Após o lançamento de seu primeiro álbum no final dos anos 70, a banda Tom Petty & The Heartbreakers foi rotulada dentro do movimento Punk/New Wave (!?!) pela imprensa, que se inebriou pela energia vibrante e grossa que emergia daquela mistura de riffs (na linha The Byrds) e confiança/arrogância (na linha The Rolling Stones). Bem, sob uma certa ótica, tal categorização até fazia sentido... comparados ao Rock pauleira e ao Art Rock que dominaram o Rock do meio dos anos 70, o abraço dos Heartbreakers às raízes era algo quase tão inesperado quanto os acordes explosivos do The Clash. Entretanto, na medida em que o tempo passou, ficou claro que a banda não vinha para romper com tradições (como seus contemporâneos Punks). Ao contrário, eles as celebravam, selecionando o melhor da British Invasion, do Garage Rock norte-americano e do Rock de compositores (pense Bob Dylan) para criar um híbrido distinto e próprio, que lembrava o passado sem estar em dívida com ele. Os Heartbreakers eram uma banda de apoio coesa, muscular e versátil apta a prover o suporte adequado às canções de Petty, que catalogavam uma série de pessoas da classe média, perdedores e sonhadores. Enquanto na voz (anasalada e esganiçada) Petty podia lembrar Dylan e Roger McGuinn, nas composições (enxutas, diretas e simples, sem adornos) ele lembrava o estilo de Neil Young. Por toda a carreira, Petty & The Heartbreakers nunca abandonaram este tipo de som marca-registrada, mas eles foram capazes de expandi-lo, acrescentando influências da psicodelia, do Southern Rock e da New Wave. Eles também foram um dos poucos roqueiros tradicionalistas que abraçaram os vídeo-clipes, produzindo alguns dos mais inventivos e populares clipes da estória da MTV. E esse desejo de experimentar com os limites do Classic Rock ajudou-os a manter a popularidade nas décadas seguintes.
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Mudcrutch: Mike Campbell, Tom Petty, Randall Marsh e Benmont Tench |
Nascido e crescido no noroeste da Flórida, Tom Petty começou a tocar música ainda no segundo grau. Aos 17 anos, abandonou a escola para tocar na banda "Mudcrutch", junto com o também guitarrista Mike Campbell e do tecladista Bernmont Tench. Por volta de 1970, o Mudcrutch mudou-se para Los Angeles com esperança de conquistar um contrato de gravação. O iniciante selo Shelter Records, fundado por Leon Russell e Denny Cordell, ofereceu ao grupo um contrato. Entretanto, a banda se separou pouco depois. Cordell ainda ofereceu um contrato a Petty como artista solo, mas ele se sentiu inseguro. Nos anos seguintes, Petty circulou por várias bandas e eventualmente encontrou novamente Campbell e Tench, em 1975. Nessa época, o duo estava trabalhando com o baixista Ron Blair e com o baterista Stan Lynch. Logo, Petty se envolveu no projeto que virou o nome "Heartbreakers".
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Os Heartbreakers: Mike Campbell, Benmont Tench, Tom Petty, Ron Blair e Stan Lynch. |
Como Petty ainda estava sob contrato com a Shelter, o novo grupo assumiu este compromisso e lançaram o álbum "Tom Petty & The Heartbreaker", em 1976. Na época, aquilo soou novo o suficiente para quase ser considerado Punk Rock. Claro, eles não eram tão visionários e nem rompedores como os Ramones, mas dividiam similar paixão pelo Rock puro dos anos 60 e, para os Heartbreakers, isto significava abraçar tanto os Byrds quanto os Stones. E talvez seja esta a melhor definição para este álbum! Melodias equilibradas por uma artilharia de garagem impetuosa. Por vezes, a atitude e o som se sobrepunham às composições, mas isso não era problema, afinal eram canções leves cheias de espírito e apelo. Na época, aquilo era "underground". Aderência aos ganchos Pop e às melodias, o amor por guitarras, o lado roqueiro evidente em todo o disco e "American Girl", a faixa que fechava, uma canção a la Byrds, porém sem delicadezas. Os destaques eram muitos: "Rockin' Around (With You)", "Hometown Blues", "The Wild One, Forever", "Breakdown" e, claro, "American Girl" (que se tornaria uma das mais emblemáticas canções de Petty), todas ilustrando quão novo aquilo era em 1976. Inicialmente, o álbum foi ignorado nos EUA, mas, quando eles viajaram à Inglaterra em turnê para divulgá-lo (abrindo para Nils Lofgren), o disco decolou. Em poucos meses, a