quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Minhas impressões a respeito do que assisti do “Rock in Rio 2015”: shows da sexta (18/9)

Pelo crítico Regis Tadeu.
Bem, quem acompanha aqui estas mal traçadas linhas sabe que acompanho megafestivais como o Rock in Rio do melhor lugar do mundo: o amplo sofá da sala do meu apartamento, com uma boa bebida do lado, uns petiscos e atenção dedicada à transmissão do evento pela TV e pela internet.

O que você vai ler abaixo não é uma “cobertura” dos shows e sim as minhas impressões a respeito do que assisti. É isto o que você quer, né? Então lá vai…

DÔNICA E ARTHUR VEROCAI
Sinceramente, não conseguia entender a escalação de uma banda iniciante e da qual ninguém nunca ouviu falar até descobrir que o filho caçula do Caetano Veloso é um dos integrantes, sendo que ele não toca com os caras e sim compõe as canções e a Sony vai lançar o EP dos moleques. Tá explicado, né? Fiquei ainda mais surpreso quando vi que, ao contrário do que imaginava e daquilo que indiquei no “E Show ou é Fria” da semana passada, seria um show do Dônica tendo como convidado o genial maestro e arranjador Arthur Verocai e não o contrário!
Por isto, meu desapontamento só foi superado pela irritação de assistir a uns moleques desafinados e vestidos do modo mais mulambento possível, que parecem ter passado a infância ouvindo o Clube da Esquina e umas bandas de rock progressivo bem mequetrefes.
Coitado do Verocai, que levou alguns amigos músicos para fazer um naipe de metais honesto para uma musiquinhas de 9ª categoria. Ah, e o caçula do Caetano saiu dos bastidores e foi tocar a sua guitarrinha também, que ninguém é bobo de desperdiçar uma aparição em um festival transmitido ela Globo e Multishow, né?

IRA!, RAPPIN HOOD, TONI TORNADO
Foi uma apresentação que causou impressões bastante conflitantes. Por um lado, ver e ouvir Edgard Scandurra ainda em plena forma na hora de criar licks e solos com qualidade nas canções da banda foi um ponto bem interessante. Em contrapartida, Nasi precisa urgentemente perceber que não dá mais para tolerar suas constantes desafinações – foi triste ouvi-lo cantar completamente fora de tom em “Envelheço na Cidade”, por exemplo.
Fiquei surpreso ao perceber que duas backing vocals eram Sandra Coutinho e Silvia Tape – baixista/vocalista e guitarrista das mercenárias, respectivamente -, entediado com a total falta de carisma de Rappin Hood e entusiasmado em ver e ouvir o lendário Toni Tornado dando um show de elegância e suingue funky. No final, até que foi divertido.
LENINE 
Na ânsia de querer apresentar um show mais intenso e pesado, o simpático e talentoso pernambucano acabou tirando muito da sutileza de algumas canções, um elemento essencial para a sua apreciação. Em contrapartida, grande parte de seu show poderia ter sido melhor apreciado se tivesse sido tocado em um lugar fechado e menor. Tal estranhamento foi bem atenuado pelo excelente time de instrumentistas que Lenine arregimentou. 
Vendo pela TV ou estando presente na plateia, tenho certeza que muita gente ficou morrendo de vontade de assistir a um show do cara fora deste ambiente de “festivais”. 

“TRIBUTO A CÁSSIA ELLER” 
Se tinha a intenção de homenagear a falecida cantora, a apresentação só causou constrangimento. A antiga banda de apoio de Eller “fez a cama” para convidados que pareceram tão deslocados em sua falsa alegria e entusiasmo que o show pareceu mais uma quermesse de condomínio repleto de moradores músicos. Muita gente em cima do palco para mostrar que era “parceira” da falecida para pouco som. 
Quando quatro das convidadas - Tacy de Campos, que faz o papel principal em um espetáculo teatral que homenageia a Cássia, mais Zélia Duncan, Mart'nália e a percussionista Lan Lan – aproveitaram que a banda estava assassinando “Smells Like Teen Spirit” e resolveram botar os peitos para fora no final daquela tortura, a sensação foi de havia uma aura de contestação de plástico pairando por sobre o show. E tenho que confessar que gostaria de apagar de meu cérebro a imagem da Mart'nália sem blusa…
“ROCK IN RIO 30 ANOS”
Parecia uma imensa reedição daquele programa “Globo de Ouro” que rolava nos anos 80. Meu Deus do céu, qual é a graça de ver e ouvir pela trilionésima vez o Skank tocando “Vou Deixar”, o Frejat soltando “Pro Dia Nascer Feliz” e chamando o Ney Matogrosso para cantarem “Por que a Gente é Assim?” e por aí vai?
Tudo bem que a apresentação era em si um afago na própria cabeça da história do festival, mas um pouquinho de criatividade cairia bem. Pelo menos ficou um ar de simpatia durante as performances de Erasmo Carlos em “Pode Vir Quente que Eu Estou Fervendo” e “É Proibido Fumar”, da Blitz com Andreas Kisser em “Você Não Soube Me Amar”. Compensou o sono incontrolável que senti quando Ivan Lins começou os primeiros acordes da horrível “Depende de Nós”.

