Embora "Bridge Of Sighs" (ponte dos suspiros) tenha se tornado seu disco solo mais popular, Robin Trower continuou a lançar discos e se tornou atração principal de shows em arenas, na metade dos anos 70. "For Earth Below" (de fev/75), o terceiro álbum, trouxe oito faixas com sutil, porém dominante fusão de Blues com Hard Rock e toda a maestria de Trower na guitarra. Tal qual um tratado de quão eficiente uma guitarra pode ser, quando usada com as técnicas corretas, cada faixa adquiria uma personalidade própria. Mais parecido com a estreia, "Twice Removed From Yesterday", e não tão diversificado quanto "Bridge Of Sighs", este disco trouxe o guitarrista soando mais aveludado, pelas bordas, com o Blues comandando tudo. Um som viscoso, em faixas focadas, cheias de texturas, um estilo de tocar magnífico, cheio de influências Hendrixinianas. Este álbum junto com o primeiro, foi produzido por Matthew Fisher (ex-parceiro do Procol Harum). Completando esse início de carreira matador, Trower soltou "Robin Trower Live!" (de 76), uma excelente gravação (feita pela rádio local) de um soberbo show na Suécia (no Stockholm Concert Hall, em 03/fev/1975). Um instantâneo perfeito de um guitar hero no seu auge! O disco também dava amplas evidências do porquê a Robin Trower Band era uma das atrações do Rock dos anos 70 mais bem sucedidas ao vivo. Destacando não só o virtuosismo do guitarrista em sua Stratocaster, o álbum deixava claro que os vocais cheios de Soul do baixista James Dewar e a bateria polirrítmica de Bill Lordan eram igualmente essenciais. O repertório era demolidor, mas talvez possamos apontar a versão de "Too Rolling Stoned" como um clássico eterno, com Lordan (que substituiu Reg Isadore, baterista da versão de estúdio dessa canção) acrescentando um tempero mais funkeado. Em alguns momentos, como em "Little Bit Of Sympathy", podia-se recordar a lendária e telepática interação entre Jimi Hendrix e Mitch Mitchell. James Dewar, um talento subestimado, apresentava-se como um dos melhores cantores de Blue-Eyed Soul dos anos 70 (tão talentoso e convincente quanto Paul Rogers ou Joe Cocker). Seus vocais na fumegante "I Can't Wait Much Longer" são de gelar a espinha! Embora nenhuma das performances ficasse muito longe das versões de estúdio, este "Live" colocou a RTB na história como perfeita Blues-Rock band, sem firulas, capaz de detonar tudo instantaneamente. Discaço!
"Long Misty Days" (de out/76) foi o quarto álbum e manteve a fórmula do Blues-Rock sujo e baladas etéreas. Porém, representou os primeiros passos de Trower rumo a um som diferente, distante do que fez dos três primeiros tão potentes. A sonoridade geral era mais leve e alegre, e também mais comercial. A performance de Trower também era bem mais restrita e sem tanto malabarismo quanto anteriormente. Havia um foco nas composições e um claro desejo de torná-las memoráveis. Em algumas faixas, a coisa funcionava ("Same Rain Falls", que abria o disco, era cativante e a faixa-título era um clássico de Trower na vibração de "Bridge of Sighs", com um som lento, sombrio e meio Heavy, além de alguns Rocks como "Caledonia" e "S.M.O".). No restante, o disco ficava atolado em baladas medíocres. Pode-se respeitar o fato dele tentar expandir horizontes, mas nem sempre funcionava (uma praga que infestaria seus álbuns a partir daqui). Em "In City Dreams" (de 77) começou a ficar claro que a estrela de Trower estava perdendo força e seus discos passaram a vender cada vez menos. Este trabalho marcou ainda mais a mudança de direção musical. Sua guitarra ainda estava ali, tão boa quanto antes, mas o foco era cada vez mais na acessibilidade das canções. Para piorar, Trower trouxe um baixista de Funk chamado Rustee Allen para dar mais força aos ritmos (James Dewar passou a só cantar). Esse distanciamento do Blues-Rock turvo e denso inicial mais o repertório de canções fracas deixaram a potente guitarra de Trower sem lugar. Com algumas faixas tendo um certo "clima de festa", a coisa toda ficou arruinada e sem conserto (a única que salvava, para não ser tão radical, era "Sweet Wine Of Love").
"Caravan To Midnight" (de 78), o sexto disco, com capa do estúdio Hipgnosis, seguiu na mesma linha "animadinha" com o lado comercial (a gravadora devia estar cobrando um hit) prevalecendo sobre o criativo. Com faixas soando lados B do Bad Company, repetitivo, embaraçoso, letras ridículas, o disco era inofensivo, salvando apenas a faixa-título (uma instrumental meio espacial e viajante que lembrava Camel), "I'm Out To Get You" (com a guitarra de Trower fazendo seu caminho por uma vibe Funk) e "Lost In Love" (que parecia uma mistura de Hendrix com Iron Butterfly). Deprimente. "Victims Of The Fury" (de 80) fechou a década de 70. Após alguns discos fracos, Trower voltou melhor nesse subestimado trabalho. Talvez, seu melhor e mais consistente em estúdio desde "For Earth Below". Apesar de diversas canções acabarem exatamente quando começavam a ficar interessantes, parte do repertório aqui trazia sonoridade similar ao de "Bridge Of Sighs" ("Mad House", "Roads To Freedom", "The Shout", "Jack And Jill", "Only Time" etc.), num todo amplamente superior ao fiasco anterior. Infelizmente, foi lançado numa época em que o interesse no Blues-Rock psicodélico já havia passado. Pelo menos, não havia qualquer sinal da sonoridade oitentista aqui.
(continua).






A tríade Bridge of Sights, For Earth Below e Long Misty Days é matadora (com um live entre eles). Foi quando fui captado por este mestre da guitarra. A partir daí, como diz a resenha, ele começou a perder força. Daí pra frente perdi por completo o interesse por seu trabalho. Nem sabia que Victims of Fury pudesse ser bom a ponto de ser comparado com os primeiros, pois havia parado totalmente de acompanhar a carreira do guitarrista.
ResponderExcluirUma aspecto curioso é que só fui descobrir que Trower não cantava na era dos CDs, que vinham com mais informações e detalhes. Até então achava que ele era também o vocalista. Foi uma decepção...rs.
Baita guitarrista.
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