quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Os "Acid Tests" geraram diplomas

Um diploma de graduação é algo para se orgulhar, um marco na vida, um pedaço de papel muitas vezes caro de conseguir embora não garanta mais, como no passado, um bom emprego ou um bom futuro. Pelo menos, fica como uma lembrança tangível de todo aquele esforço colocado e do dinheiro investido. Raramente, no entanto, o diploma em si tem real valor em dinheiro, a menos que se trate de testemunho de sua graduação num "Acid Test". ré-ré-ré. Taí algo para se orgulhar! Em 2012, um raro diploma concedido a alguém chamado "Mountain Girl" foi a leilão em San Francisco, CA, e foi vendido por mais de 24 mil dólares. É mole?
Esse diploma é interessantíssimo por duas razões. Primeiro, por causa dessa tal "Mountain Girl". Nascida Carolyn Adams, em 6/mai/1946, ela foi uma das fundadoras do "Merry Prankster" (grupo de seguidores do escritor Ken Kesey, fundado em 1964, que viviam em comunidade em casas de Kesey na Califórnia e no Oregon. Ficaram muito conhecidos por causa da longa viagem que fizeram naquele verão, atravessando os EUA num ônibus escolar pintado psicodelicamente - chamado "Further" - e organizando festas e distribuindo LSD). Esse grupo acabou se encontrando com expoentes culturais e pessoas influentes da época e meio que anteciparam posturas e pensamentos dos hippies (renúncia à vida social normal, que eles chamavam de "poder estabelecido", comportamentos naturebas, paz e amor, adesão ao ambientalismo, emancipação sexual, modo de vida comunitário, adesão à religiões orientais, vida nômade, desacordo com valores tradicionais etc.).
O grande jornalista Tom Wolfe escreveu o livro "The Electric Kool-Aid Acid Test", em 1968, talvez o mais popular do estilo chamado "new journalism", relatando as experiências de Ken Kesey e seu grupo. Entre os "Merry Prankster" mais conhecidos estavam o melhor amigo de Kesey, Ken Babbs, a garota citada acima, Carolyn Garcia, Lee Quarnstrom e Neal Cassady. Stewart Brand, Paul Foster, Dale Kesey (seu primo), George Walker, a banda "The Warlocks" (depois conhecida como "Grateful Dead"), Del Close (responsável pela iluminação dos shows do Grateful Dead), Wavy Gravy, Paul Krassner e os escritores Ed McClanahan e Gurney Norman também participaram do grupo em graus variados. Toda essa aventura dos "Merry Pranksters" (trad.: felizes brincalhões) foi também documentada por um de seus membros, Lee Quarnstrom, em seu livro de memórias "When I Was a Dynamiter". Carolyn Adams, a "Mountain Girl", teve uma filha com Kesey e, mais tarde, se casou com Jerry Garcia (guitarrista do Grateful Dead), com quem teve outras duas filhas. O segundo motivo é que o diploma acima também se tornou uma raridade porque foi criado pelo cartunista (e "Merry Prankster") Paul Foster e só foi entregue a um restrito grupo de pessoas pelo herói da Beat Generation, Neal Cassady.
Qualquer um que já leu o livro de Tom Wolfe ou basicamente conheça um pouco sobre a história do movimento de contracultura nos EUA sabe que os "Acid Tests" eram festas selvagens movidas a LSD que aconteceram a partir do rancho de Ken Kesey em La Honda, CA. A tal "cerimônia de graduação" foi originalmente marcada para acontecer na noite de Halloween de 1966, no Winterland, de Bill Graham, em SF, CA, noite essa em que o Grateful Dead era a atração principal. Mas o evento foi cancelado quando Graham descobriu o plano de Kesey de aplicar uma dose em cada pessoa que lá pisasse naquela noite, ou pelo sistema de abastecimento d'água ou revestindo todas as superfícies do salão com LSD. É mole? O Grateful Dead acabou fazendo outro show no California Hall, no qual a graduação acabou acontecendo. E olha o que eu acabo de encontrar no YouTube (onde mais?): imagens da cerimônia de graduação no "Acid Test", em 66. Dá até para ver os diplomas sendo entregues por Neal Cassady. Duca!

Um comentário:

  1. Simplesmente Duca Total essa história. Não sabia do "diploma"...kkk.
    Os acid tests são parte importante da história da interseção da beat generation com a emergente cena rock, em especial a psicodelia da costa oeste americana. O processo derivou dos estudos que o psicólogo Timothy Leary fazia em suas pesquisas sobre os benefícios terapêuticos com a droga recém descoberta, na Universidade de Harvard. Parte do famoso ônibus dirigido por Neal Cassady estava naquele Museu Beat que fomos em San Francisco, Lembra? Além de várias fotos dele inteiro. Uma cópia dele também está no museu de Woodstock que fui este ano em Bethel, perto de NY, ocasião em que inclusive pude embarcar nele.

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