terça-feira, 12 de setembro de 2017

The Cult: uma das principais bandas do revival do Hard Rock inglês, começou como góticos liderados por um xamã (parte 1)

Após uma sucessão de nomes e mudanças de estilo musical, o Cult surgiu em 1984 como uma das bandas líderes do movimento revivalista do Rock pauleira inglês. Partindo do misticismo e obsessões com índios americanos do The Doors, as orquestrações de guitarras do Led Zeppelin e o porrada três-acordes do AC/DC, adicionando toques do movimento gótico do Pós-Punk, a banda ganhou fãs na Inglaterra com singles como "She Sells Sanctuary" antes de conquistarem grande sucesso nos EUA no final da década de 80 com a canção "Love Removal Machine". Nesse caminho, eles conquistaram um Top Ten lá com o álbum "Sonic Temple", de 89, enquanto sofriam com tensões extra-palco e problemas que os impediram de manter a popularidade. Acabaram se separando em 95 após um par de álbuns mal sucedidos, mas voltaram para novos discos, sempre ancorados no vocalista Ian Astbury e no guitarrista Billy Duffy. Curiosamente, a origem do The Cult está noutra banda chamada "Southern Death Cult", um grupo de Rock gótico formado por Ian Astbury (vocais) em 81. Astbury era filho de marinheiro da Marinha Mercante, o que significa que ele passou sua juventude mudando-se constantemente. Num certo ponto de sua infância, sua família morou no Canadá, onde ele tornou-se fascinado com os nativos americanos, tema que se tornaria recorrente em suas composições. Astbury eventualmente se instalou em Bradford, Yorkshire, Inglaterra, onde conheceu uma banda formada por David "Buzz" Burrows (guitarra), Barry Jepson (baixo) e Haq Nawaz "Aky" Qureshi (bateria). Ian entrou para o grupo como vocalista (e usando o nome artístico de Ian Lindsay, sobrenome de solteira de sua mãe) e eles trocaram o nome da banda para "Southern Death Cult" (o nome veio de um velho nome para uma construção para cerimônias dos nativos americanos). Com forte uso da imagem dos nativos e uma crítica à desbalanceada colonização entre o norte e o sul, o primeiro show aconteceu em 29/out/81 no Queen's Hall, em Bradford. Já no quinto show, eles conseguiram atrair um público de duas mil pessoas!
Em dez/82, lançaram o primeiro single "Moya/Fatman" (pelo selo Situation Two, uma subsidiária da Beggars Banquet Records) e conquistaram o nº. 1 na parada Indie no Reino Unido. Uma versão 12" desse single incluiu uma terceira faixa, "The Girl". Excursionaram pesado por lá na promoção do single, incluindo shows de abertura para o Theatre of Hate e para o Bauhaus, no final de 82. Embora esse começo fosse auspicioso, Astbury dissolveu o grupo após um show em Manchester em 26/fev/83 (ou seja, a vida da banda durou apenas 1 ano e 4 meses). Ele se sentiu frustrado com os artigos positivos que recebia na imprensa inglesa... Os três outros membros formariam o "Getting The Fear" (com adição do vocalista Paul "Bee" Hampshire - lançaram um single, "Last Salute", pela RCA Records antes de se separarem em 85).  Jepson e Hampshire formariam o "Into A Circle" que lançou o álbum "Assassins", em 88 (Jepson depois trabalhou como  promotor de shows e virou professor no Brighton Institute of Modern Music). Burrows e Qureshi formaram a banda "Joy", mas, no final dos anos 80, Qureshi montou o grupo de Hip-Hop político e islâmico chamado "Fun^Da^Mental" e lançou o selo "Nation Records". A Beggars Banquet resolveu então compilar aquelas 3 faixas do single, mais apresentações ao vivo e sessões para a rádio BBC One num LP lançado em 83 com o nome "The Southern Death Cult" (ou seja, reunindo tudo disponível deles e lançado após o término da banda). Este álbum só seria lançado nos EUA 15 anos depois (em 88, a versão em CD trouxe cinco faixas adicionais ao vivo).
Após a separação do "Southern Death Cult", Astbury encurtou o nome da banda para "Death Cult" e recrutou o guitarrista Billy Duffy (que havia tocado com Morrissey na banda pré-Smiths chamada The Nosebleeds e no Theatre Of Hate), em abr/83. Com o baterista Ray Mondo e o baixista Jamie Stewart (ex-Ritual), o Death Cult gravou e lançou (pelo selo Situation Two) um EP de estreia em jul/83 (com 4 faixas: "Brothers Grimm", "Ghost Dance", "Horse Nation" e "Christians"), em que Astbury surgia com seu nome verdadeiro. Este EP alcançou o nº. 2 da parada independente no Reino Unido. Das quatro faixas, duas - "Ghost Dance" e "Horse Nation" - eram sobre a fascinação de Astbury pela cultura dos nativos americanos (já explorada no Southern Death Cult). "Christians" era sobre outro interesse da dupla, a guerra do Vietnã (também evidente na capa do EP). Em set/83, Ray Mondo foi substituído por Nigel Preston (que havia anteriormente tocando com Duffy no Theatre Of Hate). Com no novo baterista o Death Cult lançou em out/83 o single "God Zoo".
O Death Cult ainda com Ray Mondo
A banda já com Nigel Preston (o terceiro).
Em jan/84, antes de se apresentarem num programa de TV, Ian Astbury decidiu que a banda passaria a se chamar simplesmente "The Cult", retirando a conotação gótica da banda (aliás, foi esse o motivo: eles não queria aquele nome, pois estava lhes dando a enganosa aparência de banda gótica). Assinaram um longo contrato com a Beggars Banquet e partiram para uma turnê europeia. Enquanto o Southern Death Cult e o Death Cult eram muito influenciados pelo gótico do Pós-Punk, a nova encarnação The Cult era mais Hard Rock com toques psicodélicos.
"Dreamtime", o primeiro álbum desta nova fase, foi lançado em ago/84, acompanhado do single "Spiritwalker". Bem, na imagem eles ainda não haviam completado a metamorfose. Basta ver Astbury de bandana e Duffy com visual Duran Duran. Musicalmente, havia uma guitarra muito potente, sombria e dramática, uma cozinha rítmica com pegada tribal-gótica, elementos meio assustadores, efeitos sonoros... ou seja, eles ainda mantinham a veia gótica, mesmo contra vontade. "Spiritwalker" era fantástica, com seus tambores e a guitarra épica. Os vocais de Astbury eram explosivos. Outros destaques eram a faixa-título, "Go West", "Horse Nation" e "A Flower In The Desert". O disco era energético, porém um pouco dramático demais. Ele alcançou o nº. 21 no Reino Unido. Na primavera de 85, Preston saiu e, para o lugar dele, a banda foi buscar Mark Brzezicki (ex- Big Country). Com ele, gravaram naquele verão o single "She Sells Sanctuary", que lhes mudaria o destino.
(continua).

