O Eyehategod (também abreviado como EHG) foi formado em New Orleans, LA, em 1988. Fazendo um "Sludge Metal" (um sub-gênero que mescla Doom Metal, Hardcore e Southern Rock) misantrópico (averso às pessoas, à sociedade e à humanidade), combinando brutalidade, lentidão narcotizada e influências do Black Sabbath, do Black Flag e dos Melvins (entre outros), criaram um som muito pesado, distorcido, dominado por riffs, paredes de feedback, vocais torturados e uma atmosfera dura. A banda começou da ideia do guitarrista Jimmy Bower e do baterista Joe LaCaze. Eles recrutaram outro guitarrista, Mark Schultz, o baixista Steve Dale e o vocalista Chris Hilliard (que logo seria substituído por Mike Williams).
Juntos, gravaram duas fitas demo, "Garden Dwarf Woman Driver" (de 89) e "Lack Of Almost Everything" (de 90). Estas gravações talvez estejam entre as primeiras do chamado "Sludge Metal" que combinou tempos lentos, riffs pesados, atmosfera pessimista e sinistra (elementos típicos do Doom Metal) com a agressão, vocais gritados e tempos rápidos (do Punk Hardcore), além de instrumentais elaborados (coisa do Southern Rock). O termo "Sludge" (lama, em inglês) foi usado por causa do som lento e denso, sujo e decadente, de afinações baixas e distorcido, encorpado e abrasivo. Na época, elas chocaram: tanto pela proposta, como pela falta de quase tudo (qualidade de gravação e proficiência técnica nos instrumentos, em destaque). Inquestionável era o lado B do álbum "My War" (de 84), do Black Flag, como modelo para o estilo "Sludge" (os Melvins logo lançariam seu primeiro álbum continuando aquele casamento entre Hardcore e Doom com viés metálico). A proposta assustava, tamanha a sujeira, a crueza, a putrefação estilizada, a podridão desse pântano sonoro. Tempos gelados, ritmos rastejantes com explosões ocasionais, basicamente funcionava como se Punks tivessem entrado no Sabbath, não soubesse tocar e, com um velho e ruim gravador, estivessem praticando num porão de ensaios em ruínas. Grosso, abafado, bruto, cru, limitado, básico e... histórico.
Na sequência, conseguiram assinar com um pequeno selo francês (o Intellectual Convulsion), recrutaram um novo guitarrista, Brian Patton (para o lugar de Schultz) e gravaram o álbum de estreia, "In The Name Of Suffering" (de 90). Gravado com produção própria no Festival Studios, em Kenner, LA, a um custo de mil dólares, (e originalmente lançado num número de cerca de duas mil cópias - logo o selo acabou por dificuldades financeiras e eles migraram para outro selo, o Century Media, que relançou o álbum com nova capa, em dez/92), o disco desde o início recebeu elogios na imprensa especializada, exatamente por seu estilo (hoje, é visto como um dos primeiros do Sludge Metal), capturando a perturbadora e assustadora originalidade do Eyehategod em seu estado mais puro. Aliás, o primitivismo era grande parte do apelo do disco. A grosseria, os vocais torturados, o feedback, a bateria parecendo uma tábua, as canções movendo-se como um mamute, a atmosfera sombria, o som denso e espesso. A banda gravou "Take As Needed For Pain" (de set/93) com Schultz no baixo. O disco foi gravado no "Studio 13", local de trabalho de um pequeno selo no 13º andar de um prédio de lojas na Canal Street, em New Orleans. Nessa época, o vocalista Williams era um sem-teto e vivia num pulgueiro sobre um clube de strip-tease, perto do estúdio. O som desse disco era mais limpo, mais perceptível, mais bem definido que na estreia. As influências do Southern Rock, do Blues e do Doom Metal ficavam mais visíveis. Permaneciam as guitarras "sludgy", as letras indecifráveis, o feedback como base produzindo sons como gemidos (que abriam quase todas as faixas), além do clima de amargura e desencanto sem fim. Menos rústico, o álbum era mais acessível. Havia algumas colagens de sons (samples) em meio aquela montanha de riffs corrosivos feito metal derretido. A banda fez extensas excursões tocando com gente como White Zombie e Corrosion Of Conformity. Após isto, eles entraram num hiato não declarado em que cada membro seguiu numa direção. Williams contribuiu com a revista "Metal Maniacs", Bower tocou bateria nas bandas "Crowbar" e "Down", Patton gravou com o "Soilent Green".
Entre 94-95, o Eyehategod gravou várias fitas demo, que foram lançadas em disquinhos 7" e "split discs" em diversos selos. Finalmente, eles gravaram um álbum novo completo com Pepper Keenan (do CoC) com produtor. "Dopesick" (lançado em abr/96) provavelmente seja o trabalho mais doloroso, atormentado e torturado deles (algo que considerando a sonoridade típica deles significa muito, heim). Isto ficavava patente nos gritos chocantes, nos barulhos aterrorizantes, nas atmosferas super perturbadoras. Angustiantes ritmos ultra arrastados, guitarras vomitando feedback, riffs monstruosos, o disco era o mais denso e pesado que o Eyehategod havia gravado, com a bateria mais proeminente e com as guitarras soando ainda mais grossas. Apesar da audição desafiadora, o álbum também era a declaração musical mais bem acabada da proposta da banda. Williams vivia na época das sessões de gravação em NYC e teve que ficar viajando frequentemente para New Orleans. As sessões foram caóticas e há a estória do representante da Century Media perguntando se aqueles caras eram loucos e os ameaçando com o final do contrato. Outra estória bizarra relata que Williams, numa tentativa de gravar o som de vidro quebrando para a abertura do disco (o que pode ser ouvido na faixa "My Name Is God (I Hate You)"), estraçalhou uma garrafa no chão do estúdio e cortou severamente sua mão espalhando sangue por todo o chão. Um dos membros da banda escreveu ali as palavras "Hell" e "Death To Pigs" com o sangue. Patton e LaCaze voaram para San Francisco, CA, para mixar o álbum (que acabou bem mais caótico que os anteriores, mas também mais Southern e bluesy). A banda embarcaria num turnê pelos EUA em 97 junto com o White Zombie e o Pantera levando sua música a um público bem mais amplo, o que faria do Sludge Metal um gênero mais conhecido e levando-os a serem considerados um de seus fundadores.









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