terça-feira, 13 de junho de 2017

O dia em que o PiL instalou uma anarquia na TV norte-americana

O "American Bandstand With Dick Clark" foi um modelo para a TV norte-americana. O programa começou em 1956 e o certinho/quadradinho Clark comandou-o por mais de 30 anos. Adolescentes e jovens eram mostrados dançando junto com artistas e bandas. Um monte de atrações duca passou por lá, incluindo o Pink Floyd fase Syd Barrett, Captain Beefheart e Prince, só para citar alguns. Vamos lembrar de uma em especial hoje. Quando o Sex Pistols implodiu no início de 1978, seu cantor John Lydon logo livrou-se do nome "Johnny Rotten" e se reinventou com uma nova banda, o Public Image Ltd. Em abr/80, o PiL estava em sua primeira turnê pelos EUA, divulgando o álbum "Second Edition" (originalmente "Metal Box"), que era um LP duplo.
Nele, a banda abandonara a base Rock da estreia migrando para um Pós-Punk estranho, esparso e dançante, numa espécie de Can misturado com Chic (!). Era inovador e único e, cá entre nós, não era algo normal de se ver na TV. No entanto, o PiL fez uma apresentação no "American Bandstand" em 17/mai/80. Momentos após "Poptones" começar, a câmera flagra Lydon sentado no lado do palco do programa parecendo meio inseguro sobre o que fazer. Logo, ele se levantou e começou a andar e tentar envolver a plateia presente ali dentro do estúdio. Mas o público não queria cooperar, então Lydon resolve fazer algo a la Iggy Pop e foi à força para o meio deles. A tímida audiência, consistente na maioria por adolescentes, pareceu tanto excitada quanto assustada, ainda mais quando foram encorajados a quebrar o protocolo com Lydon fisicamente os empurrando e puxando-os para a frente das câmeras e para o palco. Enquanto isso, Lydon nem se preocupava em fazer a sincronia dos lábios com os vocais, sacaneando completamento o playback (ré-ré-ré, coisa bem Punk, certo?). Em sua autobiografia, Lydon explicou a razão para toda aquela bagunça:
"Estava tudo dando errado desde quando chegamos e eles de repente nos informaram que aquilo seria uma coisa tipo mímica. Nosso equipamento não havia chegado, aparentemente, e nós logo ficamos ainda mais putos quando eles disseram 'Oh não, vocês não poderão tocar nada ao vivo aqui, apenas façam mímica da gravação'. Eles inventaram umas versões editadas para"Poptones" e "Careering" e apenas nos deram uma fita cassete para conferirmos de antemão. 'Oh meu Deus, eles as reduziram a isto?' Eu não sabia quando o vocal entrava, nem quando saía. O que fazer então? Ninguém sabia. Ficar tentando cantar como era no disco era... aarghh! Você pode fingir com um instrumento, mas não quando é o cantor. 'Okay, então vocês cortaram-nas como quiseram, né? Foi como remover o refrão no hino nacional, apenas para criar espaço para o intervalo comercial do programa de TV. Uma cagada!"
Como Lydon sabia que não conseguiria acompanhar sua própria canção, ele disse a seus companheiros de banda que ficaria solto e tentaria distrair todos de sua inabilidade para o playback. O que ele acabou fazendo resultou numa sensacional performance totalmente fora do script. Até Dick Clark se deixou levar pela zona, encorajando todos a vir para o palco antes de começar "Careering". O próprio Clark citou depois que aquela foi uma das melhores performances de todo o "American Bandstand". Todos dançando amalucadamente, sorrindo e balançando-se ao som daquele esquisitíssimo e ultra psicótico Pós-Punk. ré-ré-ré. Demais! Lydon acabou adorando principalmente pelo caos que criou. Tornou-se um dos momentos mais memoráveis da TV.

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