domingo, 20 de agosto de 2017

Grandes discos do Heavy: Stratovarius - "Visions" (1997)

O Stratovarius foi formado em ago/84 em Helsinki, Finlândia sob outro nome, Black Water. Os membros fundadores foram Tuomo Lassila (bateria e inicialmente vocais), Staffan Stråhlman (guitarras) e John Vihervä (baixo). A banda passou por várias mudanças de pessoal, estilo e nomes até encontrar sua própria identidade. Em dez/1985, já com o nome de Stratovarius (um jogo de palavras criado por Lassila entre Stratocaster, o famoso modelo de guitarras da Fender, e Stradivarius, instrumentos de corda, principalmente violinos e violoncelos, construídos com absoluta excelência pela família italiana Stradivari durante os séculos 17-18), o guitarrista Timo Tolkki entrou na banda substituindo Stråhlman e assumindo os vocais. A música deles, nessa fase, era bem diferente da que lhes traria fama, muito influenciada por Black Sabbath e Ozzy Osbourne. Em 1987, nova troca agora no baixo com a entrada de Jyrki Lentonen (que já havia tocado com Timo Tolkki na banda "Road Block"). Conseguiram gravar duas fitas demo em 1987 com esta formação (Lassila-Tolkki-Lentonen) onde já era perceptível a evolução para um som muito melódico e cheio de elementos eruditos (Tolkki adorava Ritchie Blackmore e música barroca). Como Tolkki precisou se afastar para prestar serviço militar, eles deram uma parada até que ele voltasse. Enquanto isso, as fitas demo foram enviadas a várias gravadoras e a CBS finlandesa quis contratá-los.
Com a volta de Tolkki, adicionaram um tecladista, Antti Ikonen, e gravaram o primeiro single (um vinil de 7" em 45 RPM), "Future Shock/Witch Hunt", em 1988, que foi seguido por outro, "Black Night/Night Screamer", no início de 89. "Future Shock" era uma canção matadora claramente demonstrando o potencial da banda. "Witch Hunt", ainda mais rápida, tinha proposta na direção progressiva. O álbum de estreia, "Fright Night", foi lançado em mai/89. Muito mais uma introdução, um protótipo, um conceito que seria desenvolvido nos álbuns seguintes, esse disco tinha uma atmosfera pesada e escura, tocada por uma banda iniciante e suas elaboradas composições. Misturando a fúria e velocidade do Motörhead com guitarras Randy Rhoads/Ingwie Malmsteen e elementos do Sabbath, ficava claro que eles precisariam de um vocalista melhor do que Tolkki. A banda excursionou durante o resto de 89 e, então, o baixista Lentonen saiu. Novo material foi composto, mas a CBS perdeu interesse neles. Sem contrato, mas sem desistir, voltaram-se aos ensaios, aos shows e às composições. Jari Behm ocupou o posto de baixista nessa fase, mas não ficaria por seu estilo não se encaixar na banda.
Então, conseguiram um contrato com o selo local Bluelight Records e lançaram o segundo álbum, "Stratovarius II" (de fev/92). Gravado somente por Lassida-Tolkki-Ikonen (com Tolkki fazendo também o baixo), o som ainda não era "Power Metal", já que menos rápido e mais turvo (e pesado). Com os pés ainda firmemente colocados no passado (pense Black Sabbath, Ozzy Osbourne fase Randy Rhoads), passagens lentas e sombrias, letras místicas e cheias de fantasias, espécie de "Diary Of A Madman" com toques das evoluções trazidas pelo Speed Metal e pelos experimentos do Helloween. Os teclados eram mais presentes e havia aposta nas melodias. O single "Break The Ice/Lead Us Into The Light" foi lançado para dar apoio ao disco. Até aqui, esses lançamentos eram realizados apenas na Finlândia e a banda sentiu necessidade de buscar o mercado externo. Eles enviaram fitas para diversas gravadoras e a alemã Shark Records se interessou. Foi assim que o álbum "II" foi relançado em toda a Europa com nova capa e novo nome, "Twilight Time", em out/92. Logo, cópias importadas começaram a chegar no Japão onde o disco foi sucesso inesperado (tornando-se o disco importado de maior vendagem ali, em 93). A banda estabeleceu um contrato com a JVC Victor japonesa que o lançou localmente. Timo Tolkki viajou para lá dentro dos esforços de promoção do disco e se espantou com a popularidade e o entusiasmo de fãs. Nesse tempo, o Stratovarius já havia preparado novo material e começou a gravá-lo, contando com um novo baixista, Jari Kainulainen (que entrou quando 70% das gravações já estavam prontas). Como Tuomo Lassila apresentou severo stress nas mãos e teve que ficar em tratamento por 8 meses, o álbum teve que ser completado pelo baterista Sami Kuoppamäki (da banda Kingston Wall).
