanto a música era tremenda (um destaque na discografia de Bruce). A única escrita só por ele, "Life On Earth" se encaixava perfeitamente no restante. "Carmen" era outra faixa absolutamente assombrosa, fazendo desse "B.L.T." um daqueles discos perdidos e preciosos que verdadeiros fãs devem procurar (haja grana!). "Truce" foi o segundo desses álbuns com Jack Bruce. Gravado em dois dias intensos (e com Reg Isidore na bateria), o trabalho vai do Blues-Rock ao Hard Rock e ao Prog-Rock (e até um pouco de Funk e Soul), sem nunca perder foco. O virtuosismo dos músicos envolvidos fica claro com precisão à laser: Bruce com seus belos vocais e baixo sensacional (em algumas de suas melhores performances desde o Cream); Reg Isidore que, mesmo não sendo um Ginger Baker, desfilava enorme categoria; além de Trower, cujo estilo funcionava muito bem com Bruce, parecendo impor-lhe, para o bem, certas restrições às suas tendências exageradas e inacessíveis. Esses dois álbuns são daquele tipo que precisam estar na lista de compras de qualquer fã do Cream, Procol Harum ou do Hardão dos anos 70.
Após esses dois álbuns com Jack Bruce, Robin Trower retomou sua carreira solo e voltou a trabalhar com o vocalista original de sua banda, James Dewar. Fãs de longa data, claro, logo suspiraram por outro "Bridge Of Sighs", mas "Back It Up" (de 1983) era chato e sem inspiração. Um Hard Rock brochante com ocasionais centelhas do brilhantismo de outrora. "The River" e "Benny Dancer" tinha algo da velha faceta e a instrumental "Island" era uma das mais bonitas canções feitas por Trower, mas infelizmente o disco foi amplamente ignorado pelos fãs. Eram, de fato, outros tempos, e o novo público voltado para a New Wave, os New Romantics, a Dance Music e toda a sensação da MTV nem se ligaram. Após esse álbum, Trower foi despedido da Chrysalis Records sob alegação de que ele não fizera turnê para promovê-lo (além da fraca receptividade comercial). "Beyond The Mist", de 1985, um álbum com 7 faixas (das quais 5 ao vivo e 2 em estúdio), foi o primeiro pelo selo Roadrunner. A parte ao vivo era gravada no Marquee Club, de Londres, com parte importante de seu melhor repertório ausente. Com o som meio abafado e embolado, essas cinco faixas traziam pouco das espetaculares performances de guitarra e, já que Trower não era por natureza um grande entertainer, elas acabavam chatas e cansativas chamando pouco a atenção. A versão para sua canção marca-registrada "Bridge Of Sighs", no final do álbum, com 10 minutos e meio, era o grande destaque e onde Trower revelava seus talentos num arranjo energizado. As duas de estúdio não eram assim tão boas. Mesmo com uma banda top (com Martin Clapson na bateria e Dave Bronze no baixo), o usual feedback manipulado, os acordes torcidos e os chamativos solos, o resultado era mínimo.
Na medida que a década de 80 seguia, Trower via seu público minguar e passou a tentar esforços para recuperá-lo. Basicamente, eram tentativas de atualizar seu Blues-Rock. "Passion", de 87, era até interessante ao unir o peso dos anos 70 com a leveza dos anos 80. Sua banda (Davey Pattison, vocais; Dave Bronze, baixo; Pete Thompson, bateria) era um unidade eficiente e coesa. Tecladistas convidados garantiam profundidade extra às canções. "Caroline" até ganhou algum espaço nas rádios (graças a seus ganchos e ao solo quente de Trower). Os vocais de Pattison era bons, mas inferiores e não tão marcantes quanto os de James Dewar (o vocalista mais famoso de Trower). Um disco mesclando Blues e Pop, com toques de um Hard Rock melódico, mas novamente falhou em capturar sucesso para o guitarrista. "Take What You Need", de 88, seguiu essa fase de transição, com algumas faixas boas (com guitarras diferentes), mas naquele tipo de som datado com teclados, baixo tocado em slap e batidas repetitivas (fórmula prevalente na música dos anos 80).  Não foi uma conversão total, mas representou um ponto fora da curva distanciando-se do que ele sempre fizera de melhor. 