4 comentários:

  1. Daí a pra frente a coisa pega fogo!!!
    O Cult é uma banda seminal dos anos 80. Aliás esse revival, em meio às inúmeras possibilidades de fusões e influências que o pós punk proporcionou, reascendeu a chama do hard rock. Eu já curtia muito a nova onda do rock quando o Cult surgiu para relembrar as raízes genuínas do rock. Fundamental.

    ResponderExcluir
  2. A relação do SDC com o The Cult está quase totalmente ligada ao nome (era interessante ao selo Situation Two manter parte do nome já que o SDC acabou no seu auge) e ao conceito "indígena" da banda introduzida por Ian (antes de ele se juntar aos membros do Southern Death Cult que tocavam como chamava Violation, que fez alguma "fama" na cena punk de Bradford). Com o fim do do SDC, os outros integrantes continuaram por um tempo como Getting The Fear com outro vocalista até se transformar em Into A Circle. Outro detalhe: quem gravou o single "She Sells Sanctuary" foi Nigel Preston - ele saíria da banda um dia antes de gravarem o vídeo clipe que conta com Mark do Big Country e que gravaria o restante do álbum "Love".

    ResponderExcluir
  3. Putz, detalhes excelentes esses. Obrigado.

    ResponderExcluir
  4. No YouTube há uma demo do Violation que é Pré-The Southern Death Cult, vale a pena conferir. A faixa The Crypt do Violation aparece no álbum SDC. Sobre Death Cult: Ray Mondo é produtor e mora na Califórnia. Nigel Preston antes de falecer tocou mó Carcrash International.

    ResponderExcluir

Comentários são bem vindos, desde que respeitosos da opinião alheia e sejam construtivos para o debate de ideias.