sábado, 8 de julho de 2017

Grandes discos do Heavy: Solitude Aeturnus - "Through The Darkest Hour" (1994)

Formado na primavera de 1987, o Solitude Aeturnus começou quando John Perez desistiu de sua banda anterior de Thrash Metal, "Rotting Corpse". Perez, veterano da cena metaleira do Texas, estava cansado das "limitações" do Thrash e procurava um som novo. Ele adorava bandas como Witchfinder General, St. Vitus, Black Hole e Nemesis (todas do clássico Doom oitententista) e decidiu migrar para esta sonoridade. Então, ele se juntou a Brad Kane (bateria), Kris Gabehardt (vocais), Tom Martinez (guitarra) e Chris Hardin (baixo) e começou a compor canções e ensaiar.
Isto foi até dez/87, quando a banda entrou num estúdio em jan/88 para gravar a hoje lendária fita demo "Justice For All" (nove meses antes do famoso álbum "...And Justice for All", do Metallica, lançado em set/88). Nesta época, o nome da banda era apenas "Solitude" (só 2 anos depois é que eles seriam forçados a mudar o nome para "Solitude Aeturnus"). Após o lançamento desta demo, seguiram-se vários shows ao redor de Arlington, TX. A resposta foi morna, afinal ninguém do Texas sabia o que pensar daquele tipo de som. No final de 88, aconteceram mudanças na formação até que fixaram-se com Perez (guitarras), Edgar Rivera (guitarras), Robert Lowe (vocais, que também cantaria no "Candlemass"), Lyle Steadham (baixo) e John "Wolf" Covington (bateria). Esta formação duraria pelos próximos 7 anos. Juntos, gravaram uma segunda fita demo chamada apenas "Demo 89" contendo 2 faixas clássicas, "Mirror Of Sorrow" e "Opaque Divinity".
Esta fita de apenas 2 canções chamou a atenção do selo independente "King Klassic" que firmou um contrato e os levou-os até o prestigioso estúdio Dallas Sound Lab, em jan/90, onde gravaram seu clássico álbum de estreia, "Into The Depths Of Sorrow". Mas a história desse lançamento é complexa. Após um primeiro mix desastroso, a banda voltou ao Sound Logic Studios (onde as duas demos haviam sido gravadas) para um remix. Foi um pesadelo consertar tudo, mas a banda conseguiu capturar a crueza de seu som. Tudo foi feito pela modesta quantia de 3 mil dólares e em sete dias, incluindo o remix. Mesmo pronto e entregue, o álbum sofreu atraso porque a King Klassic não tinha dinheiro para lançá-lo. O disco acabaria sendo licenciado para a Roadrunner Records para onde a própria banda migraria. Finalmente, após tantas idas e vindas, o álbum viu a luz do dia em jul/91, um ano e meio após ter sido gravado. Nessa época, o Doom Metal norte-americano estava já ganhando reconhecimento, graças ao trabalho de bandas pioneiras como Trouble, St. Vitus e Obsessed. Demonstrando grande influência dos suecos do Candlemass, de cujo clássico álbum de estreia, "Epicus Doomicus Metallicus" (de 86), vinha o nome da banda e muito da sonoridade (vocais operísticos, formato épico das canções, alternância entre passagens tipicamente Doom com ritmos galopantes e até rajadas Thrash), o Solitude Aeturnus criava suas boas composições pesadas feito chumbo derretido ("Dream Of Immortality", "White Ship", "Mirror Of Sorrow"), ainda que algumas delas fossem talvez arrastadas além do necessário. Um grande destaque eram os solos de guitarra de Perez e Rivera. Embora o rótulo de "Candlemass norte-americano" tenha ficado grudado na banda por toda a carreira, esta estreia gerou elogios por suas verdadeiras qualidades. Não houve excursões para promoção do disco porque nessa época eles já estavam trabalhando no segundo álbum. Em mar/92, entraram no Sound Logic Studios para gravá-lo. Com um orçamento bem maior, o resultado foi também superior. "Beyond The Crimson Horizon", lançado em jul/92, trouxe o Doom europeu inicial sob melhores padrões de produção, gerando um resultado mais impactante em faixas como "Black Castle", "The Final Sin" e "Beyond...".  Com faixas menores e mais compactas, as canções eram amplamente energéticas ("Beneath The Fading Sun", "It Came Upon One Night", "Seeds Of The Desolate"), com ótimos riffs e vocais operísticos plainando alto. Uma turnê naquele novembro junto com o Killers (do Paul Di'Anno) se seguiu com grande sucesso. Em fev/93, eles foram demitidos da Roadrunner, o que acabou sendo um alívio já que eles nunca haviam recebido o adequado apoio da gravadora. Em dez/93, conseguiram novo contrato de gravação com o Pavement Records e decidiram viajar para a Inglaterra para gravar o terceiro álbum. "Through The Darkest Hour", gravado em mar/94 no Rhythm Studios, mas só lançado em nov/94, se tornaria o melhor trabalho deles ao mostrar uma direção mais simples e pesada. A produção também era das melhores e claramente a banda rumava para um patamar acima. Artilharia de riffs e trocas rítmicas impressionantes, com Lowe cantando muito (ainda que num estilo pomposo que não agrada a todos), em faixas como "Falling", "Pain", "Eternal (Dreams Part II)", "Perfect Insanity" e "Shattered My Spirit", a banda pegava o som já desenvolvido nos dois trabalhos anteriores e o aperfeiçoava. Com um groove ainda mais Black Sabbath e deixando de lado o estilo mais épico (típico do Candlemass), o som era esmagador e ultra pesado. Sem firulas, tudo puro e simples, em riffs memoráveis e incríveis (Perez e Rivera se complementavam à perfeição), solos descaralhantes, Lowe encontrando equilíbrio e controle nos vocais (sem exibicionismos), construindo energia e emoção. Uma maravilha e essencial em qualquer discoteca do Metal.

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