sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Tesouros perdidos



Jericho - Israel

Na terra sagrada, headbanger não bate a cabeça só no Muro das Lamentações!!! Lá o rock come solto e o movimento é profícuo, como é possível ver no megadocumentário Metal, Uma Jornada ao Mundo do Heavy Metal, brilhantemente produzido pelo antropólogo e metaleiro Sam Dun. Claro, um país que vive há mais de meio século sob iminente estado de guerra e ameaças terroristas é terreno fértil para manifestações do gênero. Isso sem falar na sólida parceria com os EUA, que reflete em influência cultural e também na facilidade de a população em peso dominar a língua inglesa.

Mas esse cenário não é novo. Já nos anos 60 o rock percorria as vias sacras de Israel. Mas em 1972 veio à tona essa maravilha do rock raro. Egressos de um grupo Chamado Jericho Jones, a abreviatura do nome e a manutenção de boa parte dos integrantes significou pé no acelerador. Seria o segundo lançamento da rapaziada, mas bem diferente e muito mais pesado do que o anterior, portanto pode-se dizer que este álbum é o único do grupo.

O som se assemelha muito ao Deep Purple, fase In Rock e é conduzido pela habilidosa e sagaz guitarra de Haim Romano, com riffs criativos e solos empolgantes. O vocal de Danny Shoshan soa agressivo e a pegada forte é complementada pela segunda guitarra de Rob Huxley, o baixo musculoso de Michael Gabriellov e a batéra nervosa de Ami Triebich.

O álbum já começa botando tudo abaixo com a fuderosa Ehtiopia, e a peteca não cai em nenhum momento. No antigo vinil (hoje rarésimo), o lado B conta com apenas duas canções, bastante consistentes, pesadas, mas com uma inflexão mais, digamos, viajante, com olhos no progressivo. Enfim, trata-se de um disco bastante afinado com o período de uma banda bastante madura.

Antes de se enveredarem pelo hard rock, os rapazes do Jericho já tinham uma carreira musical sólida, se apresentando pelos circuitos jovens israelenses sob o nome de The Churchills, nos anos 60, quando faziam um beat psicodélico em uma sonoridade mais pop, típica do período. Após o lançamento deste único álbum sob o nome Jericho, o grupo desapareceu, por falta de apoio e empresariamento. Até os anos 90, com a disseminação digital, o trabalho do Jericho se manteve no total obscurantismo. Uma jóia para engajados colecionadores do Primeiro Mundo. Mas a partir daí recebeu dois lançamentos em CD e até vinil, embora já estejam novamente fora de catálogo. Sabe-se que Shoshan manteve-se na carreira musical e hoje atua num bom grupo de blues que se apresenta nas noites de Jerusalém e Tel Aviv.

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