The Allman Brothers Band: o glorioso Southern Rock que combinava Rock, Blues, Country e Jazz (parte 4)

Após a morte de Berry Oakley, a banda decidiu por unanimidade, com fervor renovado e com determinação continuar e organizar testes para selecionar novo baixista. Vários baixistas foram testados, mas a banda escolheu Lamar Williams, um antigo amigo do baterista Jai Johanny Johanson, vindo de Gulfport, MS, que havia estado por dois anos na guerra do Vietnam. Chuck Leavell, que tocaria piano no álbum solo de Gregg Allman, "Laid Back" (de out/1973), gradualmente foi se aproximando também dos Allman Brothers. Dickey Betts tornou-se o líder da banda durante o processo de gravação para o novo álbum. "Não foi que Dickey tenha chegado e dito 'Eu estou agora no comando, de agora em diante eu é que mando. Não foi isto. A banda era uma democracia, mas Dickey começou a compor mais e mais", disse o gerente de turnês Willie Perkins. "Brothers And Sisters", lançado em ago/73 e gravado ao longo de três meses no Capricorn Sound Studios em Macon, GA, trouxe um tipo de musicalidade mais enxuta e um som mais Country que, junto com uma dupla de canções que caiu no gosto do público ("Ramblin' Man" e "Jessica"), ajudou a levá-los ao topo das paradas por um mês e obterem vendas de "disco de platina". Esse enorme sucesso transformou-os na banda mais popular dos EUA. As canções foram posicionadas na ordem em que foram gravadas (sendo que as três primeiras apresentavam ainda Berry Oakley e o som era mais roqueiro e duro). As demais, já gravadas com Chuck Leavell nos teclados e Lamar Williams no baixo (assim como com Dickey Betts emergindo como cantor ao lado de Gregg Allman, mais os músicos contratados Les Dudek e Tommy Talton), tinham um som mais embolado e o baixo sumido no meio do mix. A interação entre Leavell e Betts era linda em algumas canções e o slide de Betts em "Pony Boy" foi uma demonstração deslumbrante que surpreendeu a todos. Apesar do sucesso, "Brothers And Sisters" não era um álbum clássico (embora tenha sido o melhor deles nos 17 anos seguintes), especialmente comparado com os quatro anteriores, mas serviu como modelo para algumas apresentações matadoras e provou que a banda poderia sobreviver às mortes de dois de seus membros-chaves. A capa principal era uma foto de Vaylor Trucks, filho do baterista Butch Trucks (a capa de trás trouxe uma foto da filha de Oakley, Brittany). A Allman Brothers Band retornou às turnês, passando a tocar quase que exclusivamente em grandes arenas, ganhando muito dinheiro, mas tendo que lidar com problemas de drogas, mal-entendidos entre seus membros e amizades estremecidas. Tudo culminou numa briga nos bastidores de um show com o Grateful Dead no RFK Stadium, em Washington D.C., em jun/73, que levou à demissão de três roadies de longa data da banda.

Jaimoe, Gregg, Trucks, Williams, Leavell e Betts.

Em 1974, ganhando 100 mil dólares por show, eles alugaram o "Starship", um Boeing 720B customizado usado pelo Led Zeppelin e pelos Rolling Stones. "Quando nós pegamos aquele maldito avião, foi o começo do fim", disse Gregg. Tanto ele, quanto Betts lançaram álbuns solo em 1974 ("The Gregg Allman Tour" e "Highway Call", respectivamente).

As sessões de gravações que produziram "Win, Lose Or Draw", o último álbum feito pelos Allman Brothers originais, começaram em fevereiro e foram até julho/75, entre o Capricorn Sound Studios, em Macon, GA e The Record Plant, em Los Angeles, CA. Foram desarticuladas e inconsistentes. Gregg estava vivendo em L.A. e saindo com a Pop Star Cher e se tornando mais famoso por ser famoso, do que por sua música. Seus vocais foram gravados lá. Lançado em ago/75, "Win, Lose Or Draw" era um disco fraco e foi considerado insatisfatório, ainda mais considerando-se o tempo de 2 anos entre ele e seu antecessor, e principalmente toda a qualidade do que havia rolado até então. Apesar do bom cover para "Can't Lose What You Never Had" (de Muddy Waters), enriquecido por um grande solo de Betts, não havia ali muito o que se destacar. A banda soava letárgica, ainda que tocando decentemente. Talvez, com boa vontade, a faixa-título e a instrumental "High Falls" (de Betts) pudessem ser destacadas, mas em performances nada excepcionais. Entre ago/75 e mai/76, eles fizeram 41 shows para algumas das maiores plateias de suas carreiras. Entretanto, gradualmente, os membros começaram a se separar e passagens de som e ensaios viraram coisa do passado. Os shows eram considerados sem brilho e os músicos viviam drogados. A ruptura final aconteceu quando Gregg testemunhou no julgamento de John "Scooter" Herring, roadie e segurança da banda, acusado de tráfico de drogas. Seus colegas de banda o consideraram um "dedo duro" e ele recebeu ameaças de morte tendo que receber proteção da polícia. Herring foi condenado a 75 anos de prisão (depois reduzidos por perdão presidencial). Depois que Gregg testemunhou contra Herring, o resto da banda se recusou a voltar a trabalhar com ele. O resultado foi o fim dos Allman Brothers. Leavell, Williams e Jaimoe continuaram a tocar juntos no "Sea Level", Betts formou o "Great Southern" e Gregg fundou a "Gregg Allman Band".

O álbum ao vivo "Wipe The Windows, Check The Oil, Dollar Gas", de 76, é considerado o último suspiro de uma banda moribunda, para desespero da Capricorn Records, que precisava muito deles para se manter. Aliás, o próprio disco foi inventado pelo selo para levantar dinheiro rápido. Surpreendentemente, a coisa até funcionava musicalmente. A banda apresentada nele era a que a maioria dos fãs pode assistir (já que a maioria não os conhecia antes das mortes de Duane e Oakley). Claro, não era um marco (como as Fillmore tapes), mas era um sólido disco ao vivo e uma representação ótima das canções de "Brothers And Sisters" e "Win, Lose Or Draw", melhor do que as versões de estúdio. "Southbound", "Ramblin' Man", "Jessica" e, num nível menor, "Wasted Words" surgiram excepcionalmente bem. Esta segunda geração dos Allman Brothers (com Dickey Betts como único guitarrista e Gregg Allman/Chuck Leavell dividindo os teclados) ainda fazem uma versão para "In Memory Of Elizabeth Reed" (eles nunca poderiam mais repetir o fogo de outrora) transformada em algo mais climático e com mais espaço para os teclados. 

(Continua)