banda estava encabeçando seus próprios shows e o álbum entrou no Top 30 inglês. Isto fez com que a Shelter soltasse o single "Breakdown" nos EUA, desta vez com sucesso (ele alcançou o Top 40 e "American Girl" tornou-se outro sucesso). "You're Gonna Get It!", de mai/78, ainda não foi aquele discaço, mas trouxe momentos maravilhosos. Muitos o consideram inferior à estreia por ter sido escrito na estrada e pela música soar como uma simples extensão da anterior, mas dito isto, o álbum funcionava e muito. Não era uma obra-prima, mas enfileirava outra sequência matadora: "When The Time Comes", "I Need To Know", "Listen To Her Heart", testamentos de quão boa era a banda. Se, de fato, o resto do disco não atingia esse nível, era sinal de eles ainda estavam procurando a direção. De qualquer maneira, um trabalho sólido, com ótimas performances, indicando que o melhor ainda estava por vir. Subitamente, a banda passou a ter problemas com a gravadora. A empresa-mãe da Shelter, a ABC Records, foi comprada pela MCA Records e Petty tentou renegociar seu contrato. A MCA não quis à princípio, mas eles acabaram conseguindo assinar com uma subsidiária da MCA, a Backstreet Records.
"Damn The Torpedoes", de nov/1979, foi o primeiro por este selo. O resultado foi o primeiro grande álbum da banda, uma obra-prima. Musicalmente, seguia a trilha da promessa dos dois primeiros ofertando uma fusão de Stones com Byrds que, graças à produção de Jimmy Iovine, soava moderna e atemporal. Mas, além disto, os Heartbreakers soavam ainda mais coesos, mais musculares, lembrando os Stones do auge, com todas as partes combinando-se poderosamente num som distinto capaz de reunir brilhantemente todos os tipos de variações envolvidas. A tremenda flexibilidade da banda ajudava a expor a alma daquele conjunto espetacular de canções. Sim, Petty já havia conseguido compor alguns clássicos do Rock ("American Girl", "Listen To Her Heart"), mas aqui foi onde seu talento compositor desabrochou de verdade. A maioria das canções tinha um ar melancólico subentendido. De "Here Comes My Girl" a "Even The Losers", todas tendiam a partir corações. A contagiante "Don't Do Me Like That" tratava de uma relação dolorosa, "Refugee" era um Rock borbulhante, "Louisian Rain" era uma balada rasgada... As performances tinham propósito e paixão e isto fez de "Damn The Torpedoes" uma audição imediatamente revigorante. Poucos álbuns do Rock mainstream do final dos anos 70/início dos 80 foram tão fortes quanto este. E ele ainda assim se mantém até hoje: um dos grandes álbuns do Rock. Não deu outra: foi um lançamento que mudou o patamar da banda! Eles conquistaram uniformemente excelentes resenhas, "Don't Do Me Like That" e "Refugee" foram enormes sucessos nas paradas e o álbum eventualmente vendeu mais de 2 milhões de cópias. Curiosamente, mesmo neste auge de popularidade, Petty viu-se em apuros novamente com a gravadora, no momento em que se preparavam para lançar o trabalho seguinte. A MCA quis lançá-lo por um preço acima do padrão do mercado. Petty recusou isto e ameaçou a reter o disco e organizar um protesto de fãs para forçar a companhia a lançá-lo pelo preço justo. Ganhou! "Hard Promises", de mai/81, confirmou que "Damn The Torpedoes" não era um pico único da carreira deles. Na superfície até não havia nada muito novo, já que continuava o som de seu antecessor. Mas o álbum era recheado por ótimas composições, mais aquele som bem pessoal. A faixa de abertura, "The Waiting" tornou-se a mais conhecida do disco, mas isto não pode fazer-nos esquecer "A Woman In Love (It's Not Me)", "Nightwatchman", "Kings Road", "Insider" e "The Criminal Kind", todas que se tornariam favoritas dos fãs. Se é verdade que "Hard Promises" não tinha o mesmo arrebatamento de "Damn The Torpedoes" (afinal, não é fácil conseguir reunir uma abençoado grupo de canções tão poderoso), por outro lado, trouxe um tremendo conjunto de faixas, com um som encorpado num dos melhores discos do Tom Petty. Alcançou o Top Ten, foi à Platina e colocou o hit "The Waiting" lá nas nuvens. No final daquele ano, Petty produziu o álbum de volta de Del Shannon ("Drop Down And Get Me") e compôs "Stop Draggin' My Heart Around" em dueto com Stevie Nicks (esta faixa sairia no álbum dela, "Bella Donna", que também teve os Heartbreakers como banda de apoio).
