quarta-feira, 12 de julho de 2017

Grandes solos de guitarra: Eruption - Van Halen



Não fui só eu que fiquei estupefato ao ouvir a segunda faixa do lado A do álbum de estreia do então novato grupo americano Van Halen. Guitarristas notáveis e o mundo do rock como um todo entrou em erupção (sic) com Eruption. Começava a década de 1980, de muitas mudanças e surpresas na seara roqueira. O disco, pra mim um marco do rock pesado e até hoje um dos melhores do gênero, havia sido lançado dois anos antes. A banda chegava para nós, roqueiros do Terceiro Mundo, como uma grande novidade sonora e com fama de revolucionária. Tão logo pude adquirir o disco todas as expectativas foram confirmadas. Tanto que na semana seguinte adquiri o Van Halen II, que foi lançado no Brasil junto com o primeiro.

Eruption não é uma música convencional, não tem vocais. É um solo de guitarra em forma de música. Até então, só havia ouvido algo parecido em Bourée, do Jethro Tull, que também era um arrojado solo de flauta em formato de música. Por meio desse solo-música, o holandês radicado na Califórnia, Eddie Van Halen, popularizou a técnica tapping, que embora não fosse inédita, virou sua marca registrada. Além do uso das duas mãos ao solar, a utilização simultânea da alavanca acrescentou a assinatura especial de Eddie, transformando-o em um dos monstros sagrados da guitarra elétrica. Até hoje, Eddie é seguido e imitado por muitos guitarristas, portanto pode-se dizer que ele criou um estilo próprio, que se propaga até hoje, 40 anos depois.

Eruption é de grande complexidade técnica. Foi executada com uma Fender Frankenstrat, um modelo especial da Fender Stratocaster com captação dupla, que também virou guitarra símbolo de Eddie. A sonoridade alcançada foi possível com uso de pedais MXR Phase 90 e o mítico amplificador Marshall 1959, o preferido de 11 entre 10 guitarristas de rock dos anos 70/80. Eddie também usa o timbre Chorus na saturação da guitarra, fazendo parecer uma harmonia dobrada. Atualmente o pedal usado por Eddie não existe mais no mercado e o Marshal 59 virou item de coleção, mas com a evolução dos equipamentos digitais é possível alcançar o mesmo timbre com efeitos loop ou o mesmo chorus antes do overdrive, mas aí é papo para instrumentistas nerds.

Eruption é, acima de tudo, tocada com o coração e a alma do genuíno rock and roll e o álbum primogênito do Van Halen se tornou uma pedra fundamental do heavy metal. Em meados dos ano 80, eu estava pirado com a sonoridade etérea e erudita do rock progressivo e “me livrei” de vários discos de rock pesado com orientação heavy que eu possuía (já cansei de chorar essas pitangas aqui). Um dos poucos que salvei da “limpeza” foi o primeiro do Halen, ao lado dos petardos do AC/DC.

2 comentários:

  1. Ufa, ainda bem, brow. Esses primeiros do Van Halen são demais. Aliás, taí uma banda que merece uma retrospectiva aqui no Mural, até porque aqueles álbuns a partir de 1984 merecem uma reavaliada sob a ótica atual. Voltando ao solo de "Eruption" é um daqueles amplamente considerados um dos maiores solos de guitarra de todos os tempos. Perfeito para esta coluna. No álbum de estreia ele funciona emendado com "You Really Got Me", com enorme impacto. "Eruption" também foi lançada como lado B do single de "Runnin' With The Devil". No início de "Eruption" ainda há um breve acompanhamento de Alex e Michael Anthony, mas logo o gênio Eddie se vê solto e livre. Um dos destaques é o uso da técnica referida pelo brother Marcão chamada "Tapping". Em "Eruption", Eddie Van Halen abusa e usa o "tapping" feito pelas duas mãos, ao mesmo tempo. Um show. Foi gravada no nosso R'n'R Landmark dessa semana (que coincidência!!), no Sunset Sound Studio. Eu penso que um dos aspectos que mais marcaram toda aquela geração foi o uso do "tapping" de 2 mãos dentro de uma estrutura melódica erudita. O impacto foi o de uma bomba atômica no Rock. Originalmente, nos shows iniciais do Van Halen (em 1976), "Eruption" era tocada, mas sem o "tapping". Aliás, o "tapping" de uma mão era bem conhecido dos guitarristas até então, mas o de 2 mãos de Eddie foi uma revolução, ainda mais com as escalas eruditas. Inicialmente, ela nem entraria no álbum (era apenas o momento nos shows para o solo de Eddie). Mas Ted Templeman ouviu quando Eddie a tocou dentro do estúdio, feito um aquecimento e um ensaio para um show naquela noite no Whiskey a Go-Go, e ficou boquiaberto e decidiu incluí-la no disco. Numa entrevista, Eddie contou: "Cara, eu nem a toquei direito. Há um erro quase no final. Hoje em dia a ouça e penso 'pô, eu podia tê-la tocado bem melhor'". Uau!!!! "Spanish Fly", um solo em violão do álbum II é vista como uma espécie de "Eruption versão para cordas de nylon". A revista Guitar World já colocou "Eruption" como o nº. 2 entre os maiores solos de guitarra. É mole ou quer mais?

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  2. É fantástica mesmo. E ainda foi tocada errada??? É como a intro de Smoke and Water no Made in Japan, quando Blackmore perceptivelmente erra um acorde, mas a emenda saiu muito melhor do que o soneto e virou um grande charme da versão ao vivo, pois ele teve que alterar todo o sequenciamento e ficou duca.
    Essa técnica do tapping em estrutura melódica mudou os rumos do rock, abrindo uma nova e poderosa vertente.
    Voltando a Eruption, realmente a sacada de emendá-la com um dos maiores petardos já produzidos pelo rock (You Really Got Me) soou como uma bomba atômica na versão vanhalense!!!

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