A origem do Affinity foi por volta de 1965 no departamento de ciências da Universidade de Sussex em Brighton, Inglaterra. Três estudantes de ciências Lynton Naiff (teclados), Grant Serpell (bateria) e Nick Nicholas (contrabaixo) montaram o US Jazz Trio e passaram a tocar em eventos da Universidade e shows locais. Quando Serpell se formou um ano depois, ele foi substituído por Mo Foster, que antes tocava baixo na banda da escola, mas agora havia se adaptado a tocar bateria. Após a universidade, Naiff e Serpell, junto com membros de outras bandas reunidas de outras bandas universitárias, formaram o grupo pop Ice. Embora o Ice tenha tido sucesso comercial moderado, ele durou apenas cerca de um ano antes de se separar. As audições continuaram para um cantor. Eles decidiram por unanimidade por uma professora de inglês que já haviam conhecido anteriormente, Linda Hoyle.
![]() |
Serpell, Jopp, Hoyle, Naiff e Foster |
O Affinity fez seu primeiro show em Londres no Revolution Club no bairro Mayfair, West End, em 5/out/68. Um dos shows que fizeram na época foi transmitido pela BBC Radio Jazz Club. Ronnie Scott (saxofonista e proprietário de um dos mais famosos clubes da capital) ouviu uma gravação do show e posteriormente concordou em gerenciá-los. Ele também deu-lhes reservas regulares em seu clube de Jazz mundialmente famoso. Deste ponto em diante, a banda conseguiu muito trabalho ao vivo na cena de clubes de Londres e no circuito universitário. Também fizeram turnês pela Europa e Escandinávia e alguns festivais. Havia a onda do Jazz-Rock em pleno vigor e Linda Hoyle era uma vocalista poderosa (soando como um cruzamento entre Carol King e Julie Driscoll). A música era uma mistura eclética de Blues-Rock com influências de Jazz, Pop e Folk, bem como alguns rudimentos da psicodelia do início dos anos 70 e o órgão Hammond onipresente, com um resultado geral soando muito progressivo para sua época.
A banda apareceu na TV, incluindo o programa da BBC "Disco 2" (sucessor do "Colour Me Pop", no ar entre jan/70 e jul/71 - o Affinity apareceu em jun/70), que foi o precursor do The Old Grey Whistle Test (no ar entre 71-88). Eles gravaram o tema para uma série de comerciais da Shredded Wheat ("There are 2 men in my life...", uma marca de cereais matinais) e finalmente lançaram um álbum homônimo pelo selo Vertigo em 1970. A banda recebeu muitas resenhas elogiosas, incluindo algumas destacando o talento individual (por exemplo, o The Sunday Times destacou que Naiff era um virtuoso, estilo Soul, e que todo o grupo era provavelmente a melhor coisa nova ouvida na área do Jazz Pop naquele ano). Eles foram vistos como grande promessa, mas Hoyle anunciou que estava cansada e que queria sair da banda e do mundo da música. Seu último show com o Affinity deveria ter sido em Cardiff em fev/71, mas a apresentação foi cancelada (então, a última acabou sendo dias antes no teatro Winter Gardens, em Bournemouth). Entre fev-jun daquele ano, os membros restantes (junto com um novo tecladista Dave Watts) ainda continuaram a tocar numa mini turnê com Geno Washington & The Ram Jam Band, mas logo depois foi anunciada uma reformulação mantendo Jopp, Foster e Serpell, mas agregando Vivienne McAuliffe (vocais) e Dave Watts (no lugar de Naiff, que migrou para o Toe Fat). Uma turnê pela Holanda foi anunciada para jul/71 e também o trabalho num novo álbum, mas semanas depois Jopp, Foster e Serpell foram contratados por Mike d'Abo (ex-vocais do Manfred Mann, 1966-69) como banda de apoio em sua turnê pelos EUA (ao lado do saxofonista/flautista Jack Lancaster). Foi o fim do Affinity. Restou o único álbum por eles lançado, a estreia autointitulada, de excelente som, musicalidade e produção, de fato uma conquista soberba para a época. Sim, é verdade que o trabalho esbanja potencial. Os vocais de Linda Hoyle são um destaque (traços de Bessie Smith, Grace Slick e Sandy Denny). Há performances no órgão Hammond comandado por Lynton Naiff que realmente são excepcionais. Há toda uma variedade de gêneros e um foco nas individualidades, arranjos de cordas e metais e alguns covers ("Coconut Grove", do Lovin' Spoonful; "All Along The Watchtower", de Bob Dylan; "I Wonder If I'll Care As Much", dos Everly Brothers). Era o início dos anos 70 e havia toda aquela combinação de musicalidade e aventura. A música é pura arte, fundindo elementos de British Folk e British Blues para criar um Proto-Prog jazzificado e com rudimentos da Psicodelia. O resultado é encantador, acessível e gostoso de ouvir.
Que fim levaram os membros do Affinity? Linda Hoyle fez um álbum solo com ajuda de Karl Jenkins (do Soft Machine), "Pieces Of Me", com participação de vários músicos do Nucleus. Este álbum saiu em nov/71 e tornou-se um dos mais raros da Vertigo. Ela depois migrou para o Canadá em 72 onde continuou a cantar (principalmente Jazz). Nos anos 80, ela se envolveu com o pessoal do People Show, a companhia de teatro experimental mais antiga de Londres. Também trabalhou com o canadense Oliver Whitehead. Ela se formou em Psicologia e conquistou um mestrado em Ética Biomédica, em Ontário. Ela trabalhou como terapeuta. Ela participou de uma reunião do Affinity em 2006 (numa festa privada e sem Lynton Naiff) e da celebração de 50º aniversário da Universidade de Sussex em 2011 ("The Baskervilles Reuinon"). Ela está hoje com 78 anos. Mike Jopp tocou para Michael (Mike) d'Abo (com quem gravou dois álbuns), parou de tocar profissionalmente em 73 e passou muitos anos como consultor de áudio para a Sony e Fairlight, antes de formar sua própria empresa, a Hyperactive Broadcast, envolvida em televisão aberta. Lynton Naiff participou de uma longa lista de álbuns e turnês de outros artistas por anos, trabalhando também como arranjador orquestral. Mo Foster se tornou um músico de estúdio e gravou/excursionou com vários artistas. Ele também lançou três álbuns solo. Grant Serpell tocou com Geno Washington e foi um membro fundador do grupo Pop "Sailor" (que se desfez 'temporariamente' por 11 anos, período em que ele se tornou professor de Química até a volta do "Sailor" em 1989). Ele conciliou as duas carreiras por oito anos até parar de lecionar em 1997.
Um disco maravilhoso, de musicalidade exuberante. Conheci por meio de uma resenha da revista Poeira Zine, me encantei pela capa e, ao ouvir em pesquisa pela internet, resolvi adquirir imediatamente, por sorte em uma loja especializada em raridades que tinha em JF, a saudosa Ethereal. Altamente recomendado
ResponderExcluir