Eles voltaram no final de 82 com "Long After Dark" (de nov/82), o quinto álbum, porém soando cansados. Mesmo considerando algumas novidades aqui e ali, a banda não mudou nada do estilo mantendo seu crossover Stones/Byrds no que a imprensa denominava de "Heartland Rock" (um termo usado para o Rock com elementos de Americana, Folk, Country, Garage Rock, evitando eletrônica e colocando ênfase nas guitarras, na autenticidade - pense em Bruce Springsteen - cantando estórias narrativas de gente comum com valores dignos e vida dura). Bem, isto não era um problema em si já que o estilo comportava, como ficara demonstrado nos quatro primeiros álbuns, numerosas variações. Porém, infelizmente, em "Long After Dark", ainda que houvesse destaques ("You Got Lucky" era um clássico e "Change Of Heart" chegava perto), o restante das canções soavam como filler. Como os Heartbreakers eram uma ótima banda, o disco ainda assim era bom nas performances, mas as composições não eram memoráveis e quando o disco acabava nada era tão estimulante para reouvi-lo. Talvez, por ele ter surgido na esteira dos dois sensacionais álbuns anteriores, isto tenha gerado desapontamento. Ainda assim, o disco foi ao Top Ten. Na sequência, o baixista Ron Blair saiu da banda e foi substituído por Howie Epstein (ex-John Hiatt). Petty & The Heartbreakers passaram quase três anos para gravar o próximo álbum. "Southern Accents", de abr/85. Produzido por Dave Stewart (Eurythmics), era um trabalho ambicioso, uma tentativa de incorporar toques de psicodelia, Soul Music e Country, dentro de um disco conceitual sobre o Sul. Ocasionalmente, as coisas funcionavam. Faixas como "Rebels" e "Spike" eram ótimos Rocks e "Don't Come Around Here No More" e "Make It Better (Forget About Me)" cumpriam o objetivo de expandir-lhes os limites sonoros, mas no resto o disco ficava no meio do caminho pesado pelas próprias ambições. As gravações também foram tumultuadas (para dizer o mínimo). Petty socou uma parede do estúdio e quebrou a mão (aparentemente num gesto de frustração pela mixagem). O disco até vendeu bem (foi a Platina) e a banda passou 1986 numa turnê como banda de apoio de Bob Dylan.
Nesse meio-tempo, eles lançaram um álbum duplo ao vivo, "Pack Up The Plantation: Live!". Considerando as críticas negativas recebidas por "Southern Accents", principalmente por ser muito Dave Stewart e pouco Heartbreakers, eles retornaram rapidamente o foco à si próprios e procurando mostrar os roqueiros que eles de fato eram. O disco fazia isto, embora não fosse fodástico como poderia ter sido. Parte dos problemas estavam na seleção do repertório (não tão bom quanto poderia), fixando-se muito no material de "Southern Accents". A coisa era balanceada pelas ótimas performances e os covers para "So You Want To Be A Rock & Roll Star" (Byrds), "Needles And Pins" (Sonny Bono) e "Don't Bring Me Down" (Carole King). Só por isso, vale a pena uma investigada de verdadeiros fãs, mas não indicado para ouvintes comuns. Em abr/87, surgiu "Let Me Up (I've Had Enough)". Influenciados pelo trabalho com Dylan, moveram-se para longe das pretensões de "Southern Accents" na direção charmosa de uma busca solta pelos sons de raízes do Rock, algo feito com um ecletismo profissional impressionante e que eles desenvolveriam cada vez mais. Era o álbum mais simples e o melhor deles desde "Hard Promises". Não era perfeito, longe disto. Cheio de faixas com fechamentos soltos, fragmentos e produção frágil, era um trabalho desafiadoramente bagunçado. Não havia destaques, mas também nenhum filler: apenas uma boa coleção de baladas, Country-Rocks, Pop-Rocks e Hard Rocks. Logo após o lançamento deste disco, a casa de Tom Petty e a maioria de seus pertences foram destruídos por um incêndio. Ele, a esposa e duas filhas sobreviveram incólumes.
