segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Grandes solos de guitarra: Heaven and Hell – Black Sabbath



A discografia da formação clássica do Black Sabbath é sensacional. Poderia sair de qualquer um dos álbuns da era Ozzy Osbourne magníficos solos do genial Tony Iommi para marcar presença nesta esporádica coluna do Mural. A opção Heaven and Hell é discorrida nas próximas linhas. Em termos técnicos e emocionais, não perde em nada para nenhum outro.

A velha bruxa ressurgia das cinzas no começo da nova década. As tentativas de retomar a velha forma foram frustradas após o lançamento do mal sucedido comercialmente Never Say Die, de 1978, último disco com Ozzy no line up. O vocalista, imerso em drogas e álcool, vinha tendo comportamento desagregador. Demonstrava desinteresse pela banda e se recusava a gravar as músicas compostas para o próximo álbum. Para evitar o fim melancólico de uma das maiores bandas da história do rock, o guitarrista não viu outra saída senão dar um pontapé no traseiro do encrenqueiro frontman.

A formação da banda virou um caos, o baixista Gezzer Butler também se afastou para tratar de seu divórcio. O instrumento passou de mão em mão até retornar para Gezzer na excursão de lançamento do novo disco. Mas antes, o tecladista contratado Geoff Nichols chegou a empunhá-lo. Por sugestão do novo vocalista, o fantástico Ronnie James Dio, ironicamente indicado pela então namorada e futura esposa de Ozzy, Sharon, Craig Gruber, assume o posto. Ele havia sido parceiro de Dio no Elf e no Rainbow. Ensaiou e gravou todas as faixas do tão aguardado álbum da nova formação do Sabbath. Mas, de acordo com a biografia de Iommi, de 2011, Gezzer sequer ouviu as faixas e regravou tudo quando voltou, o que gerou grande mal estar e muita fofoca. Até Dio, que chegou a ser baixista nos primórdio do Elf, tocou o instrumento durante as sessões prévias de Haven and Hell, que veio ao mundo em abril de 1980.



Também por sugestão do novo vocalista, o álbum teve produção do papa da pauleira, Martin Birch. Foi o primeiro disco da banda a ter produção externa desde A Master of Reality, de 1971, quando Iommi passou a exercer a função. Tudo veio mudado e revigorado para a nova saga sabbathica. O som estava mais polido, moderno sem perder seu peso soturno característico. Os arranjos soam mais maduros e a interpretação do experiente Dio nos vocais não era menos do que fantástica, além de ser mais versátil e proporcionar diferentes possibilidades musicais.

A música em questão aparenta ser o ápice do novo trabalho do grupo. O teclado misterioso envolve a condução arrastada de Gezzer e Ward, a voz dá o tom apocalíptico da canção em uma soberba interpetração de Dio. E a guitarra de Iommi em diferentes escalas e harmonias eleva Heaven and Hell ao limiar da perfeição, alternando momentos mais cadenciados com outros bem acelerados. Tudo envolvente, impressionante e cativante. Heaven and Hell é uma obra prima do Heavy Metal. A letra do petardo sonoro foi composta por Dio. Repleta de simbolismos e dubiedades, exprime a escolha do ser humano entre o bem e mal.

Muitos lineups posteriores do Black Sabbath incluiriam esta canção em seus sets ao vivo, sendo cantada pelos (então) seus futuros vocalistas Ian Gillan, Glenn Hughes, Ray Gillen, e Tony Martin. Rob Halford, do Judas Priest, também cantou a música com o Black Sabbath em 14 e 15 de novembro de 1992, quando ele preencheu a função de vocalista por dois concertos. Entre prêmios, Heaven And Hell está na 11ª posição do livro The Top 500 Heavy Metal Songs of All Time, de Martin Popoff. Também ficou com a 81ª colocação da lista Best Hard Rock Song of All Time, de 2009, do canal de televisão VH1. Bandas como Stryper, Dream Theater, Overkill e Death Angel, por exemplo, já fizeram versões para a canção. Também está presente no game Grand Theft Auto IV.


Um comentário:

  1. Uau! Que escolha! Esta formação do Black Sabbath (Dio, Iommi, Geezer & Vinnie Appice) é tão boa quanto a original. Já ouvi alguns roqueiros desancar e dizerem que esse não é o Black Sabbath e blá-blá-blá, mas meu critério é o da produção artística (ou seja, a nova formação produzir repertório próprio e de qualidade similar ao melhor anterior, não tornando-se mera banda cover de si própria) e nisto, que é o que interessa, essa formação é sensacional, pois produziu 2 discaços-aços-aços: "Heaven And Hell" (de 80) e "Mob Rules" (de 81).

    As sessões de gravações de "Heaven And Hell" são um capítulo magnífico da história do Rock. Elas começaram ainda com Ozzy na banda! (em sua bio, Iommi disse ainda ter uma fita de "Children Of The Sea" cantada por Ozzy). Após a "Never Say Die Tour", a banda migrou para Los Angeles onde viveu por 11 meses tentando gravar o álbum. Ozzy não queria mais as experimentações testadas nos dois álbuns anteriores ("Technical Ecstasy" e "Never Say Die") e ansiava por uma volta ao som mais pesado do início. Em paralelo, seu comportamento irresponsável e imprevisível acabou levando Iommi a demiti-lo.

    Então, aconteceu aquelas coisas do destino: Iommi (procurando um vocalista) encontrou no "The Rainbow", na Sunset Strip em Hollywood, CA, Dio (então saído do Rainbow e procurando um novo projeto). A conexão foi imediata. No primeiro encontro, a dupla finalizou a rascunhada/ainda em fase embrionária "Children Of The Sea". Com Bill Ward cheio de problemas pessoais e Geezer Butler enrolado em seu divórcio, a demo original dessa canção foi gravada com Geoff Nicholls no baixo! (aliás, parece que foi Nicholls quem criou a famosa linha de baixo para a canção "Heaven & Hell"). Como o brother Marcão contou, o próprio Dio chegou a gravar demo tapes tocando baixo e cantando. Iommi também chegou a contactar Frank Zappa e pedir indicação de um baixista (Zappa indicou o baixista de sua própria banda, mas Iommi preferia alguém que pudesse ficar em tempo integral). Craig Grubber (baixista original do Elf) também chegou a participar de ensaios nessa época. Aliás, Grubber já declarou ter participado de boa parte da composição do repertório do álbum e de ser ele tocando baixo no disco, e não Geezer. Apesar do álbum não lhe dar qualquer crédito quanto a isto, ele já disse que "nós chegamos a um acordo financeiro adequado". De fato, Iommi, em sua bio, disse que Grubber gravou todas as partes de baixo do disco, mas que Geezer as regravou (com seu retorno à banda) sem ouvir o que Grubber havia feito (!?!?). Será mesmo? O álbum "Heaven And Hell" foi gravado em Miami, Fl, no Criteria Studios (mesmo do "Technical Ecstasy") e no Studio Ferber, em Paris. Quando a turnê de divulgação do disco começou, logo Bill Ward pediu para sair. Entre seus problemas, havia o alcoolismo, a morte de seus dois pais e um comportamento errático.

    "Heaven And Hell", o álbum, acabou sendo o único da era Dio a não ter Vinnie Appice na bateria, baterista norte-americano que seria convocado para continuar a turnê e ficaria como membro permanente.

    Grande escolha, brow.

    ResponderExcluir

Comentários são bem vindos, desde que respeitosos da opinião alheia e sejam construtivos para o debate de ideias.