Decidi opinar porque está havendo muita injustiça e preconceito com as novas gerações, que alguns chamam de alienadas, vazias, fúteis, cabeças de vento, acomodadas. Não é verdade. Todo mundo já passou pela adolescência. E o que é a adolescência? Um HD vazio, com infinitos gigabytes, registrando tudo que está à sua volta. Tudo! O bom, o mau e o feio. A adolescência e a pós-adolescência são uma fase experimental imposta pela natureza para que os filhotes atravessem a transição criança-adulto querendo saber. Há muito deslumbramento, decepção, dor e, lógico, radicalismo e oposição. O adolescente obediente “bovino” e cordato não está bem. Posso falar? Não é um adolescente normal. Adolescente tem que dar trabalho, tem que provocar, tem que irritar, tirar do sério. Ele acha que tem (e tem mesmo) o direito de levar a vida que acha certa. Cabe aos adultos, adultos cujo diploma existencial só irão receber quando aquela senhora com uma foice na mão e capote na cabeça vai tocar a sua campainha para buscá-los, insistentemente tentar conversar com o adolescente.
Os adolescentes de hoje estão vivendo uma das eras mais tumultuadas de todos os tempos. A tecnologia transformou a revolução do pós II Guerra em fichinha. A fartura tecnológica está substituindo tudo. Os jornais de papel, a música, a literatura, os telefones de Graham Bell, os táxis, os discos, os vídeos, a TV, o Rádio, a medicina, a veterinária, a engenharia e...as famílias. Nada hoje é igual ao que era 15 anos atrás. Ontem eu me peguei colocando meu “livro” para carregar na tomada. Meu Kindle, leitor digital de livros sem papel que precisa de carga como os celulares. No olho dessa gigantesca revolução, que está acabando até com os carros com o motorista, estão os adolescentes. Eles aprendem com o novo mundo que podem dormir com namoradas e namorados em casa, que podem passar o fim de semana longe de casa, vivem se falando pelo whatsapp em códigos que só eles entendem, e tem uma consciência dos perigos muito maior do que nós tínhamos quando tínhamos nossos 16 anos. Mais: sua visão de democracia, etnia, diversidade é muito própria. Nossos preconceitos? Sem cerimônias eles atiram pela janela.
Estive no show do The Who, no Rock in Rio, num dia com 100 mil pessoas, e vi bandos e mais bandos de garotos e garotas de 16, 17, 20, 25, 30 anos. Não houve uma briga, uma bebedeira, nem sombra de qualquer confusão. Estavam lá ouvindo o que gostam de ouvir, curtir e assistir o que acham interessante e ponto. Lembrei de uma música do próprio Who, de 1965, chamada “The Kids are Alright” (“As crianças estão bem”), cujo autor, o genial Pete Townshend, tinha 17 anos quando compôs. Um adolescente falando com seus pares:
I don't mind other guys dancing with my girlThat's fine, I know them all pretty wellBut I know sometimes I must get out in the lightBetter leave her behind with the kids, they're alrightThe kids are alrightSometimes, I feel I gotta get awayBells chime, I know I gotta get awayAnd I know if I don't, I'll go out of my mindBetter leave her behind with the kids, they're alrightThe kids are alrightI know if I go, things would be a lot better for herI had things planned, but her folks wouldn't let herI don't mind other guys dancing with my girlThat's fine, I know them all pretty wellBut I know sometimes I must get out in the lightBetter leave…
Por mais que ocorram as revoluções, os filhotes tem os pais e similares como referências. Se os pais de uma criança de três anos ouvem funk vagabundo, é lógico que futuramente essa informação vai entrar no HD do adolescente. E isso vale para tudo. Pais que quase se beijam com frequência, ou se estapeiam, pais que jogam lixo na rua, jogam em lixeiras, fumam, não fumam, bebem, não bebem, são preconceituosos, são liberais, se drogam, não se drogam. Tudo isso é referência para o filhote até a puberdade quando surge no horizonte furacão da rebeldia e ele vai adquirir novos hábitos. Mas inconscientemente não apagará as referências de mãe, pai e similares. Os submissos, os que não questionam a sua primeira autoridade (a família) provavelmente terão que se contentar com a mesmice existencial e, quem sabe, cantar “Como Nossos Pais” no futuro.
Mas a rebeldia, o estado de "ser do contra" o confronto dura poucos anos pois, em breve, a maioria deles se torna amigo de pais, mães e similares. E os papéis quase se invertem. Jovens adultos, os ex-adolescentes se tornam o ponto avançado, a figura que puxa ensinamentos do futuro e repassa para os pais, que já não tem mais saco para saber navegar na Deep Web, decodificar gírias, conhecer os ritmos do momento. Em suma, a fonte ainda é a base de tudo. E a base se manifesta pela contemplação dos garotos e garotas e não pelas nossas supostas ordens, pelo autoritarismo. Enfim, é um tema vasto, complexo, que pretendo continuar abordando num outro dia.
The Kids Are Alright!
Retirado do site http://colunadolam.blogspot.com.br/2017/09/a-criancas-estao-bem.html
Retirado do site http://colunadolam.blogspot.com.br/2017/09/a-criancas-estao-bem.html
Letra traduzida:
ResponderExcluirEu não ligo
Que outros caras dancem com minha garota
Está tudo bem
Eu os conheço muito bem
Mas eu sei que às vezes eu
Devo sair de cena
Melhor deixá-la pra trás
Com as crianças, elas estão bem
As crianças estão bem
Às vezes
Eu sinto que eu tenho que partir
Sinos tocam
Eu sei que eu tenho que partir
E eu sei que se não for
Eu vou perder a cabeça
Melhor deixá-la pra trás
Com as crianças, elas estão bem
As crianças estão bem
Eu sei que se eu partisse as coisas seriam bem melhores para ela
Eu tinha coisas planejadas, mas o pessoal dela não a largaria
Eu não ligo
Com outros caras dançando com minha garota
Está tudo bem
Eu os conheço muito bem
Mas eu sei que às vezes eu
Devo sair de cena
Melhor deixá-la pra trás
Com as crianças, elas estão bem
As crianças estão bem
Às vezes
Eu sinto que eu tenho que partir
Sinos tocam
Eu sei que eu tenho que partir
E eu sei que se não for
Eu vou perder a cabeça
Melhor deixá-la pra trás
Com as crianças, elas estão bem
As crianças estão bem
As crianças estão bem
As crianças estão bem