Se nada der errado, se nenhuma maldição se abater sobre nós ou se o cantor Jaz Coleman não decidir fugir para uma caverna na Islândia ou juntar-se a uma tribo de nômades no Saara, o Killing Joke deverá desembarcar em fevereiro para seus primeiros shows na América do Sul. Conselho: não perca de jeito nenhum. Tive a sorte de ver três vezes e foram alguns dos melhores shows que presenciei.
Formado em Londres em 1979, o KJ é uma das maiores bandas da geração que se convencionou chamar de “pós-Punk” – um grupo imenso, eclético e talentoso de moleques que percebeu que era possível juntar a raiva e os três acordes do Punk a diversos outros elementos - Krautrock, Funk, Ska, Reggae, eletrônica, psicodelia - e criar algo novo.
Na Inglaterra surgiram, além do Killing Joke, Gang of Four, Joy Division, Echo and the Bunnymen e The Fall; dos Estados Unidos vieram Devo, Pere Ubu, Mission of Burma e Big Black.
O Killing Joke reuniu quatro loucos – Jaz Coleman (vocal), Kevin “Geordie” Walker (guitarra), “Big” Paul Ferguson (bateria) e Youth (baixo) – interessados em ocultismo, Ramones, no Krautrock do Can, no rigor dançante do Chic, em Dub Reggae e música clássica.
Em entrevista recente, Coleman lembrou uma anotação que fez em seu diário, em 1979, estabelecendo “uma forma musical estrita” para o som do Killing Joke: “Nada de solos ou de Blues, exceto em paródias, e nada de americanismos”. Os primeiros discos do grupo, “Killing Joke” (1980) e “What’s this For!” (1981), são pedradas que misturam bateria tribal e guitarras pesadíssimas e ajudaram a construir a base do que se viria a chamar depois de “Rock Industrial”.
Os últimos lançamentos do grupo – “Hosannas from the Basements of Hell” (2006), “Absolute Dissent” (2010) e “MMXII” (2012) – agradaram ao público de Metal sem afastar os antigos admiradores do KJ, um grupo eclético que inclui góticos, darks, punks e fãs de música eletrônica.
Além de ser uma banda fora de série, o Killing Joke conta com um dos personagens mais interessantes e imprevisíveis do pop: Jaz Coleman, um sujeito tão louco quanto talentoso, obcecado por bruxaria e Aleister Crowley (não à toa, amigo íntimo de outro crowleyano de carteirinha, Jimmy Page), que roda o mundo atrás de experiências místico-musicais-sensoriais. Em 1982, o Killing Joke fez sucesso com a faixa “Empire Song” e conseguiu uma disputada vaga no programa de TV “Top of the Pops”. No dia da filmagem, Coleman não apareceu, obrigando a banda a se apresentar com um roadie (possivelmente Alex Paterson, que depois fundaria o grupo eletrônico The Orb) com um chapéu de apicultor. Depois, descobriram que Coleman havia se mandado para a Islândia para “estudar energia geométrica”. Veja a cara de alegria da banda...
Não foi o primeiro sumiço do cantor. Coleman passou um bom período isolado numa ilha na costa da Nova Zelândia, onde iniciou uma carreira de compositor clássico e arranjador para orquestras; nos anos 90, fugiu para a Islândia “para escapar do britpop”, e em 2012 deu outro “perdido”, às vésperas de uma grande turnê com o The Cult, e acabou vagando com tribos nômades no Saara.
Espero que ele não invente nenhuma maluquice até fevereiro.
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