Conheci o Nektar meio por acaso. Em plena aborrescência juvenil, engatinhando no rock, sem qualquer informação sobre o gênero ainda maldito no Brasil dos anos de chumbo, me encantei pela capa de um álbum que não era esse em questão. Era o Sounds Like This. Outro fator que me chamou a atenção era o selo “Sábado Som”, um programa que passava nas tardes de sábado na TV Globo e que os roqueiros da minha geração amavam, além de ser uma das poucas fontes de informação que tínhamos. Adquiri na saudosa (e única) loja de discos da época em JF, a Presentex. Bola dentro, discaço interessante.
Depois disso nunca mais vi qualquer outro disco do grupo ou obtive qualquer informação durante anos. Até que, por acaso, tive acesso a um sebo de discos em Ipanema, no Rio, quando voltava da praia em plenas férias. O dono viu que se tratava de um tarado, pois passava todos os dias lá antes e depois da sessão praiana, e me ofereceu enviar o catálogo pelos correios mensalmente. Ele também não deu com os burros n’água, pois a partir daí fiz várias compras por telefone, pagando com o vale postal, um serviço dos Correios da era pré digital. Em um desses catálogos que recebi havia diversos discos do Nektar, minha então banda cult. Adquiri por meio deles Remember the future, Journey to the Centre of the Eye e A Tab in The Ocean. Não me contive de felicidade, parecia ter descoberto petróleo no fundo do meu quintal. Todas as capas sensacionais e o conteúdo musical misteriosamente rico e delicioso.
A Tab in the Ocean se tornou meu predileto, a começar pela belíssima capa, algo psicodélica, algo futurista e muito misteriosa. Para aumentar ainda mais meu deleite, a capa do vinil se abria em quatro partes dobráveis, formando algo como um embrulho para o bolachão. Até hoje, tenho-a como uma relíquia, um carinho todo especial, mesmo possuindo o CD em edição remaster importada. Tudo por causa da história que envolvia minha atração pelo grupo e também pela conquista que representou a aquisição do álbum à época e, claro, o conteúdo musical sensacional.
A arte das capas do Nektar são de autoria do artista alemão Helmut Wenske. Aliás, durante muitos anos acreditava que se tratava de uma banda alemã. Na verdade, um grupo fundado por ingleses em território alemão (Hambrugo). Só nos anos 90, quando passamos a ter mais informações, é que soube se tratar de um grupo britânico. O lado positivo dessa “ignorância” é que me abriu os olhos (e ouvidos) para o rico rock feito na Alemanha.
A capa de A Tb in The Ocean se casa perfeitamente com o som do álbum, cujos temas são fortemente influenciados por ficção científica. No caso específico, se relaciona fortemente ao tema ameaça nuclear. Lançado em 1972, A Tab in The Ocean é o segundo álbum da banda e marca o afastamento da psicodelia empreendida no debuto Journey to The Centre of The Eye. Apresenta um som mais sinfônico e pesado. Trabalho emblemático na carreira do Nektar, o disco foi responsável por sedimentar a popularização do grupo na Alemanha, espalhando-se pela Europa abrindo portas na América, onde o conjunto sempre teve boa receptividade, embora não fosse um território fértil para o rock progressivo (poucas foram as bandas dessse gênero que obtiveram boa repercussão por lá).
O disco é aberto pela música título, um épico de 17 minutos. A Tab in the Ocean é de uma força incrível durante seus mais de 40 minutos. Impossível não apreciar a bateria vintage, o órgão carregado e imperioso e a guitarra super inspirada que formam os pilares de sua sonoridade rica e intensa. Outra característica marcante é a primazia com que o grupo é capaz de alternar as partes pesadas com outras suaves, com destaque para a pegada hard da cozinha. E a capa...ah não tem como apreciar essa maravilha da arte contemporânea psicodélica.




Putz, que delícia de história heim brow. Lendo a gente faz uma viagem no tempo. Qdo voltar à torre do Rock vou te pedir para ver essa capa quádrupla do Nektar. Por essas e outras, que as capas em vinil são insubstituíveis. Parece que não há shows (imagens) do Nektar nessa fase do início dos anos 70, mas acabei de baixar aqui nesta semana (haja sintonia heim brow) um vídeo deles nos anos 2000. Farei logo mais uma sexta roqueira Nektar em sua homenagem. Viva!
ResponderExcluirNos anos 2000 eles viviam um interessante período de revival, com shows interessantes, tours e até discos (mas acho que nada de inéditas - tem que checar naquela série que vc fez aqui dissecando a banda-). Em 2004 ou 2005 estiveram no Brasil e tocaram em BH, quase fui, mas tinha um big evento no trabalho e era em dia de semana.
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