quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Resenha: Gary Clark Jr. - "The Story of Sonny Boy Slim"

Desde "Blak And Blu", disco que chegou às lojas em 2012, Gary Clark Jr deixou bem claro que sua música é uma mistura. É uma música na qual o novo encontra o antigo. O clássico se aproxima da vanguarda. E essa pegada que a gente pode chamar de atual continua forte em "The Story of Sonny Boy Slim". Parece fácil para Gary Clark Jr. passar do blues ao rock, cantar um hip-hop, emendar um R&B e soar folk em pouco menos de uma hora, tempo que duram as 13 faixas do álbum. E logo na primeira audição, se nota que o músico economizou nas guitarras - há menos riffs, menos momentos blues aqui, especialmente se compararmos este material ao disco ao vivo que o músico lançou no ano passado. O repertório já abre com uma amostra disso. "The Healing" tem uma introdução de vozes (no disco, mas não no vídeo abaixo) que dá a impressão que vem vindo um blues das antigas. Até que Gary Clark Jr entra com 'yeahs' ao estilo hip hop enquanto a faixa acaba se mostrando um rock blues meio soul, meio pop. Mas é preciso prestar atenção naquilo que o guitarrista canta: "Essa música é minha cura". 
E essa cura passa por faixas mais pesadas e distorcidas como "Grinder", momentos minimalistas como "Star", românticos como "Our Love" e espirituais como "Church". No meio disso, "Can't Sleep", uma faixa bem pop, chama a atenção, e "Stay" é um dos pontos altos do repertório. Já no final do álbum, "Shake" inicia remetendo a "My Generation" (The Who) e depois desemboca num blues rock que parece ter sido gravado em uma garagem. É uma faixa com jeito de jam feita entre amigos, que soa despretensiosa e apesar de ter apenas 3 minutos e 18 segundos, você consegue imaginar a banda a tocando num palco por pelo menos o dobro do tempo. "Down To Ride" fecha o repertório depois dessa viagem ao Mississipi que foi "Shake". É um R&B nos moldes românticos que dá uma quebrada na sensação blues e te joga nos anos 1990. Uma forma estranha de encerrar o álbum. Os fãs de guitarra blues não irão apreciar esse disco: porque "The Story of Sonny Boy Slim" traz menos guitarras do que o esperado, porque traz muitos yeahs e yos e porque sua produção grandiosa faz o disco parecer embalado para presente - um presente pop, para tocar em FMs.
Ao contrário da sonoridade, que passeia de um lado a outro, a lírica do disco tem uma unidade, ainda que este não seja conceitual. O título já nos diz bastante. Ele é a união de dois apelidos do músico: Sonny Boy, como sua mãe o chamava, e Slim, como o chamavam alguns amigos. Junto a algumas reflexões que Gary Clark Jr faz a respeito de seu tempo - os problemas em Ferguson e Blatimore estão nesse caldeirão - dá para dizer que "The Story of Sonny Boy Slim" é um disco pessoal. Inclua nisso tudo o fato do repertório ter sido escrito e produzido pelo próprio músico que tocou boa parte dos instrumentos e podemos dizer que Gary Clark Jr está buscando seu próprio caminho. E se por causa de suas escolhas pode correr o risco de perder alguns fãs mais ortodoxos, bem, que seja. O nosso tempo, esse no qual ser vintage é ser moderno e ter elementos do hip hop e do R&B ao lado do blues costuma ser coisa bem aceita, produz artistas híbridos mais ou menos interessantes. Gary Clark Jr. certamente está no primeiro grupo.
Retirado do site http://www.territoriodamusica.com/rockonline/resenhas/?c=5690

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