"In the Line of Fire", de 90, veio com Davey Pattison nos vocais, John Regan no baixo, Tony Beard na bateria e Bobby Mayo nos teclados. Mesmo a produção de Eddie Kramer, Trower manteve-se numa espécie de ponto morto. Mesmo com uma sonoridade melhor do que a dos três álbuns anteriores (mais bem gravado), permanecia a tentativa de ser "Pop" com tecladinhos frouxos estragando tudo e gerando um som genérico. Pouco lembrava o período clássico de Trower. Aliás, esse disco é considerado o quarto e último dessa fase chamada de "perdida". No início dessa nova década, Trower juntou-se ao Procol Harum numa breve reunião (que gerou o álbum "Prodigal Stranger", de 91) e depois fez parte da banda de apoio do cantor Bryan Ferry (ex-Roxy Music), participando de seus álbuns "Taxi", de 93, e "Mamouna", de 94 (este último com Trower sendo co-produtor). "20th Century Blues", de 94, representou um retorno ao velho Blues-Rock. Considerado um dos melhores álbuns de Trower da fase mais recente, não é tão frágil quanto os anteriormente comentados, há ótimas guitarras e boas canções, mas é claro não fica no nível de seu melhor trabalho. Era também um retorno ao formato de trio (vocais meio fraquinhos), mas as guitarras faziam a diferença! A faixa-título, "Secret Garden" e "Extermination Blues" podem ser consideradas clássicos de Trower. 
Ele continuou lançando discos. "BBC Radio One Live in Concert" (com gravações de 75 foi lançado em 95), "King Biscuit Flower Hour (In Concert)" com gravações de 77 foi lançado em 96, "Someday Blues", de 97, onde ele emulou Albert King e assumiu ele próprio todos os vocais (um bom disco - "Feels So Bad" e a última, "Sweet Little Angel" são sensacionais - mais Blues e menos Rock), "Go My Way", de 2000, que representou uma nova volta ao som de trio e ao Blues-Rock a la Hendrix. Enquanto as composições não eram tão boas quanto na década de 70, a guitarra de Trower permanecia potente e inventiva, num trabalho que merece audição. Um disco meio difícil de encontrar (pois foi lançamento independente), mas que fãs do período clássico encontraram com prazer muitos vestígios da boa era.
Ele ainda lançou alguns ao vivo (destaque para "Greatest Hits Live", de 2003, mas gravado em 77 e excelente, altamente recomendado), antes de voltar a trabalhar com Bryan Ferry (no álbum "Frantic", de 2002) e voltar a gravar solo e soltar "Living Out Of Time", em 2004. Aqui, ele remontou sua banda oitentista (Dave Bronze, Davey Pattison, Pete Thompson) e criou um disco similar ao "Passion" (de 87) e "Take What You Need" (de 88). Em algumas faixas, a veia hendrixiana aflorava com urgência. Um bom disco no todo.
Em 2005, ele voltou com "Another Days Blues", e manteve a banda (apenas agora com Reg Isidore de volta), mas o destaque permanecia na performance de guitarra. Um disco blueseiro, com retorno de tons escuros e atmosfera psicodélica. Trower destrói e este talvez seja seu melhor álbum de estúdio em duas décadas. Altamente recomendado. Jack Bruce deve ter gostado tanto da reunião do Cream (em 2005) que, ao terminá-la chamou Robin Trower e ressuscitou seu trio com ele. "Seven Moons", de 2007, foi uma espécie de continuação daquele projeto de 81-82 e surpreendentemente manteve o nível de qualidade. Sem desejar expandir o som, nem reinventar a roda, a dupla (mais o baterista Gary Husband) arrasa (Bruce, mesmo com sérios problemas de saúde, soa poderoso e vibrante). Mesclando as influências jazzísticas de Bruce com os instintos Space Rock de Trower, dentro do ambiente Blues-Rock psicodélico patente, os caras disparavam canções ótimas num disco excelente. "Seven Moon Live", de 2009, trouxe uma apresentação gravada ao vivo na Holanda capturando o trio anterior no palco. As comparações com o Cream eram inevitáveis (especialmente porque eles incluem versões para "Sunshine Of Your Love", "White Room" e "Politician"). As outras 10 faixas vinham do álbum "Seven Moon", exceto "Carmen", do "B.L.T.". Mais livres e soltos, com Bruce soando ótimo (tanto nos clássicos vocais quanto no seu sensacional baixo jazzístico ultra elástico), Trower despejando sua guitarra fluída e climática, Husband apenas adequado sem alcançar o virtuosismo da dupla parceira cuja interação era arrebatadora, o disco podia não ser essencial, mas era uma delícia tamanha a energia. Trower seguir gravando regularmente: "What Lies Beneath" surgiu em 2009 (outro ótimo disco de estúdio, desta vez surpreendentemente cantado por ele próprio).
Outro ao vivo, "Live at the Milkyway", em 2011, "The Playful Heart", de 2011, "Roots and Branches", de 2013, "Something's About To Change", de 2015, "Where You Are Going To", de 2016 e "Time And Emotion", de 2017. O cara disparou a produzir depois de velhinho. Não sei nada sobre esse trabalhos mais recentes, mas ele permanece tocando em trio e são discos elogiados.

2 comentários:

  1. A partir dessa fase não conheço neca de niente.

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  2. Mas há boas dicas, hein! Especialmente os discos com Jack Bruce. Nem sabia que eles tinham se unido um dia. E produziram bem,!

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