terça-feira, 8 de agosto de 2017

Procol Harum: banda inglesa cuja capacidade se estendeu muito além de seu hit mais conhecido (parte 3)

"Broken Barricades", de jul/71, alcançou o nº. 32 nos EUA e o nº. 41 na Inglaterra, mas também marcou a saída de Robin Trower (que imediatamente organizou sua própria banda com um som similar ao de Jimi Hendrix e conseguiu grande sucesso por toda a década de 70). A história do Procol Harum acabaria mesmo marcada pela saída de vários músicos-chave e subsequente recuperação (coisa que tantas outras não conseguiram). Pense: houve a saída do organista Matthew Fisher (já relatada e um dos grandes arquitetos do som da banda), mas eles conseguiram seguir em frente como um quarteto. Agora viria a saída de Robin Trower, num momento em que este havia se tornado a estrela da banda, tanto quanto o cantor/pianista Gary Brooker. Bem, "Broken Barricades", o último com Trower, era um pouco esparso, mas com dimensões e dinâmicas. "Simple Sister" se tornaria uma das melhores composições da dupla Gary Brooker/Keith Reid, realmente gloriosa e com a guitarra de Trower sensacional justaposta a um arranjo de cordas maravilhoso. Várias outras faixas eram de primeira qualidade, incluindo "Power Failure" e "Playmate Of The Mouth" (o disco ainda trouxe um tributo a Jimi Hendrix, "Song For A Dreamer", escrita por Trower/Reid, sob o impacto da morte de Hendrix aos 27 anos). O substituto de Trower, Dave Ball, entrou no mesmo mês e o grupo até cresceu com a adição de Alan Cartwright no baixo, deixando Chris Copping livre para se concentrar apenas no órgão. O resultado foi a banda retornar a um som parecido com aquele antes da saída de Fisher.
Chris Copping, BJ Wilson, Gary Brooker, Keith Reid, Dave Ball e Alan Cartwright
Foi esta formação da banda que fez um concerto em 18/nov/1971 com a Edmonton Symphony Orchestra e com os DaCamera Singers, em Edmonton, Alberta, Canadá. O concerto foi um resgate audaz e melhorado, ricamente orquestrado, do repertório inicial (embora sem "A Whiter Shade Of Pale") e acabou lançado no álbum ao vivo oficial em abr/72, tornando-se o LP mais bem sucedido deles até ali (chegou ao nº. 5 e resultou em milhares de novos fãs). 
Na Inglatera, "Procol Harum Live: In Concert With The Edmonton Symphony Orchestra" apenas chegou ao nº. 48 em mai/72, mas competindo com o relançamento do álbum de estreia da banda (reintitulado "A Whiter Shade Of Pale" e com o famoso single incluído). Um single tirado do ao vivo, "Conquistador", faixa recriada numa versão bem mais rica e dramática, alcançou o nº. 16 nos EUA e o nº. 22 na Inglaterra naquele verão. Gary Brooker se dedicou a preparação dos novos arranjos orquestrais e com o novo guitarrista Dave Ball, decidindo que seria uma boa ideia gravar o show. O selo A&M concordou e o resultado foi o sucesso deste "Procol Harum Live". "Conquistador", a canção que puxou as vendas do disco, foi acrescentada na última hora, sem tempo da orquestra ensaiar o arranjo. Ela abriu o concerto, enriquecida pelos metais espanholados e escalas de cordas, mais a poderosa bateria de B.J. Wilson. Acabaria se tornando o segundo maior sucesso da banda. Curiosamente, o sucesso do LP (com orquestra e coral) fez do Procol Harum uma banda com imagem bem mais Rock Progressivo do que eles realmente eram. "Conquistador" era a canção mais acessível do álbum e nada no restante igualava à excitação pura e envolvente dela. "Whaling Stories", "A Salty Dog" e "In Held 'Twas I" eram espaços amplos para o trabalho da orquestra e a performance da banda ficava mergulhada ali. Mesmo no meio de todo o sucesso, o grupo se viu em novo sobressalto em set/72 quando Dave Ball resolveu sair (para ingressar na banda de Blues de Long John Baldry). Ele foi substituído por Mick Grabham (ex-Plastic Penny e Cochise). O álbum seguinte, "Grand Hotel", de mar/73, era deliciosamente melódico e decadente (de certa maneira, antecipando o Roxy Music). Primeiro deles pela Chrysalis Records, "Grand Hotel" mostrou a banda voltando-se para a grandiosidade dos primeiros álbuns. Mick Grabham se mostrou capaz e até poderoso, mas sem a personalidade de Trower. Por isso, o repertório tendia a algo baseado mais em arranjos ornados do que em riffs de guitarra. As composições de Brooker/Reid eram boas, principalmente a faixa-título, "Toujours L'Amour" e "Fires (Which Burnt Brightly)". Enquanto os teclados e os arranjos orquestrais eram bem parecidos com os primeiros discos, as letras voltavam-se mais para comentários sociais. O disco atingiu o nº. 21 nos EUA e na Inglaterra. Seis meses depois, a A&M lançou a primeira compilação da banda, "Best Of Procol Harum".
Os dois álbuns seguintes, "Exotic Birds And Fruit" (de abr/74) e "Procol's Ninth" (de set/75) foram bem nas vendas, com a faixa "Pandora's Box", do último, tornando-se um dos maiores hits da banda na Inglaterra. "Exotic Birds And Fruit" manteve o híbrido de orquestra/banda de Rock dos álbuns anteriores, mas com destaque para a banda. Letras literárias, com tiradas políticas, melodias adoráveis, o lado A e suas quatro faixas excelentes, enquanto o lado B era desigual. "Procol's Ninth" foi produzido pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller (compositores famosos do R'n'R, que haviam escrito o single "Poison Ivy", dos Paramounts). Oitavo álbum da banda (nono contando-se com o ao vivo), manteve o excelente lado A e um lado B bem inferior. Um disco mais competente do que excitante e sem render versões memoráveis para dois covers, "I Keep Forgetting" (da lavra da dupla de produtores) e "Eight Days A Week" (dos Beatles). Em jul/76, Alan Cartwright deixou a banda e Chris Copping voltou ao baixo, enquanto Pete Solley entrou para comandar os teclados.
A esta altura, o melhor momento deles já havia passado. Um novo álbum, "Something Magic", de mar/77, passou batido nas paradas, vendeu pouco e foi largamente ignorado. Foi um desastre. Mesmo a banda tendo contratado o badalado estúdio Criteria, em Miami, FL, e seus produtores-residentes, Ron e Howie Albert, a coisa não funcionou. Ao chegar lá, a banda tocou as canções que pretendiam incluir no disco, mas os irmãos Albert rejeitaram metade delas. Com meio álbum para preencher, o cantor/pianista/compositor Gary Brooker pegou um poema escrito anos antes junto com Keith Reid, "The Worm & The Tree" e o transformou em uma suite musical para encher o lado B. Na verdade, ele mais recita-o do que o transforma em música, ficando uma coisa pretensiosa numa época em que a imprensa especializada já pegava no pé de bandas Prog-Rock por ficarem se repetindo. Mesmo o lado A era composto por canções menos inspiradas. O resultado foi o capítulo mais confuso da história do Procol Harum. Eles fizeram ainda uma turnê final e um concerto de despedida no Academy Of Music, de NYC, em 15/mai/1977, mas anunciaram o fim.
(continua)

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