domingo, 8 de outubro de 2017

Grandes discos do Heavy: Watain - "Sworn To The Dark" (2007)

O "Watain" surgiu em Uppsala, Suécia (70 Km ao norte de Estocolmo e quarta maior cidade do país, sendo um importante centro universitário), em 1998. O nome foi tirado de uma gravação inicial da banda "Von", considerada a primeira banda norte-americana de Black Metal e que esteve ativa entre 87-92.
Em fev/98, surgiu um cassete intitulado "Go Fuck Your Jewish 'God'". Quando todos os instrumentos surgiam ao mesmo tempo, o som virava uma maçaroca e eles se tornavam indistinguíveis. Eram cinco faixas, entre elas um cover para "Unholy Black Metal", do Darkthrone. Pessimamente gravado, um caos inaudível e horrível. Quem eram os músicos? Apenas letras os identificavam ("H" drums; "C" guitars; "E" bass). Em fev/99, surgiu outro cassete "Black Metal Sacrifice", agora contendo uma gravação ao vivo. Foi onde deu para conhecer o nome dos músicos: "E" era Erik Danielsson (vocais e baixo), "C" era C. Blom (guitarras) e "H" era Nils Håkan Jonsson (bateria). Tratava-se de um show junto com o Malign e o Dark Funeral, organizado pelo Watain e pela Grim Rune Productions. Estas fitas circularam muito restritamente, mais entre o pessoal frequentador do underground metálico.
Em out/99, a banda lançou o 7" "The Essence Of Black Purity", este sim considerado o primeiro lançamento oficial, porém limitado a 300 cópias. Nas guitarras, surgiu "P" (Pelle Martin Forsberg). Eram apenas duas faixas, mas que entraram para a história. "On Horns Impaled" com um produção gelada, hostil, totalmente Black Metal. "The Essence Of Black Purity" trouxe um dos melhores riffs da banda, misturando o maligno e melodia e foi a canção que chamou muita atenção para a banda. Com ótima resposta no circuitos do Metal, o "Watain" ganhou credibilidade. Em dez/2000, surgiu o álbum de estreia, "Rabid Death's Curse", pelo selo Drakkar Productions. Único que eles gravariam com os dois guitarristas (já que dali para frente eles se tornariam um trio com "P" nas guitarras), o disco tornou-se um clássico. Com uma produção rústica e som embolado (ingredientes típicos do Black Metal escandinavo), na época, pareceu um xérox intencionalmente tosco de suas inspirações (Bathory e Mayhem). Era retrato de uma banda ainda construindo seu som, exorcizando débitos derivativos e ocasionalmente criando rascunhos promissores. A melhor parte do disco era aquelas faixas com melodias circulares e agourentas como em "The Limb Crucifiks", "Life Dethroned" e "Walls Of Life Ruptured". Nesse ponto, eles ainda não haviam atravessado a linha entre a simples reciclagem e o novo, mas, em certos momentos, conseguiam promissoras louvações ao Black Metal
Já reduzidos a trio, o Watain lançou novo cassete, "The Ritual Macabre", limitado a 666 cópias (pelo selo Sacrilegious Warfare Productions) contendo um show ao vivo. Foi seguindo em fev/2001 por um "split EP" junto com a banda Diabolicum. "The Misanthropic Ceremonies" saiu pela Spikekult Rekords no formato vinil 7" e foi limitado a 300 cópias: um esforço para divulgação do trabalho de ambas bandas. No lado B (do Watain), a faixa "My Fists Are Him" era diferente. Ao invés da atmosfera escura, diabólica, espessa dos lançamentos anteriores, esta canção era menos deprê, a produção era boa, som claro, permitindo percepção dos instrumentos. Havia um solo bem thrashy mais para o final quando as coisas aceleravam. 
