quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A noite em que Ian Hunter invadiu furtivamente a casa de Elvis Presley

O Mott The Hoople foi uma das melhores (e, infelizmente, não tão valorizadas) bandas dos anos 70. Eles foram salvos de se separarem em 1971, por David Bowie (fã declarado), que lhes presenteou com a canção "All The Young Dudes", o maior sucesso que teriam na carreira. Ian Hunter, líder do Mott The Hoople, em 2010, escreveu (o que muitos consideram) um dos melhores livros sobre a vida na estrada, "Diary Of a Rock'n'Roll Star", no qual relembra estórias da turnê de sua banda pelos EUA, nos idos de nov/dez/72. Durante aquelas 5 semanas de turnê relatadas, Hunter manteve um diário no qual anotou as aventuras, o tédio, as groupies, visitas às lojas de instrumentos musicais, os shows e encontros com David Bowie, Frank Zappa e Keith Moon etc. Hunter descreveu tudo com vibrante entusiasmo juvenil, típico de um garoto maravilhado com todas as possibilidades de vida descortinadas a eles. Quer ouvir uma dessas estórias? Numa noite, já quase no final da turnê, após tocarem em Memphis, TN, Hunter (já prá lá de Bagdá) resolveu visitar Elvis Presley e pediu seu motorista Ike que o levasse à lendária Graceland, lar do "Rei do Rock". Chegando aos portões externos (aqueles decorados com notas musicais), percebeu o vento frio da noite. Tocou a campainha externa e um dos muitos primos de Elvis veio. Os visitantes pediram se podiam enfiar o carro pelo caminho a dentro, mas o carinha não deixou. Elvis estava na casa. Ele iria ficar lá por 2 ou 3 dias, havia chegado há uma hora e meia e não queria ser importunado. O máximo que Hunter conseguiria seria que abrissem os portões e o deixassem tirar uma ou outra foto do lado externo para recordação, porém no seu estado etílico daquela noite aquilo era totalmente insatisfatório. O motorista, então, distraiu a atenção da guarda e Hunter invadiu e caminhou por uma pequena calçada que o levou até a porta frontal da mansão. Faltavam poucos dias para o Natal e havia, na grama, um presépio iluminado. Hunter vestia-se com uma túnica tipo islâmica e foi um milagre os guardas não o perceberem entrando. Lâmpadas azuis delineavam o caminho. Havia árvores de Natal de cada lado da entrada. Hunter moveu-se para a parte de trás da casa, alcançou a garagem e ouviu cães latindo. Rapidamente, alcançou a porta dos fundos, a abriu e entrou. Hunter pensou: "Puta merda! Estou delirando? Estou dentro da casa do cara!! Ele deve estar aqui pertinho, a uns 50 metros de mim, no máximo. Uau, vamos em frente!". Ele logo encontrou mais 2 portas internas, uma para a direita (que dava para uma sala tipo de esportes) e outra para a esquerda (com tapetes, um corredor e uma escadaria), que pareceu ser onde o Rei estaria. Na dúvida, ele resolveu bater. Nenhuma resposta. Bateu mais forte e uma senhora de pele escura apareceu, muito bem vestida, e olhou para ele pela janela. Devia ser provavelmente Alberta, a governanta de Elvis. Hunter lhe disse: "Andei 4,5 mil milhas para ver Elvis Presley. Seria possível vê-lo?" Ela respondeu: "Desculpe, o Sr. Presley está cansado e não quer ver ninguém". Ele insistiu: "Você tem certeza que é impossível de eu vê-lo?" Ela disse: "Sim, estou certa disso". Hunter se desculpou: "Bem, desculpe-me pelo inconveniente. Voltarei e sairei pelo portão. Não se preocupe. Já fui longe demais vindo até aqui. Boa noite". Ainda assim, Hunter sentiu-se exultante. Ainda bem que não encontrou com Elvis. Imagine: o Rei teria ficado irritado ao vê-lo ali invadindo sua casa, sua privacidade, bêbado e cambaleando no meio da noite. Hunter sentiu-se como uma groupie de 14 anos de idade, foi pura aventura, inesquecível! Na casa do Rei, enganando toda sua guarda! Na verdade, não foi tão bem sucedido assim... logo que alcançou a frente de Graceland, os guardas já o esperavam para o expulsar.
P.S.: Aliás, o Mott The Hoople se reuniu ano passado para uma série de shows e Ian Hunter continua a gravar discos ótimos (tenho o "Shrunken Heads", de 2007, nota 10, sublime, mas dizem que "When I'm President", de 2012, é ainda superior - Uau!) e a fazer turnês com sua "Rant Band". Taí um ídolo que eu adoraria ver em ação...
P.S.2: Acabo de encontrar no YouTube (onde mais?) um doc sobre o Mott The Hoople, feito pela BBC. Duca total!

2 comentários:

  1. É uma pena que algumas, ou melhor muitas, biografias ou mesmo documentários não cheguem ao nosso pobre mercadinho. O mercado editorial lá fora ferve e o nicho musical é gigantesco. Mas aqui só os nomes mais conhecidos recebem atenção. Certamente essa bio de Hunter não estará em nossas livrarias, assim como o sensacional (mesmo sem ver afirmo) doc sobre o seminal estúdio de gravação Muscle Shoals, nos cafundós do Alabama.

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  2. É... há uma onda (talvez, até uma avalanche) de livros sobre música (Rock, em especial) no mercado brasileiro, mas parece que a coisa fica meio no mainstream (entenda: aquilo que venderá com certeza). Artistas como Ian Hunter e seu Mott The Hoople, conhecidos apenas do nicho dos verdadeiros roqueiros, du-vi-do que receberão edição nacional. E já pensando assim, não tô nem aí também, já passei a comprar livros importados... ré-ré-ré... acabo de adquirir o "S.T.P., A Journey Through America With The Rolling Stones", de Robert Greenfield, considerado o melhor livro sobre a turnê norte-americana do "Exile On Main Street" dos Stones (aquela que sucedeu ao tenebroso show de Altamont), conhecida como "Stones Touring Party". Aahuhuauhuahauhuhah

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