Vindo de Palm Springs, CA, o Kyuss (pronuncia-se "kaius") tornou-se uma espécie de "Velvet Underground" do Heavy Metal. Explico: embora a banda seja hoje amplamente reconhecida como pioneira da cena Stoner Rock, ela gozou de mínimo sucesso comercial durante sua curta existência e ganhou status de "cult", mas sua contribuição musical (combinando Hard Rock, psicodelia, Blues-Rock, Acid Rock, em guitarras pesadas com afinações baixas muitas vezes tocadas em amplificadores para baixo elétrico exatamente para criar máxima intensidade e efeito de grave profundo capaz de emular terremoto sonoro, riffs muito grossos em andamentos médios, criando atmosferas pantanosas, jams espaciais, produção retrô em clima setentista), tornou-se uma marca-registrada muito copiada e replicada por incontáveis bandas que lhes sucederam.
Formada em 1989, sob o nome de Katzenjammer, a banda era então composta por John Garcia (vocais), Josh Homme (guitarras), Chris Cockrell (baixo), Brant Bjork (bateria) e Nick Oliveri (guitarra-base). Essa formação foi bem inicial e tentou tocar canções do Black Flag, porém sem sucesso (por serem velozes demais para eles). Não durou muito, Oliveri saiu (para se mudar da cidade, por um ano) e eles trocaram de nome para "Sons Of Kyuss" (inspirados em uma criatura do jogo "Dungeons & Dragons") e passaram a tocar nas chamadas "generator parties" (festas no meio do deserto regadas a bebidas e drogas ilícitas, em que as bandas usavam geradores movidos a gasolina para produzir energia para os equipamentos). Josh Homme começou a ganhar reputação por seu talento e por tocar guitarra elétrica através de amplificadores de baixo criando um som pesado/grave e bem psicodélico.
Após gravarem uma fita-demo e um EP independente (chamado "Sons of Kyuss", abr/90), Chris Cockrell resolveu deixar a banda e Nick Oliveri voltou assumindo o baixo, exatamente quando eles conseguiram assinar um contrato com o minúsculo selo independente "Dali Records". Encurtaram o nome para Kyuss e lançaram o álbum de estreia, "Wretch", em 1991. Apesar de hoje ser considerado um "elo perdido entre o Rock pauleira setentista e o Heavy Metal dos anos 90", esse álbum foi completamente ignorado pela mídia e pelo público, em sua época. Considerando que eles eram fãs do Black Flag, eram perceptíveis as influências Hardore Punk (principalmente na base rítmica). Entretanto, junto havia riffs gigantescos lotados de Fuzz destruindo os auto-falantes. A especialmente selvagem faixa de abertura "Hwy 74" já começava a mil por hora. "Stage III", que fechava o álbum, totalmente distorcida, psicodélica e arrastada, encapsulava o estilo deles. Entre elas, havia grandes destaques ("The Law", "Isolation", "Love Has Passed Me By") todas com incríveis riffs de guitarra, baixo sensacional saltando e em destaque, vocais gritados, tosqueiras gigantescas. Quando a banda diminuía o ritmo e se prendia à batidas arrastadas e cadenciadas (como em "I'm Not", "Big Bikes" e na incrível "Son Of A Bitch"), a coisa ficava ainda mais sensacional. Cru, sujo (espécie de "Raw Power" ou "Kick Out The Jams" do Stoner Rock), com guitarras possuídas e canções variando entre o ataque rápido/feroz e experimentos onde o Kyuss buscava encontrar seu som. Josh Homme tinha 18 anos, Garcia tinha 21.
Descontentes com a gravação e com a distribuição do disco, a banda se concentrou em seus shows, seu grande forte. Turnês esporádicas começaram a lentamente trazer-lhes atenção e dar-lhes reputação de banda feroz e respeito dos demais músicos. Conheceram Chris Goss (vocalista e líder da banda Masters Of Reality, um crossover entre King Crimson e Black Sabbath, ambos no início) e o convidaram para produzir o próximo álbum. A colaboração gerou "Blues For The Red Sun", lançado em jun/92 e logo aclamado como um marco. Um dos pilares do chamado movimento Stoner Rock, sucesso de vendas (chegou ao nº. 37 na Billboard e o clipe da faixa "Green Machine" ficou em primeiro lugar por semanas), pesadíssimo (com a guitarra de Josh Homme afinada duas escalas abaixo e plugada num amplificador para baixo gerando máxima distorção), este trabalho realmente foi o que capturou o som único da banda. Às vezes algo sinistro/arrastado, noutras galopante, porém sempre pesado feito chumbo, sempre explosivo, sempre poderoso. O álbum tomou o mundo underground de assalto feito um furacão e estabeleceu o Kyuss como uma potência. Aquele peso amaldiçoado tipo Black Sabbath, a distorção Fuzz grossa do Blue Cheer, o Space Rock do Hawkwind, flashes cheios de psicodelia, Garcia cantando muito, grooves enormes e viagens sonoras. Surpreendente na fórmula, a verdade é que tais elementos se amalgaram perfeitamente criando uma obra-prima. Muito melhor produzidos do que na estreia, com Josh na ribalta tocando feito um possuído com intenso fervor e absoluto fogo (sua guitarra por vezes lembra Jimi Hendrix e toda sua glória - se você sempre quis saber onde ele criou toda a fama que possui hoje, foi aqui), as faixas evocavam diferentes vibrações levando os ouvintes para diferentes lugares. A atmosfera desértica (que inclusive serviu para lhe criar um rótulo) em faixas típicas para se ouvir dirigindo ao longo das estradas e tantos momentos incríveis ("Thumb", "Green Machine", "Thong Song", "Mondo Generator", "Freedom Run", "Allen's Wrench" etc.) eternizaram esse disco e sua épica viagem ácida. Na sequência, eles assinariam com a Elektra Records, perderiam Oliveri, soltariam outro discaço ("Welcome To Sky Valley", de 94, quase tão bom quanto "Blues For The Red Sun"), conflitos internos começariam, eles perderiam Brant Bjork, soltariam o menos inspirado "...And The Circus Leaves Town" (de 95) e uma briga final entre Josh Homme e John Garcia poria fim à meteórica carreira do Kyuss.






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