domingo, 12 de outubro de 2014

Anunciada continuação de "Twin Peaks"

Pelo jornalista André Forastieri.
A fita VHS passava de mão em mão. Preciosa, vinha de longe - Los Angeles. Uma fita a cada duas, três semanas, um mês, como demora! E quanto mais perto do fim, maior o tempo entre elas. Era assim na nossa redação em 1991. Ana Maria Bahiana, nossa correspondente, programava o videocassete de seu apê em Century City, Los Angeles. As fitas vinham para São Paulo pelo malote da Editora Azul. Endereçadas para o diretor de redação das revistas Bizz e Set, de música e de cinema, José Augusto Lemos. Meu chefe. Que assistia rápido e me repassava, fazendo suspense. Eu via rápido com namorada e amigos, dia de pizza e cerveja e muito debate. Que diabo a gente acabou de ver? E no dia seguinte eu já repassava para outro colega de redação. Queríamos que todos vissem logo, pra gente poder comentar. Cara, viu o anão que fala ao contrário? A mulher que carrega o tronco? A mina dando um nó no cabinho da cereja com a língua? E quem matou Laura Palmer? Era Twin Peaks. A série que criou o mundo das séries. A gente não sabia disso na época. E jamais imaginaríamos. Porque era uma série era muito doida e muito careta e muito anos 50 e muito do futuro, tudo ao mesmo tempo. Mas foi a matriz do que vinha. Porque Twin Peaks, sem dar audiência gigantesca, dava muito assunto, gerava debates, dividia, conquistava. Fenômeno pop, capa da Rolling Stone. Que loucura. Que mulheres lindas.
Twin Peaks não tinha audiência, tinha fãs. Nós queríamos comprar camisetas e canecas e badulaques em geral. Deu um lucrão. É o modelinho perseguido por todas as séries de hoje. Contar uma longa história aos pedaços, com personagens marcantes, mistérios & surpresas, sex-appeal. Causar, marketear, licenciar, faturar. Boxixo é o sangue nas veias da web, que nem existia em 1991. Twin Peaks implodiu logo. Era estranha demais para ser o que podia ter sido. A segunda temporada fez água; veio um longa metragem; tudo desnecessário. Pioneiros frequentemente quebram a cara. Quem vem depois vê mais longe, porque nos ombros de gigantes. O que veio depois foi Arquivo X, exato filhote de Twin Peaks com Além da Imaginação. O protagonista de Twin Peaks, Agente Cooper, era um cético agente do FBI que, obrigado a eliminar o provável, passa a aceitar o impossível como a única explicação. É Fox Mulder e Dana Scully encapsulados. Arquivo X pegou o começo da web de massa. Dá dinheiro à beça até hoje. Um quarto de século passa tão rápido que dá tontura. Os produtores de Twin Peaks prometem uma continuação para 2016, no canal Showtime, só nove episódios, todos escritos pela dupla original, o diretor David Lynch e o produtor Mark Frost. Lynch dirigirá todos. O teaser está abaixo. O que esperar? Difícil surpreender uma geração que cresceu com os seriados que beberam em Twin Peaks e depois Arquivo X. A minha safra comemora a curta duração da nova série e cruza os dedos pela volta de Kyle McLachlan como o agente Cooper. Fantasiamos com mais do mesmo, mais estranho, mais além. Não dá para botar tanta fé? É caça-níqueis? Lynch virou um velhinho ripongo? Não consigo não torcer a favor. Em 1992, minha primeira viagem para os EUA, fiz questão de ir para Seattle, a cena de rock mais quente da época. E de lá para... a verdadeira Twin Peaks. A uma hora de Seattle estão o velho hotel, a cachoeira de Snoqualmie, a floresta, a lanchonete. Comi a torta de cereja. Damn good coffee!
Retirado do site http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2014/10/06/o-mundo-que-twin-peaks-criou/

4 comentários:

  1. Putz, o que dizer? Considero-me um "Twin Peaks" maníaco (para os padrões tupiniquins) e estou como o Forasta: medo de ser uma cagada, mas torcendo para dar certo. Há uns anos, comprei a caixa de DVDs com a íntegra da série, mas mil bônus, dourada, que é completamente DUCA! Todos sabem que David Lynch só dirigiu a 1ª temporada. A 2ª foi dividida por vários diretores e este fato é apontado pela perda da coesão e queda da tensão (e nível de bizarrice, se é que vc me entende). Tenho que reconhecer a queda, mas ainda assim vale demais a pena assistir a 2ª temporada (e a toda série). Marcou época... Dá medo de ver até hoje....o clima soturno/sombrio é inebriante... acho que vou reassitir a tudo de novo para entrar no clima... viva!!!

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  2. O grande José Augusto Lemos postou nos comentários da postagem original de André Forastieri:
    "Boa, André! De minha parte, lembro q, de tanto assistir os VHS gravados em L.A. (q chegavam com comerciais e tudo, nos dando insights inéditos sobre o mundo de Tio Sam), cheguei a decorar algo entre 98 e 99% dos diálogos — o q me permitiu escrever longa matéria pra Folha Ilustrada identificando cada 1 dos bárbaros erros de tradução da TV Globo e nada menos q 66 cenas cortadas pela mesma Globo pra acelerar o final da série, depois do ibope despencar devido justamente, acredito eu, a todos aqueles erros de tradução q deixaram a versão brasileira pós-Herbert Richers TOTALMENTE SEM SENTIDO. Meu amigo e twinpeaksmaníaco Igor Leonii, q chegou a ficar amigo do anão (sério!) lá em Snoqualmie, pescou esta minha matéria no acervo online da FSP e acredito q pode fazer isso aqui de novo pra nóis..."

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  3. De quebra, descobri nos comentários postados no artigo original que José Augusto Lemos e Ana Maria Bahiana têm facebook ativos:
    https://www.facebook.com/people/Jos%C3%A9-Augusto-Lemos/100006373110090

    https://www.facebook.com/ana.maria.bahiana

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  4. Só vi a primeira temporada, a segunda detestei. realmente o programa criou um estilo, meio noir pós moderno, que foi aperfeiçoado depois.

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