THE SCRIPT
Quem é muito ingênuo ficou sem compreender qual o motivo da escalação de um grupelho pavoroso como este, uma banda da qual ninguém nunca ouviu falar por aqui – e mesmo lá fora -, mas o Tio Regis está aqui para explicar: ela faz parte do “pacote Queen”.
Não entendeu? Como o Tio Regis aqui é bem paciente com gente de boa índole, vou explicar um pouco mais: a agência que empresaria o Queen só assinou o contrato do show com a organização do evento mediante uma cláusula que incluiu a compra de um show da jovem banda irlandesa. É a velha tática de venda empregada por uma grande marca de refrigerantes pretos: para levar o “filé”, tem que comprar também muita “carne de pescoço”.
Ajudaria um pouco se o som do tal The Script fosse pelo menos razoável, mas não deu. Suas canções são simplesmente abomináveis, um chororô interminável que deve levar às lágrimas apenas a quem tem uma empadinha de frango mofado no lugar do cérebro. A mistura de Maroon 5 com um arremedo de U2 é algo que nem o mais perverso engenheiro genético ousaria criar. Jesus, que troço horroroso!
ONEREPUBLIC
Vou repetir o que escrevi na semana passada: tente imaginar, mesmo por apenas alguns segundos, uma banda que soe com o que de pior produziu o Simple Minds, o Coldplay, o U2 e o A-ha. Conseguiu? Então agora você tem uma leve noção do quão chato é o som deste grupo americano. O mais incrível é que esta gororoba, ao vivo, soa ainda pior.
Tudo é tão falso – a banda simplesmente toca por cima de seus próprios instrumentos previamente gravados, uma prática cada vez mais comum no show business – que qualquer traço de espontaneidade na execução foi simplesmente varrido. É como se você assistisse a um DVD ao vivo e em tempo real. Para piorar ainda mais, as canções são tão ‘deliciosas’ quanto espetar lâminas de bisturi embaixo das unhas.
QUEEN + ADAM LAMBERT
Antes de qualquer coisa, esqueça toda possível comparação. Não cabe aqui qualquer exercício infantilóide de querer enxergar no “menino” Adam Lambert a mínima semelhança com lendário Freddie Mercury. Nem mesmo no quesito “afetação”: perto de Lambert, Mercury pareceria o Rob Zombie. A questão toda se resume a um único aspecto: as canções do Queen soam bem na voz de Lambert? A resposta é clara e cristalina: não.
Para começar, ele coloca um tipo de impostação irritante em suas vocalizações, lotadas de vibratos, que tiram completamente a intenção que cada canção pede. Conta pontos o fato de ele não ter a ousadia de tentar imitar qualquer traço personalista da vocalização e da presença de palco que Mercury tinha, mas não dá para aturar um moleque que canta qualquer um dos inúmeros clássicos do Queen do mesmo jeito que cantaria uma daquelas aberrações ‘caprichadas’ da Mariah Carey em uma edição qualquer do American Idol. Aliás, foi de onde justamente ele veio.
É óbvio que ele é um cara afinado – todas as canções do Queen foram tocadas em seus tons originais -, mas isto não basta. Uma apresentação da banda de Brian May e Roger Taylor não é show de calouros. Também é óbvio que a inacreditável sequência de hits apresentada por si só cativaria até mesmo o Drácula, mas não deixa de ter certa amargura ao repararmos que tanto May quanto Taylor – cada dia mais parecido com o ator Anthony Hopkins – parecem se sentir extremamente confortáveis em tocar as canções mais pesadas com andamento bem mais lento e até contando com o filho de Taylor, Rufus Tiger – atualmente no The Darkness – dando um reforço nas batidas da caixa de bateria tocadas pelo pai.
Como “balada” de gente que ouve música com a mesma atenção apurada de uma sardinha, a apresentação foi “uhuuuu, animal!!”, “um arraaaaaaazzzzoooo!!!”, “fuóoooooooodddaaaaa!”. Para quem dedicou uma audição mais apurada, tudo não passou de um “grande show de Las Vegas”. Pena.
Amanhã vou publicar minhas impressões a respeito dos shows de sábado passado. Fique ligado! Retirado do site https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/minhas-impress%C3%B5es-a-respeito-do-que-assisti-211419056.html

3 comentários:

  1. ré-ré-ré... o Regis Tadeu sempre preciso. Não tive a coragem admirável dele para enfrentar todo esse abacaxi... ré-ré-ré... mas é reconfortante ler a confirmação que não perdi mesmo nada... quem quiser ler minha opinião, deixei-a nos comments da postagem sobre a opinião do Barcinski, logo abaixo.

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  2. KKKKKKK, concordo plenamente. Só vi (partes) do Queen e odiei e o Metallica, que até gostei, mas estava com sono, cansado e som pela tv perde muito do impacto para uma banda com seu peso. De tudo o que mais gostei foi o show da Baby com Pepeu, de emocionar. Preferi o show à rodada dos Brasileirão e não me arrependi. Taí uma homenagem aos 30 anos que valeu a pena. Em 85 estávamos lá e vimos o(bom) show da dupla. O garotinho que os uniu agora, estava na barriga dela naquele evento. Bacana!

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  3. No mais, concordo contigo nas impressões sobre o Rock in Rio. Um evento de entretenimento de moda, com algum rock de pano de fundo. Dificilmente voltarei a participar de alguma edição futura.

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