quarta-feira, 14 de junho de 2017

O dia em que o Sonic Youth foi banda de apoio numa performance artística

Você já ouviu falar sobre Mike Kelley? Talvez não saiba pelo nome, mas certamente conhece alguns de seus trabalhos artísticos. É dele, por exemplo, a capa do álbum "Dirty", do Sonic Youth. Mike Kelley, nascido em 1954 em Wayne, MI, e falecido em jan/2012, foi um artista norte-americano cuja arte envolvia objetos que ele encontrava, banners de tecido, desenhos, colagens, performances e vídeos. Ele trabalhou em colaboração com muitos outros artistas e foi considerado muito influente. Durante uma apresentação da performance "Plato's Cave, Rothko's Chapel, Lincoln's Profile", em 1986, Kelley incluiu o Sonic Youth e a banda mais tarde acabou escolhendo seu trabalho "Ahh... Youth!" (veja acima) para a capa e libreto do álbum "Dirty", de 1992. 
"Plato’s Cave, Rothko’s Chapel, Lincoln’s Profile" consistia numa série de pinturas, uma instalação feito caverna (chamada "The Trajectory of Light in Plato’s Cave") e um texto poético. O projeto culminou em dez/86 numa performance do texto encenada por Kelley e pela atriz Molly Cleator, com o Sonic Youth tocando atrás. Uau!!
Segundo a bio do Sonic Youth, "Confusion Is Next", de Alec Foege, a história da colaboração foi assim:
"Em dez/86, Kelley convidou a banda para fazer efeitos sonoros e música incidental em três performances de seu trabalho 'Plato’s Cave, Rothko’s Chapel, Lincoln’s Profile' no Artists Space, em NYC. Kelley recitou um poema de uma hora e meia, que ele havia escrito, e o dramatizou com a ajuda da atriz Molly Cleator, enquanto a banda tocava atrás. O trabalho falava sobre a possessividade, sobre como atribuir posse a algo pode igualar tudo. Era uma exibição randômica também. A banda reuniu-se com Kelly dois dias antes e juntos checaram o script e o que Kelly gostaria (muito Rock, explosões e sons malucos). 'Eu queria encenar com uma banda no palco', contou Kelly. Numa parte das performances, a banda ficou atrás das cortinas, não era possível vê-la. Eu estava tentando encenar contra a coisa Rock Star, onde há uma droga de foco em alguém que é, nos termos teatrais do Rock, o cantor'. As ações de Kelly mantiveram-no no centro das atenções, como se ele fosse o cantor, embora o acompanhamento do Sonic Youth tenha acentuado suas ações e palavras numa sinergia meio kabuki, maior ainda do que do jeito tradicional, a que acontece quando uma banda de Rock interagi com seu vocalista".
Kelley e Lee Ranaldo (guitarrista do Sonic Youth) debateram aquele show, numa entrevista em 2009:
"L.R.: Mike e Kim Gordon eram amigos em Los Angeles. Mike estava vindo para NYC para fazer sua exposição no Artist Space e perguntou se gostaríamos de trabalhar com ele. Steve Shelley tinha acabado de se tornar nosso baterista permanente e foi numa época em que nós estávamos apenas tentando coisas e já tínhamos criado uma linguagem que funcionava confortavelmente conosco. 
M.K: Foi isso. Eu conheci Kim em L.A. antes dela mudar-se para NYC. Naquele tempo, ela ainda não era uma baixista. Era uma artista plástica. Eu assisti ao desenvolvimento do Sonic Youth e gostei da música e deles próprios. Naquela performance em particular, eu queria ter o elemento do som ao vivo modelado na ideia do teatro japonês kabuki, onde há seções musicais que jogam fora da linguagem de uma maneira bem disfuncional. Eu também queria brincar com a ideia de um show de Rock. Boa parte do público estava lá para ver o Sonic Youth porque eles já eram, naquele ponto, uma banda conhecida. Então, em algumas partes a banda realmente tomava a frente e em outras eles ficavam completamente escondidos, atrás de uma cortina, de jeito que não era possível vê-los. Foi duca porque eles às vezes eles ficavam fazendo música não típica para o Sonic Youth. Lembro-me, por exemplo, de num ponto pedir-lhes para repetirem o riff de 'Train Kept A-Rollin' indefinidamente".
As lembranças de Kim Gordon sobre sua relação com Kelley estão no vídeo abaixo, produzido como parte de uma retrospectiva sobre o artista no MOCA, em 2014. Kelley infelizmente cometeu suicídio em 2012. Ela inclusive fala sobre aquela apresentação:
"Plato's Cave, eu senti como se fôssemos um tipo de coral grego para aquela performance. Sempre entendi Mike mais como um artista performático do que artista visual. Num certo momento, percebi que o trabalho era uma performance".

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