O disco "Fireships", de 1992, foi seguido por "The Noise", em 1993, um álbum com música cheia de energia, poderosa e barulhenta, além, claro, das letras poéticas e inteligentes. A faixa "The Entertainer" foi um sucesso imediato enquanto a faixa título era exemplar do lado arrítmico de Hammill. Uma apunhalada nas costas da sociedade materialista era disfarçada no quase Pop de "Great European Department Store". A última faixa era a lenta e assombrada "Primo On The Parapet", convidando-nos a nos voltar ao passado. Um trabalho muito bonito. Em 1994, surgiu "Roaring Forties". Da cortante "Sharply Unclear" até a insistente e latejante "Talk Turkey", passando pelas passagens gentis e instrumentais de "A Headlong Stretch" (uma faixa de quase 20 minutos, 7 partes simulando uma tempestuosa viagem pela vida) e a linda, calma e suave "Your Tall Ship", o álbum era outro exemplo da musicalidade, poesia e inspiração de Hammill em seu melhor aspecto.
"Offensichtlich Goldfisch", de 1993, e "Tides", de 1996, foram exceções na discografia já que, nesta fase, Hammill gravava exclusivamente para seu selo "Fie!". O primeiro, distribuído pelo selo Atlantic, era uma coletânea das melhores canções recentes do artista com letras vertidas para o alemão. Dominado por faixas retiradas dos discos "Fireships" e "The Noise", alguma coisa do "In A Foreign Town" e outras do "And Close As This", com pouco mais além dos vocais tendo sido regravado, o trabalho era uma experiência curiosamente nova, já que as ênfases da língua alemã e as interpretações dadas por Hammill surpreendiam alterando as emoções. "Tides", considerado um semi-pirata, foi originalmente lançado sem autorização (na verdade, ele até deu, mas retirou sua aprovação quando depois não gostou do resultado final), era uma gravação ao vivo. Talvez, um preciosismo já que a performance era não menos do que excelente e a sequência se encaixava perfeitamente numa reflexão sobre amor, morte e agir.
Fãs de Hammill sabiam que sua produção era, digamos, totalmente imprevisível. Alguns de seus álbuns (como "Chameleon In The Shadow Of The Night") eram na linha Prog-Rock intelectual, outros (como "Loopes & Reels" ou "In A Foreign Town") eram quase sem direção ou até autoindulgentes. Os trabalhos dos anos 90, ainda que muito bonitos, naturalmente já não alcançavam o nível de qualidade dos primeiros solo. Foi neste contexto que, para a surpresa geral, Hammill lançou um de seus melhores e mais consistentes trabalhos em toda carreira: "X My Heart", em 1996. Ele trouxe a belíssima balada "Earthbound", com vocais extraordinariamente sinceros e lindo arranjo de cordas. "Narcissus (Bar & Grill)" era outro delírio para fãs no melhor estilo do Hammill clássico, enquanto "A Better Time" demostrava que ele realmente era um dos vocalistas mais subestimados em todo o Rock. Definitivamente um de seus melhores discos (e um ótimo local para um iniciante começar). "Everyone You Hold" (de 1998) foi outro bom trabalho, dos melhores desta fase mais atual. Apesar de não representar nenhuma mudança, o repertório era muito focado e bastante atraente. Ritmos expansivos, percussões, guitarras processadas e de alto volume, ótimas composições, Hammill seguia em frente com sua arte.
Em 1999, ele colaborou com Roger Eno (irmão do famoso Brian Eno, que toca um piano romântico e cheio de efeitos) no álbum "The Appointed Hour". E veja só como a coisa se deu: os dois marcaram um dia e um horário que começariam a tocar, cada um em seu estúdio próprio, milhas distantes um do outro. Sem qualquer comunicação entre eles, a música seria produzida no improviso, usando-se vários instrumentos. Após uma hora exata, a gravação pararia. Esta ideia aparentemente maluca (e que supostamente nunca produziria música válida) acabou gerando resultado altamente palatável. Eno enviou sua fita para Hammill, que mixou as duas gravações. Entre violoncelos, pianos, guitarras e diversos outros instrumentos, a música é surpreendentemente envolvente, de ótima qualidade e de inacreditável força harmônica.
Ai Jisus, vou ter que adicionar mais uma item desse gigante dos vocais à minha lista. As referências ao disco My Heart me encheram a boa d'água e deu coceira nas mãos. Não imaginava que ia achar algo tão bacana dele de 1996!!!
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