Durante 1988, Petty tornou-se membro do supergrupo "The Traveling Wilburys" (talvez, o maior supergrupo de todos os tempos!) que reuniu Bob Dylan, George Harrison, Roy Orbison e Jeff Lynne. Eles lançaram o álbum de estreia no final daquele ano (acho que esta parte da história vou pedir ao brother Marcão para contar, porque ele conhece bem melhor do que eu). Os Traveling Wilburys motivaram Petty a gravar seu primeiro álbum solo, "Full Moon Fever", de abr/1989. Embora "Let Me Up (I've Had Enough)" tivesse trazido os Heartbreakers recobrando a força como banda e descobrindo novos caminhos para composições, não foi um disco que vendeu bem. Talvez, por esse motivo ou pelo cansaço da estrada, Tom Petty tenha resolvido partir para gravar esse disco solo. Mas não se engane: "Full Moon Fever" era essencialmente igualzinho a um álbum com os Heartbreakers. Mike Campbell aparecia na co-autoria de duas canções e co-produzia o disco. Além disso, ele, Benmont Tench e Howie Epstein tocavam em todo o álbum. Curiosamente, ele soava algo para além dos Heartbreakers devido à presença de Jeff Lynne (líder da Electric Light Orchestra), que era o produtor principal e dividia composições com Petty. As raízes roqueiras ficavam cobertas por camadas de harmonias vocais, teclados e violões. O som era amigável, radiofônico, algo antigo, mas de construção admirável e muito bonito. Mas a real razão para "Full Moon Fever" ter se tornado um enorme sucesso foi que ele conseguiu reunir uma seleção de canções que rivalizava a de "Damn The Torpedoes". Sem faixa fraca, mesmo as menos fortes eram igual uma bomba atômica. O álbum era um desfile de canções altamente matadoras: "I Won't Back Down", "A Face In The Crowd", "Yer So Bad", "A Mind With A Heart Of Its Own", o cover dos Byrds "Feel A Whole Lot Better", "Runnin' Down A Dream", "Free Fallin'" (um das melhores canções de Petty)... uma obra-prima! O resultado foi o ápice comercial de Petty indo à Platina tripla e gerando inúmeros singles.
Em 1990, Petty participou do segundo álbum dos Traveling Wilburys, divertidamente chamado "Vol. 3". Somente em jul/91 que Petty oficialmente se reuniu aos Heartbreakers para o álbum "Into The Great Wide Open", outra produção de Jeff Lynne. O disco seguiu a brilhante fórmula de sucesso de "Full Moon Fever", mas foi decepcionante. Os Heartbreakers soavam repetindo-se. O disco soava exatamente igual a "Full Moon Fever", muito devido à produção super estilizada de Lynne. Ficava um troço meio estéril, muito cheio de rebuscamento. Além disso, a qualidade das composições nem chegava perto das de "Full Moon Fever" ou "Let Me Up (I've Had Enough)". Bem, não rivalizava à falta de inspiração de "Long After Dark", havia algumas pérolas menores ("Learning To Fly", "Kings Highway", "Into The Great Wide Open"), mas havia bobagens também. Em resumo: bom para uma audição agradável, mas insuficiente para ser colocado no nível de seu melhor trabalho. Ainda assim, o disco conseguiu manter boas resenhas e foi à platina. Em 93, surgiu a coletânea "Greatest Hits" com duas novas faixas produzidas por Rick Rubin (incluindo o Top 20 "Mary Jane's Last Dance"). Petty então trocou a MCA pela Warner Bros. O baterista Stan Lynch deixou a banda em 94 e Petty gravou seu segundo álbum solo.