Finalmente, "Dreamspace" foi lançado em fev/94. Muito elogiado pela imprensa especializada, ele elevou a popularidade da banda a um outro nível. De fato, eles desenvolveram ainda mais aquele "dark" Power Metal, sim mantendo os elementos do Sabbath, do Ozzy e Deep Purple, sim também as coisa do Speed Metal, da NWOBHM e do Helloween, mas tais influências já não estavam mais tão óbvias e o som se expandia em experimentos. Havia introduções atmosféricas, interlúdios, aventuras progressivas, faixas cadenciadas... naquele junho, a banda viajou ao Japão para sua primeira turnê por lá. Foi quando Timo Tolkki decidiu parar de cantar (era um aspecto bem criticado) e resolveu concentrar-se nas guitarras e nas composições, levando o Stratovarius a uma nova direção musical com um estilo mais neoclássico e sinfônico (que lhes traria a fama logo, logo). A banda começou testes para um novo cantor, eventualmente escolhendo Timo Kotipelto. "Fourth Dimension", álbum lançado em abr/95, marcou sua estreia e duplicou as vendagens de "Dreamspace". Com os incríveis vocais de Kotipelto, o Stratovarius surgiu puro "Power Metal" (sub-gênero que combina o Heavy Metal tradicional com o Speed Metal e com a música erudita). "Hinos" com temática de fantasia e fortes refrões, criavam um potente som teatral, dramático e emocional. Sonoridade mais limpa e melódica, fazendo muito uso de teclados, coros épicos, grande destreza técnica nas guitarras (com solos espetaculares), bateria com grande velocidade no bumbo duplo, e ocasionalmente sons de orquestra. Um fantástico Power Metal, clássico, matador, cheio de inspiração, que marcou o início de uma nova era para a banda. Eles excursionaram pesado fazendo shows pela Alemanha, Suíça, Holanda, Finlândia, Grécia e Japão. Ao final, Tuomo Lassila e Antti Ikonen saíram (por diferenças musicais - na verdade, Tolkki acreditava que eles não tinham técnica para tocar o novo material que ele estava preparando). O baterista alemão Jörg Michael (ex-Rage) e o tecladista sueco Jens Johansson (ex-Yngwie Malmsteeen) foram contratados.
O quinto álbum, "Episode" (de abr/96), marcaria assim a estreia dessa que é considerada a formação clássica do Stratovarius (Kotipelto-Tolkki-Kainulainen-Michael-Johansson). Este trabalho mostrou a banda indo na direção mais sinfônica (com uso de uma orquestra completa e coral). Era um grande passo à frente (com um som que manteriam por anos), embora o disco não funcionasse tão bem como um todo. Havia faixas perfeitas ("Father Time", "Will The Sun Rise" e "Speed Of Light"), mas no restante a coisa não era tão empolgante. Agora, todos os membros da banda eram virtuosos em seus instrumentos e aquele híbrido de Helloween/Speed Metal/Malmsteen/música neo-clássica jorrava forte. Gloriosa festa Heavy, melódica, épica, triunfante e desbundante na parte instrumental. Mas o melhor estava por vir. "Visions", de abr/97, atingiu o nº. 5 nas paradas da Finlândia, passando 24 semanas no Top 40. Os experimentos com corais e arranjos orquestrais aumentaram neste álbum conceitual sobre Nostradamus. Entre notáveis canções, havia "The Kiss Of Judas", "Black Diamond" (talvez a melhor de toda a carreira deles), "Paradise" e os dez minutos épicos da faixa-título. Majestático com uma coleção de contos melódicos que se tornou marca-registrada para a banda, som poderoso (brotando adrenalina), gloriosa pompa (a la Helloween), altos desafios técnicos, desbunde instrumental, ricas atmosferas, vocais operísticos, música ambiciosa essencial à qualquer fã do Power Metal.

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