A partir de um começo bem modesto (como roadies da lendária banda suíça Celtic Frost), os membros do Coroner construíram uma das carreiras mais únicas do Thrash Metal europeu. Aliás, eles foram rotulados no início como uma banda convencional de Thrash Metal, mas suas composições cada vez mais complexas e a performances musicais de cair o queixo (quase Prog Rock) logo conquistariam a imprensa especializada (fazendo com que muitos os chamassem de "Rush do Thrash Metal"). Ao longo de oito anos e seis álbuns, eles batalharam constantemente para expandir as limitadas fronteiras do Thrash e nem conquistaram tanto sucesso assim, mas aquelas destemidas experiências fizeram com que seus discos superassem o teste dos anos permanecendo hoje entre os melhores do gênero. Tudo começou com o guitarrista Tommy T. Baron (nome verdadeiro: Thomas Vetterli) e o baterista Marquis Marky trabalhando como roadies (técnicos ou pessoal de apoio que viajam com uma banda em turnê cuidando da produção dos shows) em várias excursões do seminal Celtic Frost.
A dupla eventualmente passou a compor canções próprias e gravou uma fita demo, "Death Cult", em out/1985, com Tom G. Warrior do Celtic Frost nos vocais (participação especial) e Ron Royce no baixo. Desta demo foram comercializadas apenas 250 cópias. O som era bem Mercyful Fate, porém sem solos de guitarra divinos ou vocais tipo King Diamond - no lugar, doses cavalares de Celtic Frost. Resultado: Heavy Metal escuro, muito bem gravado, longe do Thrash que lhes faria fama, mas uma semente embrionária do que viria. O álbum de estreia, "R.I.P.", de jun/87, pelo selo alemão Noise Records (um contrato conseguido com a ajuda de Tom G. Warrior), já era Thrash no típico sentido. Agora como um trio (com Royce assumindo os vocais), os riffs continham mais notas do que o normal e, frente à tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo em cada faixa, ficava claro a excepcional capacidade técnica desses caras de Zurique, Suíça. Uma hiperatividade consistente, limados os elementos Death Metal (ainda que atmosferas sombrias aparecessem), incorporando virtuosismo técnico em performances completamente descaralhantes e soberbas, em composições algo progressivas (com introduções, influências eruditas), mas descendo a borduna sem dó. A química entre os três era notável, mas pode-se dizer que só era o início do que ainda viria.
Todos aqueles que ainda tinham dúvidas quanto aos méritos do Coroner e os chamava de "banda dos roadies do Celtic Frost" calaram-se com o susto que tomaram com o segundo álbum, "Punishment For Decadence", de ago/88. Impressionante, o trio deixava claro que eram músicos extremamente talentosos e qualificados. Assim como o Rush, eles dividiram as tarefas de compor entre o guitarrista Tommy T. Baron e o baixista cantor Ron Royce, enquanto o baterista Marquis Marky cuidava das letras. A analogia com o Rush não ficava só aí não. Embora, claro, o som focasse no Thrash Metal de muita velocidade, o trio soava como se saboreando as delícias daquelas ginásticas musicais ultra técnicas, complexas e desafiadoras, e era indisfarçável o talento dos três. Sim, canções como "Absorbed" e "Shadow Of A Lost Dream" permaneciam fieis à aversão à melodias típica do Thrash, mas cuidadosas audições revelavam padrões musicais debaixo de toda aquela velocidade, melodias enterradas sob um fascinante show de destreza. Thrash desafiadoramente técnico e que ainda trouxe um cover para "Purple Haze" (do Jimi Hendrix). Com o álbum "No More Color", de set/89, a banda inaugurou sua fase áurea apresentando-se em modo transição entre o Thrash ultra técnico dos dois álbuns anteriores e o Thrash vanguardista dos dois que viriam a seguir. Foi onde a necessidade da velocidade começou a ceder espaço ao desejo de pensar. Os instintos criativos se juntaram com o virtuosismo das performances (sob produção de Pete Hinton, do Saxon) gerando uma evolução sensacional naquelas complexas canções. Excelentes pedradas ("Mistress Of Deception", "Tunnel Of Pain"), acessíveis, porém inteligentes, alterando padrões e experimentando até com sintetizadores atmosféricos e espaciais. Desde a capa até os ritmos não tão rápidos e os riffs que revelavam incrível proficiência técnica, tudo começava a romper os limites do Thrash Metal, tanto na música como nas letras.
| Ron Royce, Tommy T. Baron e Marquis Marky |
As ambições do Coroner alcançaram plena fruição no álbum "Mental Vortex", de 91. A abordagem inovadora do Thrash que chamou atenção em 89 pirou cabeças nesse pico criativo da banda. Amplamente reconhecido com o melhor álbum deles, "Mental Vortex" foi onde o trio juntou tudo dos trabalhos anteriores fugindo de armadilhas da fórmula Thrash e adentrando em um imprevisível território vanguardista, porém ainda assim Thrash. A velocidade e agressividades desenfreadas foram substituídas por composições altamente técnicas e não convencionais, onde apenas os grunhidos mortais de Ron Royce lembravam as origens primitivas deles. Excursões musicais como "Divine Step (Conspectu Mortis)", "Sirens" e "Metamorphosis" desafiavam limites do Metal, flertando com Jazz e como o Prog-Rock, sem soar pedante ou gratuitas demonstrações de virtuosismo, graças aos arranjos focados e justos. Como sempre, as guitarras de Baron mostravam os caminhos impensados, combinando riffs angulares e fluídos, solos inventivos, mesclando peso com criatividade. Sem medo, eles ousaram um cover de "I Want You (She's So Heavy)" (dos Beatles) que talvez seja um verdadeiro resumo desta obra-prima do Metal. Gravado pelo produtor Tom Morris (um dos grandes do Thrash), muitos esperaram que a carreira do trio mudasse de patamar e o levasse a plateias maiores. Ou por causa das mudanças do Rock (o Alt-Rock já havia surgido) ou simplesmente por ser algo à frente de seu tempo, o fato é que o álbum não produziu o resultado esperado. Mesmo desapontados, os três ainda gravaram um outro trabalho, ainda mais não convencional, "Grin", de set/93 (que abandonou muito da agressividade do Thrash e focou em ritmos desafiadores e atmosferas estranhas). Esse novo movimento radical (até mesmo para fãs - alguns viram nele um grande triunfo, outros acharam que a banda havia pirado) foi determinante, a banda não resistiu e acabou. Em 2011, o trio original voltou a tocar ao vivo, mas sem planos de gravar. Marky deixou-os, dois anos depois, e foi substituído por Diego Rapacchietti. Parece que há planos para lançamento de um novo álbum de estúdio ainda em 2017.





Resenha muito boa!
ResponderExcluirmetalprogressivo.wordpress.com