Lançado em nov/94, "Wildflowers", foi recebido com resenhas entusiasmadas e ótimas vendas, superando até o anterior. Sob produção de Rick Rubin, Petty gerou um disco sutil, sem os efeitos bombásticos de Lynne, o que foi revigorante. Relaxado e confiante, com um repertório de ótimas canções (algumas relaxadas até demais), a maioria no mesmo nível de qualidade de suas melhores ("Wildflowers", "You Don't Know How It Feels", "It's Good To Be King", entre outras), o álbum se posicionou fácil entre seus melhores trabalhos. Foi à tripla platina e disparou um monte de hits. Petty e os Heartbreakers se reuniram em 1996 para gravar a trilha do filme "She's The One" ("Nosso Tipo de Mulher", no BR), de Edward Burns. O resultado foi um sucesso moderado indo a disco de ouro. Em abr/99, surgiu "Echo", foi uma extensão de "Wildflowers", tanto em termos de sonoridade quando de pegada. O estranho é que soava como um disco solo. Boa parte do disco tratava do divórcio de Petty após um casamento de mais de 20 anos. Até Hard Rocks como "Free Girl Now" tinham uma ponta de tristeza e arrependimento. Permeado por esse tipo de melancolia, em meio à Rocks e baladas, era uma gravação mais emocional do que o normal. O espírito de "Wildflower" estava ali, no entanto, revelando quão versátil os Heartbreakers eram como banda. Mesmo sem surpresas, Petty conseguia entregar um disco que funcionava redondo e com alguns destaques. Talvez, um pouco longo demais, mas demonstrando maturidade.
Tom Petty sempre combateu as corporações e a indústria da música (lutou por preços menores, reclamou dos vídeos, sempre defendendo a velha escola e a estética do Rock anos 60). Sempre houve muito para se admirar quanto a tais posições, especialmente quando ele acusou as corporações por terem estrangulado a música. Mas isso não foi suficiente para manter um disco como "The Last DJ", lançado em out/2002. Nem todas as faixas eram sobre a morte do R'n'R e sobre o que as terríveis corporações fazem, mas era o tema que percorria o disco. Lamentos sobre a perda da liberdade, artistas vendidos, tudo tanto didático quanto torturado. Faixas como "Money Becomes King" e "Joe" (sobre um chefão da indústria, com suas letras vulgares - fácil a pior canção dele) acabaram obscurecendo outras como a adorável "Dreamville" (a melhor do disco), num repertório confuso. Em vez de conseguir libertação, era algo que paralisava a banda impedindo-a de mostrar sua força. Foi o primeiro álbum realmente fraco da carreira deles. Em jul/2006, surgiu "Highway Companion", o terceiro álbum solo de Petty. O conceito aqui foi de música para pegar uma estrada e viajar. Desde o início, com o riff meio Jimmy Reed/ZZ Top de "Saving Grace", o álbum soava próprio para isto. Mas havia passagens acústicas (como "Square One"). Embora as canções zique-zaqueassem entre o Pop Rock dos anos 60 ao estilo Dylan, esse talvez fosse o primeiro disco realmente solo dele. Bem, ele não estava completamente sozinho. Seu parça de longa data Mike Campbell comparecia, assim como Jeff Lynne (que aqui não trouxe suas produções tão grandiosas e vistosas típicas da E.L.O.). De fato, "Highway Companion" era rústico, no estilo "Wildflowers", em escala menor, sem overdubs, num resultado modesto, porém atrativo. Entretanto, por outro lado, era Petty tentando fazer um disco divertido de R'n'R, espécie de trilha para o verão e pegar estradas, mas com o coração triste em faixas bem introspectivas. Talvez, fosse ideal para se dirigir sozinho e tarde da noite. Foi um trabalho bem mais sentimental que a maioria de seus discos (tendo muito em comum com "Echo", o disco sobre seu divórcio).
