A julgar pelo próprio nome, você já deve imaginar que os caras do Suicidal Tendencies nunca tiveram receio algum de criar controvérsia. A banda foi formada, em 1981, em Venice Beach, nos subúrbios de Los Angeles, CA, dentro do movimento Hardcore Punk. A formação original consistia em Mike Muir nos vocais, Mike Ball na guitarra, Carlos "Egie" Egert na bateria e Mike Dunnigan no baixo. Eles se especializaram num viciante Hardcore e construíram uma boa base de fãs entre skatistas.
A primeira fita demo foi logo gravada de maneira independente (já com o irmão de Mike, Sam Dunnigan, na bateria). Muir, nessa época ainda estudante do Santa Monica College, havia planejado o Suicidal Tendencies apenas como uma banda para tocar em festas (na época, havia muitas "Rent-Parties": juntava-se uma banda em alguma casa, reuniam-se amigos, vizinhos e conhecidos para ver o show e depois, com a grana arrecadada, pagava-se o dono da casa), mas com o crescimento do número de fãs e a notoriedade ele logo precisou rever isto. Nessa fase, eles chegaram a ser eleitos pelo fanzine "Flipside" como "pior banda/maiores cuzões", mas já em 82 foram votados como "melhor banda nova". Um artigo sobre a cena Punk de L.A. foi publicado na revista Penthouse sob o título "Slamdancing In A Fast City" e comentou sobre a banda. O filme holandês "Surfpunks" utilizou duas canções deles. A formação foi sofrendo alterações: os irmãos Dunningan saíram e Mike Ball também. Muir passou a pensar em reunir músicos mais experientes. Na onda da popularidade do Hardcore Punk, a Capitol Records chegou a sondá-lo, mas Mike Muir hesitou avaliando que a gravadora iria policiar suas ideias. Uma segunda fita demo foi gravada, também independente. No final de 82, a formação estabilizou-se com o baixista Louichi Mayorga, o baterista Amery "Awol" Smith e o guitarrista Rick Battson, mais Muir. Surgiram rumores de que a banda e seus amigos/fãs eram envolvidos com gangues (especialmente com a perigosa "Venice 13", de norte-americanos de origem mexicana). O visual marca-registrada de Muir (com sua bandana azul na cabeça) e a violência das performances também contribuíram para tais temores (embora, na realidade, ninguém na banda tivesse relação com a V13, o irmão de Mayorga, Steve, era membro da gangue e há fotos dos músicos usando roupas e chapéus estampando a marca "V13"). Essa associação fez com eles fossem tendo dificuldades para agendar shows. Eventualmente, até uma gangue inteira surgiria em torno da banda, a Suicidal Cycos. Toda essa controvérsia, por outro lado, ajudou-os a conquistar atenção de gravadoras e foram convidados a participar de uma coletânea da Mystic Records (com a canção "I Saw Your Mommy"). O som da banda foi mudando: ao Hardcore Punk, somou-se performances técnicas, maior uso do Heavy Metal e de levadas funkeadas. Em 83, eles assinaram com o selo independente Frontier Records (do fotógrafo Glen E. Friedman, que se tornaria também empresário da banda). Começaram, então, a gravar o álbum de estreia já com Grant Estes nas guitarras. Em poucas duas horas, pegaram canções pré-ensaiadas e as registraram como "studio jams" em um "take". Mike Muir e Grant Estes, no dia seguinte, realizaram alguns poucos "overdubs" e, nos cinco dias seguintes, aquelas gravações foram mixadas e remasterizadas. Assim, surgiu "Suicidal Tendencies", em jul/83. Muito rápido, furioso e... divertido. Mais Hardcore Punk do que Heavy Metal (menos do que o híbrido que desenvolveriam a seguir quando acrescentariam Thrash Metal à fórmula), com letras muito articuladas e inteligentes (um comentarista social de temas como alienação, depressão e inconformismo político, tudo com inteligência e humor), agressividade sem cair na pura velocidade sem rumo. A famosa canção "Institutionalized", que ganhou vídeo clip, conquistou a MTV num dos primeiros vídeos de Hardcore Punk a conseguir substancial espaço na mídia e fazendo a banda virar grande (ela, inclusive, foi usada no filme "Repo Man", de 84, também num episódio do seriado "Miami Vice" com participação da banda tocando-a ao vivo, além de no filme "Homem de Ferro", em 2008). A capa era um projeto de Glen E. Friedman e o logo da banda era um desenho de Rick Clayton. Angústia juvenil, fogo, raiva, rapidez, incerteza, impetuosidade, simplicidade, honestidade, barulho, guitarras e harmonias dissonantes, tudo num perfeito exemplar do chamado "crossover", combinando o gênero Hardcore com o mundo Heavy. Um clássico.



Pancadaria braba. Este eu tenho. Adquiri numa fase em que pesquisava os múltiplos terrenos novos que o rock seguia nos anos 80. Não o ouço há décadas.
ResponderExcluir