O Autopsy foi fundado por Chris Reifert, ex-baterista do Death (que já foi destaque nesta coluna metaleira dominical - leia aqui) com quem gravou o famoso álbum de estreia deles "Scream Bloody Gore", de mai/1987, em San Francisco, CA. Logo após Chuck Schuldiner (líder do Death e considerado "pai do Death Metal") decidir voltar para Orlando, FL, Reifert, que ficou na Bay Area, resolveu fundar outra banda, a Autopsy. Isto foi em ago/87. Reifert (bateria e vocais principais), Eric Cutler (guitarras) e Eric Eigard (baixo) gravaram uma fita demo, "Demo '87" (em dezembro daquele ano).
Reifert e Cutler eram os principais compositores. Foi uma época em que não existia uma cena "Death Metal" na Califórnia (talvez, apenas o Sadus e o Hexx estivessem tocando algo parecido). Influenciados por filmes de horror (pense "A Hora do Pesadelo", de 84, de Wes Craven, com Freddy Krueger), eles começaram a fazer shows. Pouco depois, Ken Sorvari entrou no baixo e também Danny Coralles nas guitarras. Com esta formação, conseguiram chamar atenção do selo indie inglês Peaceville Records, que ficou impressionado pela força da segunda demo, "Critical Madness", de jul/1988, que virou uma febre nos círculos de trocas de fitas.
"Severed Survival", o álbum de estreia e um dos discos seminais do Death Metal, surgiu em abr/89, já com o baixista do Sadus, Steve DiGiorgio (extraordinário em seu baixo fretless). A Bay Area, uma vez tomada pelo tsunami Thrash Metal, agora rapidamente migrava para outra temática, bem mais doentia e perversa, dentro de um ataque ainda mais avassalador e maníaco. A sonoridade viciante de faixas como "Charred Remains", "Ridden With Disease" e "Pagan Savior" era selvageria num grau inédito, pura e bruta, talvez associada pela incompetente produção, mas guiada pelas letras assustadoras de Reifert (dê só uma olhada nas letras de "Disembowel" e da faixa-título) capazes de dar calafrios nas espinhas dos ouvintes. Junte-se o approach animalesco, sonoridades tenebrosas e passagens amaldiçoadas (em "Service For A Vacant Coffin", "Impending Dread" e "Critical Madness"), os viscerais e guturais vocais de Reifert, remotos elementos de melodia totalmente pulverizada por aquela brutalidade áspera, além da atmosfera perturbadora e desagradável. Afiado e selvagem, irrompendo guitarras turvas feito gordura, vômito e sujeira endurecidos em tubos de esgoto, intensidade incrível, bateria animalesca (porém sem blastbeats), ameaçadora e bárbara pressionando seu cérebro com força (para sempre adaptar as estruturas rítmicas às constantes mudanças de riffs), um ataque insano sob reinado impiedoso de Reifert, enquanto o lendário DiGiorgio agregava seu dedilhado marca-registrada dentro e fora da massa de guitarras feito um possuído. Em cima disto tudo, os vocais e as letras grunhidas, arrotadas e vomitadas (reunindo todo tipo de insanidade e impossíveis de serem compreendidos) firmando um padrão para todo o sub-gênero (tanto em temática - necrofilia, profanação de cadáveres, mortes violentas, pestes e doenças - quanto na estética). Realmente, os vocais eram perturbadores: tão diferentes, tão horripilantes, tão não humanos, tão doentios. Por tudo isso, "Severed Survival" permanece como um dos primeiros (e grandes) discos definidores do "Death Metal".
Curiosamente, dali para frente, eles adotariam um estilo mais Doom Metal (como pode ser atestado em seus EPs "Fiend For Blood" e "Retribution For The Dead", assim como no segundo LP, "Mental Funeral", todos lançados em 91). Um terceiro LP, "Acts Of The Unspeakable" (de out/92, já com o baixista Josh Barohn), com canções menores e mais na linha Grindcore, foi o último ato dessa primeira fase do Autopsy, que se separaria em 95 (rolou uma reunião de 2008 e a banda voltou a ativa).






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