quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Procol Harum: banda inglesa cuja capacidade se estendeu muito além de seu hit mais conhecido (parte 2)

Dave Knights (baixo), Matthew Fisher (órgão), Robin Trower (guitarra), BJ Wilson (bateria) e Gary Brooker (vocais)
O verdadeiro Procol Harum agora estava formado e um segundo single, "Homburg" foi gravado. Parecido com "A Whiter Shade Of Pale" no tom de grandiosidade turva, este single, lançado em set/67 pelo selo Regal Zonophone (da EMI) alcançou o nº. 6 das paradas britânicas. O álbum de estreia chamado "Procol Harum", lançado no mesmo mês, bombou na Inglaterra e nem "A Whiter Shade Of Pale", nem "Homburg" foram incluídas nele. A versão norte-americana, no entanto, abria com "A Whiter Shade Of Pale" e isto impulsionou muito as vendas por lá (alcançou o nº. 47 já em out/67). Em ambas versões, o álbum trouxe ainda a primeira versão para "Conquistador". A música do disco era uma mistura de Rock psicodélico, Blues e influências eruditas, preenchidas como letras fantasmagóricas, uma ótima presença do órgão de Matthew Fisher (sem ser chamativo) e a guitarra bonita e contida de Robin Trower. "Conquistador", "Kaleidoscope", "A Christmas Camel" e "Repent Walpurgis" (totalmente baseada em Bach) eram faixas soberbas e "Good Captain Clack" era ótima, soando como Kinks, mas divertida. Todas as canções eram composições da dupla Brooker/Reid exceto "Repent Walpurgis" (de Matthew Fisher). Nem tudo funcionava, mas na maior parte era muito acima da média. Em mar/68, "A Whiter Shade Of Pale" conquistou o prêmio de canção internacional do ano (no 13º Ivor Novello Awards, um equivalente da época para o atual Grammy).
Um novo single, "Quit Rightly So", entretanto, só atingiu o nº. 50 na Inglaterra, em abr/68. Um novo contrato foi firmado com a A&M Records nos EUA (eles permaneceram na Regal Zonophone na Inglaterra). O segundo álbum, "Shine On Brightly", foi lançado em set/68. O destaque era a faixa épica "In Held 'Twas in I" de 18 minutos (que rivalizava em qualquer coisa do The Nice ou do The Moody Blues, e os superava), e o disco todo é hoje considerado um dos primeiros exemplos do Rock Progressivo. Contendo canções que remetiam ao final de 67, passagens psicodélicas e muita erudição (e virtuosismo), serviu para demonstrar que eles não eram uma banda pré-fabricada vazia e ampliou o conceito de Rock Progressivo (expressão até então utilizada para o que era moderno), ainda que mantivesse muito das raízes anteriores. "Skip Softly" (por todas as pirotecnias no piano e pelo ataque de guitarra bluesy e cheia de energia de Trower), "Wish Me Well" (outro veículo perfeito para virtuosismo de guitarra) e "Magdalene" (nostalgia embalada pelo órgão) eram outros destaques. O álbum conseguiu o nº. 24 nos EUA, mas não pontuou na Inglaterra. No mês seguinte, eles tocaram no Miami Pop Festival para 100 mil pessoas (junto com Chuck Berry, Canned Heat, Fleetwood Mac e Turtles, entre outros).
Em mar/69, David Knights e Matthew Fisher deixaram a banda após o término da gravação do terceiro álbum, "A Salty Dog", de jun/69. Eles preferiram o ramo de empresariamento e produção à tocar numa banda. Entretanto, foi aqui onde eles conseguiram mostrar quão seus talentos poderiam varrer espectros musicais: do Blues ao R&B, da psicodelia ao erudito. Ao contrário da estreia gravada apressadamente e do segundo disco feito para aproveitar a onda de sucesso, "A Salty Dog" foi gravado com calma e tempo, dando à banda a chance de desenvolver completamente suas ideias. A faixa-título, por exemplo, é uma das melhores canções que o Procol Harum fez e uma das melhores de todo o Rock Progressivo, um exemplo perfeito em cinco minutos de letras e música combinando para formarem juntos uma peça de performance ao mesmo tempo ousada e sútil. "Juicy John Pink" era outra faixa soberba no estilo Country-Blues (antes da 2ª Guerra Mundial), enquanto "Crucifiction Lane" era Soul Music no matador estilo de Otis Redding e "Pilgrim's Progress" trazia um trabalho virtuoso nos teclados. Os temas eram bem náuticos (a própria capa era cópia de uma famoso pacote de cigarros), demonstrando uma guinada para longe das letras outrora totalmente obscuras. Uso de orquestra, produção de Matthew Fisher (que canta em 3 faixas) e Robin Trower (que canta em uma) começando a mover-se numa direção diferente (demonstrando que as tensões já existiam) marcaram também esse trabalho, considerado o melhor da banda (ao combinar a energia blueseira e influências eruditas em escala maior). O disco alcançou o nº. 27 nas paradas britânicas e o nº. 32 nos EUA. Chris Copping (baixista) entrou no lugar de Knights (recriando a line-up dos Paramounts). Outra turnê pelos EUA aconteceu e o Procol Harum foi tornando-se uma popular banda na seara do Rock Progressivo, capaz de atingir um tipo de ouvinte que não tinha paciência com artistas como Emerson, Lake & Palmer ou King Crimson. O estilo chamativo de Robin Trower passou a fazer dele a estrela da banda, tanto quanto o cantor/pianista Gary Brooker (passando a ser considerado do mesmo nível de Alvin Lee e outros heróis da guitarra do final dos anos 60/início dos 70). O órgão majestoso, de igreja (como se retirado de algum culto numa catedral vitoriana do século 19), era outro componente fundamental do som da banda, junto com a central guitarra blueseira de Trower e as letras não usuais, estranhas, sombrias de Reid e a voz de Brooker. Após a saída de Fisher, o grupo seguiria uma linha de Rock mais direto, ainda que Trower se mantivesse com a atração principal entre os fãs. "Home", o próximo álbum, foi lançado em jun/70, ascendendo ao nº. 34 nos EUA e ao nº 49 na Inglaterra. O trabalho mais Hard Rock deles, puxado pelos soberbos vocais de Gary Brooker e principalmente pela arrasadora guitarra de Robin Trower (sem contar B.J. Wilson incorporando Ginger Baker em certos momentos), também era bem dividido unindo uma faceta pelo R'n'R direto ("Still There'll Be More", "Whisky Train") com outra mais dramática, tensa e artística ("Nothing That I Didn't Know", "Barnyard Story"). Copping tocou órgão (no lugar de Fisher) e isto fez o som ficar mais fino, enxuto, exceto na faixa "Whaling Stories" com Trower detonando tudo em sua guitarra (uma espécie de Robert Fripp em seus momentos mais pesados). Este disco marcou o fim do contrato com o selo Regal Zonophone (da EMI) e logo eles migrariam para a Chrysalis, na Inglaterra.

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