domingo, 2 de julho de 2017

Grandes discos do Heavy: Immolation - "Dawn Of Possession" (1991)

Uma das bandas do Death Metal norte-americano mais influentes, o Immolation foi formado em Yonkers, NY, em mai/1986. Originalmente chamado de "Rigor Mortis", o grupo começou com uma dupla: Dave Wilkinson (bateria) e Andrew Sakowicz (baixo e vocais).
Dave, Andrew, Bob e Tom
Em ago/86, eles soltaram uma fita demo chamada "Peace Through Tyranny". Já como um quarteto (agregando Tom Wilkinson e Robert Vigna, nas guitarras), eles soltaram outra demo, em jul/87, chamada "Decomposed". O som era brutal parecendo uma tribo de mutantes pós-apocalipse dançando ao redor de tambores de lixo incendiados numa cidade abandonada. Não era completamente satânico, mas um tipo de trilha-sonora do fim dos tempos. Implacáveis na entrega, a banda não era para quem procurava melodias ou harmonias. Letras primitivas cheias de maldade, vocais guturais e torturados, sentimento de desespero e tormento, bases pesadas, estruturas simples, muita velocidade, um Death Metal do início. Com a mesma formação, gravaram no final de 87 no Sleepy Hollow Sound, em Dobbs Ferry, NY, outra demo, "Warriors Of Doom". O single "Rigor Mortis" surgiu na sequência.
Em fev/88, Robert Vigna e Thomas Wilsinson (os 2 guitarristas) resolveram juntar-se ao frontman Ross Dolan (baixo e vocais) e ao baterista Neal Boback. Em abr/88, mudaram o nome para "Immolation" e gravaram duas demos: "'88 Demo", de jul/88, e "Immolation", de jun/89.
Bob Vigna, Ross Dolan, Craig Smilowski e Tom Wilkinson.
Já com Craig Smilowski na bateria (entrou em 89), eles conseguiram um contrato de gravação com o famoso selo Roadrunner Records por onde lançariam o álbum de estreia, "Dawn Of Possession" (em jul/91). Vamos contextualizar: no final da década de 80/início da década de 90, o Death Metal ainda era um sub-gênero começando, não conhecido e em busca de afirmação. A Roadrunner Records ainda não era a potência global que se tornaria. Ou seja, esse primeiro álbum do Immolation trouxe a banda desenvolvendo um estilo que se tornaria depois muito comum no Metal: vocais em grunhidos monstruosos (impressionantemente bestiais e não humanos), riffs de guitarra e bateria tocados com precisão meticulosa e letras com temáticas Death ("Into Everlasting Fire", "Internal Decadence", "Burial Ground" etc.) totalmente sombrias, desoladoras e assombradas (muitas questionando a vida pós-morte, o perdão de Deus e defendendo anti-religião). Não ficou famoso como "Masters Of Puppets" ou "Reign In Blood", mas foi um disco certamente notável e de grande importância. O próprio Immolation foi ficando mais e mais técnico (e também mais punitivo - consequentemente mais "difícil" para incautos) nos álbuns seguintes, mas aqui neste começo foi onde criou seus riffs mais sinistros e assustadores. A capa (uma arte de Andreas Marschall) já antecipava a sonoridade: imagens de demônios subjugando anjos num céu vermelho fornecendo base para uma experiência sonora de arrepiar. Atmosferas infernais, incrivelmente pesadas e radicais, graças aos riffs Thrash, porém tocados com afinações baixas para resultados impactantes. A bateria era tocada tentando seguir as guitarras (cheias de mudanças de ritmos) criando uma camada frenética (que acentuava os climas - e não apenas ficava marcando ritmos), mas também era um capítulo à parte no quesito destreza e criatividade. Solos de Vigna eram retorcidos, mórbidos, agregando camadas de escuridão e mal. Fácil um dos maiores álbuns de estreia do Metal.
P.S.: A banda seria então defenestrada numa limpa que a Roadrunner fez em seu cast. Cinco anos se passariam (período em que eles assinaram com a Metal Blade) até o lançamento do trabalho sucessor, "Here In After", de fev/96. O disco trouxe a banda ainda mais Death Metal (com menos elementos de Thrash Metal). Os riffs dobrados e sinuosos ainda eram abundantes, mas as canções agora eram bem mais complexas e harmonicamente densas. Acordes dissonantes, blastbeats, passagens lentas, rastejantes e muito sombrias, sensações perturbadoras e vacilantes, acordes graves radicais, performances extremamente técnicas (com precisão mecânica), tempos de batidas bizarras, acrobacias nos solos parecendo trilha sonora da chegada de um navio fantasma cheio de zumbis. A capa novamente era duca: um monte de demônios desesperados na frente de um estranho portão, sofrendo aparentemente pela aparição de um anjo (!?). Bem, demônios sofrendo, convenhamos, é uma introdução ótima para qualquer grande disco de Death Metal. Grunhidos animalescos poderosos, letras ininteligíveis (mas variando do niilismo ao pessimismo, sempre desfilando desprezo e ressentimento pelo Cristianismo), guitarras fantásticas, riffs complexos e bem estruturados, tudo totalmente demoníaco, solos incrivelmente técnicos, climas ultra opressivos, noutro disco obrigatório nesta seara.

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