Sempre que tenho o privilégio ou a oportunidade de visitar algum local
sagrado do rock, procuro me abster por alguns minutos (se der, por algumas
horas) e tentar sentir a energia que aquele landmark acumula por sua
importância histórica. Há locais em que a energia é tanta que você é transposto
no tempo. Tive a imensa honra de poder exercitar isso há exato um mês, em NY,
quando visitei a fazenda que sediou um dos mais importantes eventos da história
do rock e da contracultura, o Woodstock Music & Art Fair, em agosto de
1969. Um happening que sintetiza toda uma época, um movimento e uma geração (ou
várias que vieram depois).
Percorri vários cantos daquela enorme fazenda onde 500 mil jovens celebraram
a liberdade naquela era que mudou os rumos do comportamento humano. Em um
determinado momento, me postei exatamente onde o palco foi montado. Enquanto
olhava ao redor para imaginar a visão que os músicos tinham daquela privilegiada
audiência, foi impossível não pensar em algumas das memoráveis performances, como
as de Hendrix, Santana, Who, Joe Cocker, Janis, Airplane e, claro, Alvin Lee e
seu Ten Years After. Talvez a banda que mais se beneficiou daquele festival,
quando saiu do anonimato e atingiu o topo da fama.
Naquela última noite do festival, o quarteto britânico quase desconhecido do
público ianque, mostrou suas garras e fez queixos despencarem com uma
apresentação arrasadora, a despeito dos muitos problemas técnicos que tiveram.
Alvin Lee, que figura na minha lista top 10 da guitarra elétrica, liderou o
conjunto em uma memorável apresentação, onde também brilharam o baixista Leon
Lyons (também na minha lista top 10 das quatro cordas), o batera Ric Lee e o
tecladista Chick Churchill.
O destaque total foi para a definitiva versão de I’m Goin" Home, onde Lee
mostrou toda sua técnica e destreza a bordo de uma Gibson ES-335, também
conhecida como Big Red, da qual ele foi fiel durante toda sua carreira. O popular
blues da mais fidedigna tradição do Delta do Mississipi, cujo o autor é desconhecido,
foi transformado numa monstruosa catedral de acordes e solos fumegantes, uma Jam
de 12 minutos que entrou para a história como uma das mais espetaculares
performances do gênero na história. No local certo, na hora certa, nas mãos
certas. O estilo shred de tocar guitarra foi popularizado naquela apresentação.
Lee é considerado o avô da técnica, difundida e aperfeiçoada anos mais tarde
por outro gênio do instrumento, Eddie Van Halen.
I’m Goin' home, by Ten Years After, só existe em versão ao vivo. Não há na
discografia da banda em versão estúdio. Ela marca presença em diversos álbuns
ao vivo da banda, já que se tornou uma marca registrada e sempre foi pedida
pelo público. Normalmente, fechava o set
das apresentações. Mas a melhor versão, a única e definitiva é aquela desferida
naquela noite de 19 de agosto de 1969. Ela só é encontrada no disco do filme
Woodstock ou, claro, no DVD da película. Há uma coletânea rara, editada apenas
no Brasil e sem versão digital, com o nome de I’m Going Home, em que a mesma
versão daquela mágica noite se encontra.
Morto de forma até hoje mal esclarecida, em 2013, Alvin Lee era um dos
guitar heroes que eu muito desejava ver em ação ao vivo ainda...agora só do
outro lado, onde espero poder ver também Hendrix e Johnny Winter...mas eles vão
ter que esperar muito tempo ainda para me ter em suas platéias celestiais,
espero.


Belo destaque, heim brow. Concordo inteiramente. Alvin Lee também foi daquela turma de ingleses que fez "estágio" em Hamburgo, num treino para o estrelato. Emergiu de lá com seu Ten Years After e tornou-se mundialmente conhecido (e principalmente para os EUA), como bem disseste, no mitológico Festival de Woodstock, em 69. Sua morte, em decorrência de complicações de um procedimento cirúrgico, tem cheiro forte de erro médico. Taí: tanto Lee como sua banda-base, o TYA, merecem uma retrospectiva aqui no Mural. Anotado.
ResponderExcluirNa minha lista dos 10 mais guitarristas do rock, Alvin Lee figura em 4º lugar, só perdendo para Hendrix, Jimmy Page e Ritchie Blackmore. Tenho muito carinho por ele. Chorei muito quando soube da sua morte. Foi através dele que eu sai do mainstream, onde na época, se falava somente em Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple.
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