terça-feira, 7 de outubro de 2014

Miles Davis e a versão quadrafônica de "Bitches Brew"

Anda rolando pela internet uma incrível versão quadrafônica do famoso álbum "Bitches Brew" de Miles Davis. Todos sabem: "Bitches Brew" foi o disco que marcou a fusão Jazz-Rock, em 1970. Som quadrafônico é música com 4 canais em formato "surround sound" que as gravadoras tentaram na década de 70 e cujo formato foi abandonado depois. Seria algo parecido com o atual formato 5.1 dos "home theaters". A diferença é que no 5.1 você tem uma caixa só para voz frontal e no sistema quadrafônico você ficava no meio de tudo, sem separação. Era algo como se você estivesse em pé no centro da sala de gravações, junto com a banda. Na época, chegaram a lançar versões quadrafônicas para "Paranoid", do Black Sabbath (imagine isso: "Iron Man" e os efeitos rodopeando você) e até uma coletânea dos The Doors. Alguns desses álbuns vinham com uma etiqueta: "music for people with four ears". Voltando para o "Bitches Brew".... qualquer fã de música tem mínima familiaridade com esse disco, né? Constantemente presente nas listas de "Top 500" ou "Top 100" (de melhores de todos os tempos), um dos 10 discos de Jazz mais vendidos, espécie de pedra angular da música do século 20 e blá-blá-blá... mas você já ouviu a versão quadrafônica de "Bitches Brew"? Dizem que é algo incrível, quase como ouvi-lo pelo primeira vez. Explicação: há uma montanha de coisas rolando ao mesmo tempo em qualquer ponto de "Bitches Brew"... 2 teclados elétricos (Joe Zawinul no canal esquerdo e Chick Corea no direito) - há até um terceiro teclado elétrico tocado por Larry Young na faixa "Pharoah's Dance - , há 2 baterias (Lenny White no canal esquerdo e Jack DeJohnette no direito), há Dave Holland no baixo acústico  e Harvey Brooks no baixo elétrico, há Miles Davis no trompete, há Wayne Shorter no sax, há Bennie Maupin no clarinete baixo, há John McLaughlin na guitarra... entendeu? É som e gente demais para apenas 2 caixas de som! No som quadrafônico, tudo isso soa muito melhor, mais aberto, dando ao ouvinte um senso espacial muito mais apurado, exatamente como se estivesse no meio dessa turma. Duca! Provavelmente é o mais perto que você conseguirá chegar de Miles Davis tocando seu trompete, tal como um holograma musical. O álbum foi gravado ao vivo ao longo de 3 sessões (entre 19 e 21 de agosto de 1969), em NYC. Depois, foi radicalmente manipulado na pós-produção por Teo Macero, produtor e antigo colaborador de Miles Davis. Os técnicos que trabalharam na mixagem e na edição já relataram sobre o inferno que foi o trabalho com tanta informação sonora rolando ao mesmo tempo, invadindo as 8 trilhas da fita master. As faixas gravadas eram composições de Miles Davis (desenvolvidas ao vivo pela banda), mais "Pharaoh's Dance", composta por Joe Zawinul, mais "Sanctuary", balada de Wayne Shorter. Teo Macero fez mágica utilizando "tape loops", efeitos de delay, reverber e ecos. Ele destacou certos instrumentos em alguns pontos, repetiu trechos de improvisações (que deram ar de estrutura às canções para que os ouvintes reconhecessem-nas como canções), fez colagens entre versões... foi um trabalho sem precedentes para um estúdio de gravação, na época. Curiosamente, a Sony nunca soltou uma versão quadrafônica de "Bitches Brew". Depois de tantos relançamentos, tantas versões e comemorações... quase todo ano... por que a versão quad permanece oculta é um mistério. Há uns anos atrás, ela fez um ótimo favor aos fãs do disco ao colocar no mercado uma versão chamada "The Complete Bitches Brew Sessions" (caixa fascinante com todas as sessões gravadas naquele agosto de 1969). Mas cuidado: não é o material cru antes de Macerro fazer seu trabalho mágico sobre as fitas. Há também uma "Bitches Brew: 40th Anniversary Collector's Edition" quer trouxe a remasterização feita (muito criticada por deixar o som meio misturado - vantagem é que com ela veio o DVD com filmagem do quinteto de Davis em Copenhagem, em nov/69, tocando algumas semanas depois da gravação de "Bitches Brew"). E veja o que encontro no YouTube (onde mais?): um vídeo onde Teo Maceo conta parte de seus segredos no trabalho de "Bitches Brew":
E aqui uma versão fumegante de "Spanish Key" tocada ao vivo no Festival da Ilha de Wight, em 1970:

3 comentários:

  1. De volta, brow. Mas ainda devagar, pois aqui no trampo o bicho tá pegando, fim de ano é phoda!
    Esse disco é demais, racha assoalho, imagina quadrifônico no talo!!!

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  2. Dá até prá baixar o arquivo na internet. O problema aqui no bunker é que não tenho um som quadrafônico, isto é, quadro caixas + amplificador com saída para 4 canais independentes. Deve ser duca demais!

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  3. Mas a gravação quadrifônica fica porrada mesmo nos "limitados" estéreos!Vide Dark Side, entre outros.

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