Após isto, ele reuniu a banda Mudcrutch original para um álbum e uma turnê, em 2008. O disco, lançado em abril daquele ano, foi um ato de um velho roqueiro colocando em ação sua primeira banda. Como eles nunca tinham gravado nada além de alguns singles e demos, esta foi a oportunidade para conhecer melhor aquele Southern Rock. Na verdade, o Mudcrutch havia se metamorfoseado no Heartbreakers, o que significa que metade da banda (Mike Campbell e Benmont Tench) aqui novamente estava. O resultado foi algo mais solto, tanto em som e atitude, que qualquer projeto recente de Petty. Sem realmente atolar o pé no pântano sulista, não era exatamente uma volta aos tempos da Flórida. Era mais um disco da ensolarada Califórnia, estranhamente evocando os Byrds dos últimos registros (depois da saída de Gram Parsons e com a entrada de Clarence White), e soando como se fosse uma gravação feita em 1970/71. Uma re-conexão com o passado, buscando revitalização. Junto com a forte ênfase na interação instrumental, "Mudcrutch" conseguia surpreender nostalgicamente, ainda que não fosse perfeito. "Mojo", creditado a Tom Petty & The Heartbreakers, surgiu pelo selo Reprise Records, em jun/2010. Após mais de 30 anos de Rock de Garagem norte-americano sem frescura, bem classudo, Petty podia até ser alinhado à artistas como Bruce Springsteen, mas o estilo Petty sempre havia sido limado de clichês, frequentemente mais lúcido e zombador, sem querer saber de nostalgia e tempo perdido. Nesse "Mojo", esta banda mirava na Chess Records. Sonoramente os Heartbreakers sempre foram uma tremenda banda, mas aqui soavam cansados, exaustos, drenados de energia e emoção, sem a carga dramática necessária para flertar com o Blues. Era preferível que eles tivessem simplesmente feito um disco de covers da velha Chess, ao invés de ficar tentando compor seus próprios clássicos. Chato.
A banda excursionou regularmente nos quatro anos seguintes até retornarem em jul/2014 com "Hypnotic Eye", um disco psicodélico, repleto de Fuzz, órgãos distorcidos, ritmos 4x4, tudo entremeado por Blues/Jazz, evocando o bom e velho Rock de Garagem. Nostalgia? Sim, mas musculosa e cheia de habilidade, com forte infraestrutura, tudo tocado de maneira visceral, acentuando as interações instrumentais. Um disco imediato e complexo, a exigir repetidas audições. O grupo soava revigorado. Mais dois anos se passaram e Petty reuniu de novo o Mudcrutch para um segundo álbum apropriadamente chamado "2" (de mai/2016). Este disco, curiosamente, não era uma sequência direta do primeiro. Com composições novas de todos na banda, ainda sob a liderança de Petty, eles viajavam pela guitarra pantaneira pesada, pela briza Country, pelo retro-Boogie, pela festa garageira, baladas de coração partido, psicodelias e canções inspiradas nos Byrds. Tudo bem casual, sem necessidade de provar nada para ninguém, porém executado com competência e precisão. Um bom disco, que demonstrou o quão mais profundo o Mudcrutch poderia ir.
Em abr/2017, surgiu o álbum "Psychotic Reaction", uma gravação ao vivo feita através de uma transmissão de FM em 1991 capturando a banda na turnê de suporte dos álbuns "Full Moon Fever" e "Into The Great Wide Open", no Oakland-Alameda County Coliseum, na Califórnia. O último show de Tom Petty & The Heartbreakers aconteceu no lendário Hollywood Bowl, há uma semana, no dia 25/set/2017. Quem poderia imaginar? Foi um set do tipo "greatest hits" celebrando 40 anos de carreira e fechando com a célebre "American Girl". Confira as duas últimas deste show (o show completo você pode achar no YouTube):
Ótimo resgate, numa tacada só, a obra do cabra! Você comentou no zapp sobre o Damn the Torpedoes. É o disco símbolo dele com os Heartbreakers. Lembro muito da capa estampada nas lojas de discos da época. No Greatest Hits, que tenho dele, há 5 canções desse álbum.
ResponderExcluirSobre o projeto Traveling Wilburys, nunca tinha pesando por esse lado, mas já que comentastes, realmente deve ser mesmo o maior dos supergrupos da história, afinal além de Lyne e Petty, músicos pra lá de consagrados à época, o projeto reuniu dois monstros sagrados, Dylan e Harrison, e um mito, Roy Orbison. O segundo disco denominado 3 é uma homenagem ao colega Orbison, que morreu pouco antes das gravações do álbum, que então reuniu apenas os 4 remanescentes (ou Orbison chegou a gravar alguma coisa, não me recordo agora, mas morreu antes do lançamento). Por isso eles saltaram o número 2, que só foi contemplado tempos depois com o lançamento de um ao vivo deles, de um show antigo com participação de Orbison. Na luxuosa caixinha que comprei deles em LA tem a trilogia completa, mais libreto com muita informação e fotos. Um xuxuzinho para qual tenho o maior carinho, um dos boxes que tenho o maior xodó na minha coleção.
Preciosidade essa caixinha, heim brow?
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