Uma fita demo pelo selo Blazing Records surgiu em 2002 (ficou conhecida como "Promo 2002" e continha 5 faixas repetidas). Um outro "split EP" com a banda Malign foi planejado, mas não chegou a ser lançado. O Watain excursionou pela Europa (com o Unpure) no início de 2002 e, na sequência, voltaram-se ao estúdio. O segundo álbum, "Casus Luciferi", de nov/2003, foi responsável por grande passo à frente na carreira deles. Cristalizou o som que elevaria a banda ao altar-mor global do Black Metal (junto com concertos famosos pelo rituais satanistas/ateístas que envolviam pirotecnia/fogo, velas, carcaças de bichos verdadeiros e distribuição de sangue animal ao público presente). Mantendo a base "sueca" em seu som (presente em todos os esforços anteriores) não menos diabólica (pense Dissection, Marduk e Dark Funeral), faixas estripadoras como "Black Salvation", "Opus Dei (The Morbid Angel)" e "The Golden Horns Of Darash" decapitavam sem dó os ouvintes (tal qual uma guilhotina sonora) numa música mortalmente negra e perturbadora. A faixa de abertura, "Devil's Blood", talvez a mais radical, ao lado de "From The Pulpits Of Abomination", estabelecia o tom do assalto sonoro em meio à turbulentos blastbeats, baixo urrador, riffs de guitarra feito motosserra, melodias em espirais e a cereja negra do bolo: chocantes letras que transcendiam clichês maléficos do gênero. Um álbum que colocou fãs de joelhos, mesmo que a velocidade e a intensidade não fosse a usual. A meditativa "I Am The Earth", a épica faixa-título, os claros anúncios do Armageddon, poder/majestade/glória em nome do melhor Black Metal atestavam o merecimento da ascensão da banda. As letras eram feitas por Tore Stjerna (do Necromorbus Studios), que também produziria todos os álbuns seguintes e tocava guitarra nos shows. A "Stellar Descension Infernal Tour" englobou a Europa e eles se apresentaram em mais de 18 países. Noutros dois meses, viajaram com o Dissection na "Rebirth Of Dissection Tour", em 2004. Em 2006, após um show em que fizeram saudações nazistas e usaram camisetas do movimento NSBM - Nazi Social Black Metal - a banda foi acusada de ser de ultra direita. Questionados, explicaram tratar-se de uma piada voltada às pessoas incapazes de compreender a perversão/insanidade do Black Metal. Segundo Danielsson, as pessoas tentavam limitá-los ao modelo da sociedade, o que eles se lixavam. Mandando todos sifu, ele proclamou: "o Black Metal não tem nada a ver com este mundo como conhecemos". "Sworn To The Dark", de fev/2007, o terceiro álbum, colocou estes suecos em posição de desafiarem a supremacia norueguesa na seara Black Metal (de nomes como Mayhem, Emperor, Darkthrone, Enslaved etc.). Com guitarras zumbindo feito pelo demônio Belzebu, o violento ataque do Watain já apertava crânios na faixa inicial, "Legions Of The Black Light". Gradualmente, inesperadas camadas de riqueza sonora eram reveladas. Quem poderia imaginar o tenebroso/impenetrável Black Metal com ganchos contagiantes? Faixas como "Satan's Hunger", "Stellarvore", a faixa-título e a simplesmente colossal "Storm Of The Antichrist" sem esforço alcançavam perfeito balanço entre a selvageria e a execução direta, em arranjos espiralantes e orientação progressiva. Além disso, ficava claro a apreciação da banda por diferentes formas de Heavy Metal. Uau! Em "Underneath The Cenotaph" havia velocidade típica do Thrash Metal. Na abertura de "The Serpent's Chalice" havia riffs densos e magnificentes na linha do conterrâneo/influente Opeth. Em "The Light That Burns The Sun" havia linha de baixo trotante no melhor estilo Iron Maiden. Alguns interlúdios atmosféricos altamente tenebrosos e tal, mas o balanceamento entre o mais radical/extremo/misantrópico Black Metal e tais "acessibilidades" levou o disco a marcar época e os fez excursionar com o Celtic Frost, Kreator e Legion Of The Damned

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