quarta-feira, 14 de junho de 2017

Os Beatles eletrônicos e irreconhecíveis

A relação e eventual casamento entre John Lennon e Yoko Ono, olhado por uma certa perspectiva específica, pode demostrar uma aliança entre a alta maestria Pop dos Beatles e os brincalhões métodos vanguardistas do movimento "Fluxus" (de cunho libertário caracterizado pela mistura de artes visuais, música e literatura, muito ativo nas décadas de 60/70, proclamando-se contra a mercantilização da arte. Começou a partir da revista "Fluxus" e teve entre seus associados John Cage, Toshi Ichijanagi, Yoko Ono, George Brecht, Jackson Mac Low, Joseph Beuys, Dick Higgins, Gustav Metzger, entre outros). É inegável que a associação entre Ono e Lennon expôs o movimento e lhe deu grande visibilidade. Os Beatles não foram pioneiros no uso da música eletrônica, mas suas incursões experimentalistas a partir da música Pop tiveram enorme efeito nos chamados "limites do Rock". A introdução de "I Feel Fine" com aquele histórico feedback, o uso de loops de fitas invertidas em "Tomorrow Never Knows", os absurdos sonoros em "Revolution #9", a colisão sinfônica da melodia em "A Day In The Life" e por aí vai. Em 5/jan/1967, os Beatles gravaram, após uma sessão de vocais para a canção "Penny Lane", um loop de fita de 14 minutos chamado "Carnival Of Light". A faixa experimental foi criada para o evento "The Million Volt Light & Sound Rave" (que aconteceu no Roundhouse Theatre, em 28/jan e 4/fev/67), mas nunca foi lançada (Harrison e George Martin detestaram e vetaram o lançamento comercial do trabalho). Confira:
O próprio Harrison deu uma contribuição-chave para o cânone da música eletrônica com o lançamento de seu segundo álbum solo simplesmente chamado "Electronic Sound" (ouça aqui), de mai/1969. O disco consistiu apenas em duas longas composições feitas num sintetizador Moog, "Under The Mersey Wall” e “No Time Or Space". Onze anos depois, Paul McCartney confundiria seus fãs com um outro experimento eletrônico, "Temporary Secretary", do álbum "McCartney II", de 1980 - ouça aqui).
Lennon é claro, não ficou fora disto e, junto com Yoko, entrou na estranha e experimental música concreta em vários de seus primeiros lançamentos (em duo colaborativo) como "Unfinished Music #1: Two Virgins" (de nov/68, aquele com os dois nus na capa, só com 3 faixas), "Unfinished Music #2: Life With The Lions" (de mai/69, com 5 faixas) e "Wedding Album" (de out/69, o último deles - todos lançados no período de um ano - ficou famoso pela faixa de 22 minutos em que os dois ficam se chamando e apenas isto). Fragmentos, conversas, gritos, vento, passos, tudo gravado caseiramente e radicalmente diferente da música dos Beatles.

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