quarta-feira, 19 de julho de 2017

A paixão por colecionar discos

Com a contínua ressurgência do disco de vinil, um monte de opiniões começaram a pipocar sobre o fenômeno. Gente que é a favor ou contra o "Record Store Day", diversos livros (como o "Dust & Grooves: Adventures In Record Collecting") e vários filmes documentários sobre o hobby de colecionar discos de vinil. Claro, surgem teorias malucas do tipo "colecionadores de discos são caras velhos e tristes, com problemas de conexão com a humanidade em suas sofridas vidas que se utilizam do hobby para preencherem o gap emocional e obterem um senso de propósito... Kkkkkk), das quais eu discordo frontalmente. Rejeito basicamente, porque eu sou um dos apaixonados colecionadores de discos, desde a minha primeira juventude, e meu amor não tem nada a ver com problemas sociológicos ou psicológicos. É apenas uma identificação, um prazer e algo que me aproximou das pessoas que eu mais gosto nesta vida. Em 2008, surgiu o DVD "I Need That Record!", do diretor Brendan Toller, um doc sobre a cultura das lojas de disco e sua sucessora, os streaming e downloads via internet surgidos com a evolução tecnológica.
Mais recentemente, "Record Collecting Dust", outro doc muito bom foi lançado (também em DVD), do diretor Jason Blackmore, basicamente perguntando para um monte de artistas famosos 'qual foi o primeiro disco que você comprou?', e 'Qual foi o mais recente?', e 'Se você tivesse uma arma apontada para sua cabeça e tivesse que reduzir sua coleção a 5 discos, quais seriam eles?'. É um troço muito interessante e divertido. Ver Keith Morris (vocalista do Black Flag e do Circle Jerks) exortar as virtudes de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", ou Jello Biafra (vocalista dos Dead Kennedys) falar de "Space Ritual" do Hawkwind, ou Mike Watt (baixista dos Minutemen e dos Stooges) citar "American Woman" do Granfunk Railroad, entre tantos, é realmente uma maravilha. Há cenas muito bacanas quando, por exemplo, John 'Speedo' Reis, guitarrista do Rocket From The Crypt aparece apresentando seus LPs favoritos a seu filhinho. Eu sempre adorei estórias de descobertas musicais contadas pelos meus amigos e ver esses músicos famosos fazendo o mesmo é duca. Há problemas como um exagero em se concentrar mais em Los Angeles (eu adoraria ouvir o mesmo tipo de questionamento feito a artistas ingleses), ou se concentrar mais em colecionadores masculinos, mas isto é mínimo em relação ao resultado final. Por que, em resumo, é tudo sobre a magia da paixão de colecionar LPs e discos em geral, conhecer música nova (ou velha) que você não sabia que existia e que lhe encanta totalmente. A palavra "fã" vem de outra: "fanático". E talvez, seja isto mesmo, o amor de manter-se explorando, pesquisando, mesmo já tendo uma grande discoteca, mesmo tendo discos lacrados (sem nunca tê-los ouvido), mas a ideia sempre foi "há um tipo de música para cada estado de espírito", então não há porque se obrigar a ouvir algo quando não se está a fim, ou deixar de adquirir um novo item só porque já há tantos outros. Sempre haverá um momento especial para se sentar calmamente e ouvir aquele. Nunca tive paciência para esse papo de "não há mais boas bandas", ou "o Rock morreu", ou "para quê ficar gastando dinheiro com isto?". Tudo bobagem. Cada um gasta seu dinheiro com aquilo que aprecia e prioriza em sua própria vida e manter-se aberto para conhecer novidades (sejam elas novíssimas ou velhíssimas) sempre foi a chave para não ficar preso a um enjoativo círculo fechado. Uma grande descoberta sonora pode causar mais prazer do que muita coisa por aí. Música é alimento para o espírito e isso sempre será importante, muito importante, pelo menos para aqueles que têm sensibilidade nessa vida.

Um comentário:

  1. Uau, esses docs devem ser duca mesmo! Colecionar discos é coisa de quem tem problema sociais??? Kkkkk, pra mim é exatamente o contrário. Ouvir música e jogar bola foram atividades em que eu mais me conectei com as mais diversas pessoas e de onde extraí minhas mais longevas amizades. Muito mais do que nos colégios, cursos ou universidade. Hoje a facilidade de se obter os tão sonhados álbuns é enorme e uma grande vantagem, mas como sinto falta das quase extintas lojas de discos. Eram polos de convivência. Devo ter passado uma significativa parte da minha vida perambulando por elas em várias partes do Brasil e, mais recentemente, do mundo. Cada colecionador e cada disco tem sua história marcante e nós, colecionadores, lembramos de cada uma delas, de cada item do nosso acervo. A gente se considera prodigiosos colecionadores e conhecedores, imagine transportar isso para o Primeiro Mundo, onde a oferta, as possibilidades, as facilidades de recursos e a atividade sempre foi estimulada!

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