domingo, 8 de dezembro de 2013

Grandes discos do Heavy... Alice In Chains - "Dirt" (1992)

Sob alguns pontos de vista, o "Alice In Chains" foi uma banda "heavy metal", lá no início dos anos 90. Juntando pesados riffs do metal pós Van Halen com a tensão sombria do pós-punk, a banda desenvolveu um som niilista e desolado, que balanceava um peso afiado e faixas acústicas sutilmente texturizadas. Eles não foram facilmente assimilados pelos metaleiros, mas sua temática "dark" e o ataque "punk" os colocou entre os destaques do movimento "grunge" vindo de Seattle. Eles assinaram com a Columbia em 89 e logo no início de 90 lançaram o EP "We Die Young", faixa que se tornou um "hit" nas rádios de metal e preparou terreno para o disco de estreia, "Facelift". Nas turnês, abriram para o Van Halen, Poison e Iggy Pop, alcançando disco de ouro naquele ano. Enquanto preparavam o próximo disco, lançaram um EP acústico, "Sap", em 91, que recebeu ótimas críticas. Por essa época, Seattle tornou-se uma sensação devido principalmente ao sucesso do Nirvana. Como resultado, o Alice In Chains passou a ser rotulado como "grunge", e não uma banda de metal. Para a trilha sonora do filme "Singles", de Cameron Crowe, eles forneceram a canção "Would?" que ajudou a criar o clima para a chegada do segundo disco.
"Dirt" foi, então, a grande declaração artística do "Alice In Chains" e o mais perto que eles chegaram de gravar uma categórica obra-prima. Foi um grito primal e doente retirado das profundezas do vício em heroína de Layne Staley (vocais) e um dos mais pungentes discos conceituais já gravados. Nem toda canção em "Dirt" é explicitamente sobre heroína, mas as faixas escritas sozinhas por Jerry Cantrell (guitarras), quase a outra metade do álbum, mantêm efetivamente a coerência temática. Assim, praticamente todas as músicas são impregnadas com morbidez, autorrepulsa e resignação consciente e impotente quanto ao vício. O inventivo trabalho de guitarra de Cantrell, embora tecnicamente limitado, é, por vezes, explosivo, em camadas, ambientando enjôo, mantendo o ouvinte desequilibrado com riffs atonais e registros fora de compasso. As letras completamente confessionais de Staley são igualmente efetivas e consistentemente infelizes. Em certos momentos, ele está entorpecido e apático, totalmente anestesiado do mundo exterior; em outros, suas justificativas denunciam uma chocante e acidental amoralidade. Seus momentos de autorreconhecimento são permeados por desespero e aversão suicida. Exatamente por causa de sua temática, "Dirt" é monstruosamente árido, quase assemelhando-se à rachada e assustadora paisagem da capa. O disco carrega algo de esperança em algumas passagens (como na estória de necessidade de sobrevivência de "Rooster", um tributo ao pai de Cantrell, veterano da guerra do Vietnam) mas, ao final, é marcado pela honestidade de suas próprias revelações e pelo agudo foco de sua música desesperada. Seguindo ao lançamento de "Dirt", o baixista Mike Starr foi substituído por Mike Inez. 
Enquanto a dicotomia metal/rock alternativo ajudou o grupo a alcançar múltiplos discos de platina ("Dirt" alcançou 3 milhões de cópias vendidas), ela também serviu para os dividir. O guitarrista Jerry Cantrell sempre inclinou-se para o "mainstream", enquanto o vocalista Layne Staley era fascinado pelo menos atraente lado "underground". Esta situação levou-os ao estrelado, mas após "Dirt" o "Alice In Chains" sofreu com tensões internas quase incapacitantes que os tiraram das turnês pelo resto dos anos 90 e, consequentemente, os impediu de desenvolver seu total potencial.

Um comentário:

  1. Desde a primeira vez que ouvi o Chains, senti algo de sabbáthico em seu som pesado e arrastado. Dirt é um discaço! Me empolguei quando ele surgiu, pois foi numa época muito estranha para o rock pesado.

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